O título, ou a pergunta ali colocada é uma espécie de profecia auto-realizada. A resposta é tão simples que este artigo poderia ter apenas uma palavra e estava resolvida a questão. Um rotundo “Sim!” e está arrumada a conversa a um canto. Sim, podemos conhecer uma série sem entrar pelo seu ramo principal. Está respondida a questão, vamos todos para casa mais felizes mas um pouco mais inócuos.

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Quem me conhece mais ou menos a fundo sabe que sou um whovian inveterado, completamente viciado em tudo o que rodeia a decana série da BBC. Na última Meo XL Party até andei por lá vestido de Tenth Doctor, como podem ver nesta entrevista que dei aos nossos amigos Critic Play. Mas a verdade é que o meu primeiro contacto com a série acabou por ser com o seu spinoff galês, Torchwood, produzido por Russel T. Davies e protagonizado por John Barrowman no papel do eterno Capitão Jack Harkness. O mergulho e consequente adição a Doctor Who veio pouco tempo depois e como consequência de Torchwood. Se me sinto menos fã por isso? Nada. Aliás, é perfeitamente legítimo e natural conhecer e a apaixonar-se por uma série tendo como porta de entrada o seu spinoff, especialmente se esse mesmo spinoff tiver qualidade. Estranho é apaixonar-se por Star Wars ao ver primeiro os filmes dos Ewoks. Nesse caso não é legítimo apaixonar-se por um spinoff, é apenas parvo.

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Na semana passada devorei com sofreguidão Infamous Second Son: First Light. Nunca toquei em nenhum Infamous e o meu contacto com a série não poderia ser mais virgem. Nunca tinha mergulhado em nenhum dos jogos da série produzida pelos Sucker Punch Productions por preconceito. É que depois da massiva desilusão que tive ao adquirir (e jogar) ambos os Prototype, havia algo que me segurava na aposta em Infamous. Prototype é over-the-top, mas à medida que ia jogando soava-me demasiado over-the top, se é que tal coisa existe. Na verdade também não achamos que algo é excessivamente kitsch, mas havia uma falta de gosto e de alma no exagero de Prototype que me contagiou a opinião sobre Infamous. Felizmente que decidi apostar neste spinoff e deixar-me conduzir pelos gestos luminosos da Fetch.

É verdade que podemos mergulhar numa série pelo seu spinoff, e esta questão não só é um lugar comum como é um dado adquirido. E é quase falacioso referir que “entrei” em Infamous pelo Second Son: First Light, apenas porque ainda não comecei a jogar os três jogos da espinha dorsal do jogo. Second Son: First Light é algo repetitivo, pouco surpreendente, mas é ultra-competente na mescla entre o que hipoteticamente seriam seres super-poderosos numa cidade contemporânea. E é sobretudo muito divertido de jogar, e rapidamente activou o meu sentimento de necessidade de completar todos os desafios presentes na cidade. Não sei se Infamous (a série principal) é tão divertido quanto este spinoff porque ainda não o comecei a jogar, mas basta-me ouvir algumas pessoas cuja opinião valorizo para perceber que estará à minha espera algo ainda melhor do que este spinoff.

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Todos vivemos com uma péssima imagem a priori dos spinoffs: é verdade que são, usualmente, formas dos estúdios e dos criadores estenderem a ordenha dos seus produtos, mas eles também podem servir de porta de entrada para os seus universos. Que o digam a Fetch, que o diga o Capitão Jack Harkness. Se o disserem os Ewoks então a conversa fica por aqui, e dou por encerrada a nossa amizade e o respeito que nos une. Não é?