“Da Rússia com amor”, parece o nome dum site de noivas russas por encomenda. Bom… lamentamos desapontar! Esta rubrica tem como suposto objetivo falar sobre a computação no antigo Bloco de Leste. Muita gente tem a ideia que tudo do “lado de lá” são cópias de tudo o que se fazia no “lado dos bons”, o que em parte é verdade. Durante muitos anos a computação era vista como uma “ciência não socialista”, e este pensamento estava tão enraizado transversalmente na sociedade, que Shostakovich (um dos maiores compositores russos) foi acusado de não respeitar o “Realismo Socialista” nas suas obras… seja lá o que isso for…

Depois do atraso imposto pelo Estalinismo (atraso esse que nunca foi inteiramente recuperado), a antiga URSS viu-se forçada a ir buscar inspiração aos mais avançados países da velha Europa, tendo nessa altura surgido os clones de hardware feitos no Ocidente. Desses clones nasceu um marco na História dos videojogos: o Tetris.

Após a Segunda Guerra Mundial e com o nascer da Guerra Fria, o embargo comercial Americano e Europeu ao Bloco Soviético, provocou o isolamento de um dos maiores países do mundo. O Bloco Soviético, e sem dúvida os seus habitantes, passaram por muitas privações: a fome, a pobreza e a iliteracia atingiram a maior parte da população. Com elas veio também o medo constante de um Inverno Nuclear.

Com o medo generalizado, não tardou muito até uma ditadura militar se instalar. Do lado de lá da “cortina de ferro” a espionagem era a ordem do dia. Nada entrava e nada saía sem a devida autorização e conhecimento do Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti – KGB.

Para além da espionagem politica, militar e industrial, a espionagem tecnológica foi sem dúvida uma das mais proeminentes na CCCP.

Desde sempre os Soviéticos foram conhecidos pelo seu espírito inquebrável, inventivo e de improviso e, numa reação, ironicamente, muito típica portuguesa, resolveram adotar o ditado: – “quem não tem cão, caça com gato”!

No final da década de 70, com o aparecimento do processador Zylog Z80, a era dos microcomputadores começava a florescer. Se na Europa e nos Estados Unidos para um fabricante de computadores obter um Z80 era algo tão simples como ir a uma loja e comprar uma garrafa de leite, na União Soviética era algo quase impossível.

Mas como diz o ditado “a imitação é a maior forma de elogio” e este foi o mote seguido pela VEB Kombinat Mikroelektronik Erfurt – VEB, uma empresa de componentes eletrónicos sediada na República Democrática Alemã. Ninguém sabe exatamente como (ou talvez a história seja feita de detalhes que não convém saber), mas em 1977, apenas um ano após a comercialização do primeiro Z80 nos EUA, a VEB teve (misteriosamente) acesso a uma máscara do Z80 da Zylog e começou a produzir a sua própria versão do microprocessador.

Daí até à produção dos primeiros clones de microcomputadores, como o famoso Sinclair ZX Spectrum, pouco tempo se passou e este pequeno Z80 permitiu que a “Mãe-Rússia” tecnologicamente estagnada conseguisse finalmente andar. Tal como diria Armstrong, “foi um pequeno passo para o Homem”, mas sem dúvida alguma, um passo gigante para a União Soviética.

Com este pequeno artigo introdutório, quero, em colaboração com o João Castilho (um amigo nerd também ele um aficionado do Retro-Gaming… vá… sejamos precisos… retro-computing) contar-vos a historia da genialidade, inventividade e paixão soviética pelo Sinclair ZX Spectrum. Juntos, tentaremos explorar alguns dos seus muitos clones, com todas as suas idiossincrasias e aventuras. Vai ser uma Viagem no Tempo – para lá do muro de Berlim e da ditadura que mudou o curso da Humanidade.

Preparem a vossa Vodka favorita e juntem-se a nós nesta jornada!