
Gears of War, ou apenas Gears como é agora chamado, é uma das mais conhecidas séries na família de exclusivos da Xbox. E depois do excelente Gears 5, lançado no ano passado, que deu um novo rumo à história eterna na guerra entre humanos e os temíveis Locust, a The Coalition tem um novo desafio para os fãs: Gears Tactics.
Trata-se de um jogo de estratégia por turnos, naquela que é a tradução livre do universo Gears para um género onde Xcom é rei. E esta empreitada foi encomendada à Splash Damage, um estúdio experiente em jogos de ação, mas sem qualquer título deste género no seu catálogo. A ligação do estúdio à série prendeu-se na produção da componente multijogador de Gears of War 4 e Gears 5. Portanto, Gears Tactics tem tudo para correr mal…
Mas não, para quem está habituado à componente tática dos jogos de estratégia por turnos, e ainda conhecedores da saga de Marcus Fenix, não terá qualquer problema nesta fusão. O jogo apresenta valores de produção excelentes, apenas trocando a perspetiva dos combates, para uma visão isométrica, ainda que possam rodar livremente a câmara. E claro, o ritmo de jogo de ação frenética habitual é agora mais calmo, na gestão bem cuidada das unidades no campo de batalha, tal como mandam as regras.

O primeiro contacto com o jogo mostra que o estúdio traduziu muito bem alguns dos momentos viscerais da série principal para este novo formato: as execuções, as classes das personagens, todo o arsenal, e claro os inimigos que tão bem conhecemos. Há mesmo que lidar contra os famoso Emergency Holes, os buracos que se abrem no solo e de onde saem os inimigos, obrigando a fechá-los rapidamente com granadas, para que não surjam reforços. E já para não falar no confronto com os gigantescos bosses. Mas já lá vamos!
Em termos de universo, a história funciona como uma prequela do primeiro capítulo da saga e acreditem, mexe bastante com todo o cânone do universo, que deixarei livre de spoilers. O jogador assume o papel de Gabriel Diaz, conhecido pelos escaparates militares como Gabe. Sim, o sobrenome Diaz não é coincidência e trata-se do pai de Kait Diaz, a protagonista de Gears 5. Depois de sofrer mais um massacre dos Locust, o militar sobrevivente tem o objetivo de reunir um grupo de soldados para executar variadas missões. O resto terão de descobrir…
A sua jornada leva-o a investigar um dos mistérios da trama, o cientista Locust que está a fabricar alguns dos monstros clássicos, como os Corpsere e Brumaks. Tal como a série principal, o jogo divide-se em diferentes actos e capítulos, oferecendo algumas sequências narrativas ao bom estilo da saga.
A aventura remete-nos para uma gestão de soldados, tal com é habitual no género. De um lado temos algumas personagens principais, os heróis, que tem como regra nunca poderem morrer nas missões. Por outro lado, soldados que podemos recrutar, ou mesmo encontrar durante as missões aprisionados, que podem depois ser adicionados à equipa.
Esse mote encaixa-se no formato de gestão de soldados, como é habitual no género, em que de um lado temos os heróis e personagens principais da trama, do outro aqueles que podemos contratar, mas que se forem mortos em combate são perdidos para sempre. Estas unidades não são de menosprezar, porque apesar de descartáveis, têm habilidades únicas e são muitas vezes mais eficazes que os heróis. Até porque certas missões secundárias obriga mesmo a dar descanso a algumas personagens, para obrigar a escolher outras.

Ainda antes de entrarem no campo de batalha, um dos pontos fortes do jogo é a variedade de caracterização das personagens. Há uma árvore de talentos onde podem gastar os pontos amealhados quando sobem de nível, e mesmo nesta há quatro direções para especializar a sua própria classe, seja de sniper, um heavy ou um soldado, por exemplo. No caso do protagonista é um healer. Nesse caso um Heavy, por exemplo, pode especializar-se em artilharia para melhorar os bónus de dano crítico, ou Defender, para melhorar a sua pontaria em modo overwatch.
Já no campo de batalha, o primeiro contacto em si é bastante familiar para os jogos do género. Em cada turno podem mover as personagens pelo campo, procurarem cobertura no bom estilo de Gears, e convém deixar um ponto disponível para colocar em overwatch. Este modo cria um cone de visão para os soldados responderam aos movimentos dos inimigos no respetivo turno, se estes pisarem a área de vigilância levam um disparo praticamente 100% certeiro, para além de interromper algumas das suas ações.
Há muita estratégia no combate e gostei de poder optar entre gastar todos os pontos nos inimigos, considerando que embora não se gaste pontos a mudar de arma, recarregar sim. Os pontos base de ação por turno são três, pelo que podem combinar entre percorrer boas distâncias de posicionamento, ou caminhar, carregar a arma e meter em overwatch, ou simplesmente colocarem-se num local e manterem três tiros.
A minha tática foi sempre de cautela. Posicionar e muitas vezes não atacar, fazer cruzamento de personagens a cobrir todos os ângulos e esperar pelos inimigos. Consegue-se resultados muito bons de forma passiva, ou seja, eliminar inimigos no seu próprio turno.

É preciso gerir medikits, habilidades especiais, e mesmo as granadas demoram três turnos de cooldown para voltar a usar. E estas são essenciais para eliminar grupos de inimigos, assim como os Emergency Holes, que abrem e saem muitos inimigos. Os snipers são bastante eficientes à distância, mas lá está, equipados com peças lendárias com muito dano crítico significa que podem dar uns bons headshots com apenas um tiro.
Infelizmente as missões não são muito variadas. E certos capítulos obriga a fazer missões secundárias, essas sim repetem-se entre três ou quatro formatos, desde salvar companheiros aprisionados ou manter a posição para ter acesso a equipamento. Há ainda caixas espalhadas pelos mapas que devem ser recolhidas para obter peças raras de equipamento. Numa dessas missões temos de avançar no terreno enquanto somos bombardeados a cada turno.
No final de cada capítulo há um confronto com um gigantesco boss e valem bem a pena. Estes são gigantescos em escala, têm ataques que devemos evitar, enquanto lidamos com outros inimigos. São combates longos e intensos, repletos de tática, sendo provavelmente um dos melhores aspetos do jogo. O primeiro boss, por exemplo, é o gigantesco Brumak, que dispara mísseis, mas também utiliza metralhadoras nas mãos. É preciso desativá-las, mas disparar para os contentores nas suas costas. Existem diferentes fases de combate, com as mecânicas, que no fundo são puzzles, a complicarem ainda mais.
No geral, Gears Tactics é uma boa surpresa, na transformação de um universo tão conhecido, mas uma mudança radical no género que pode não agradar aos fãs. Um jogador que gosta de jogos de ação na terceira pessoa, não tem de gostar necessariamente de jogos táticos por turnos. Mas este título demonstra bons valores de produção, uma narrativa que se encaixa bem no universo e tem uma grande variação de estratégias. Necessitava de um pouco mais de variedade de missões e sobretudo, não obrigar a jogar as secundárias para avançar na história.













