Já lá vai algum tempo desde que escrevi a minha opinião inicial sobre Sea of Thieves, e apesar de não ter dado uma “nota” muito alta ao jogo, sempre achei que ele tinha potencial se fosse bem aproveitado pelos jogadores, aquela sandbox marítima gigante era como um parque de diversões imenso para quem tinha imaginação e vontade para criar as suas aventuras, tal e qual como quando éramos crianças e na nossa imaginação umas almofadas de sofá e uma vassoura no meio da sala podiam ser uma jangada nos rápidos mais velozes.

Meses depois continuo a voltar ocasionalmente aos mares daquelas pseudo-Caraíbas, para relaxar principalmente. Infelizmente a minha pouca disponibilidade e energia para jogar nas últimas semanas não me tem permitido fazê-lo como mais gosto, combinando um encontro virtual com o meu irmão no qual velejamos e exploramos ilhas em busca de nada em particular. Muitas vezes apenas velejamos e falamos sobre como vai a nossa vida porque os nossos horários pouco compatíveis de adultos não permitem tantos encontros como gostaríamos. Mesmo assim consegui ir jogando ocasionalmente e vendo gradualmente a evolução do jogo.

Uma das críticas maiores que Sea of Thieves recebeu das publicações no geral e também do público, foi que lhe faltava conteúdo. A minha crítica maior foi o facto de não ter regras e ser uma anarquia absoluta na qual existia uma grande parte da população com atitudes exageradamente agressivas que muitos justificavam pela falta de conteúdo. Cerca de 90% dos encontros eram confrontos entre várias embarcações, em especial galeões de 4 jogadores contra corvetas de 1 ou 2. Nos primórdios, e por mais que deteste o termo, existia um comportamento tóxico por parte da maior parte dos frequentadores dos servidores. De agressão pura e sem sentido no jogo, a insultos e outras parvoíces semelhantes como entrar em tripulações como random para sabotar tudo o que era feito, que ia de mandar todo o loot borda fora a rebentar barris de pólvora dentro do nosso barco para o afundar. Contudo a Rare, foi adaptando o jogo aos poucos, e com cada update existia algo que ia melhorando as atitudes da população, sendo uma das principais a capacidade de fechar a tripulação a amigos apenas, tendo em conta que anteriormente se eu abrisse um galeão com mais duas pessoas, uma terceira aleatória compunha o quarteto necessário. Agora podemos fechar as portas e estar apenas 3 num galeão até aparecer alguém que aceitemos como um dos nossos. Enquanto por um lado esta atitude vai contra a possível experiência social que os criadores queriam proporcionar, foi um mal necessário. Assim como a adição de bandeiras que podemos içar e mostrar as nossas intenções de jogo pelas suas cores, a branca implica que não estamos interessados em conflito directo, a preta que procuramos conflito, as coloridas que estamos em missão para uma das facções com a cor correspondente, etc. etc. etc…

As alterações técnicas foram o mínimo, e o que menos influência teve no jogo. Já há algum tempo que a Rare tem vindo a disponibilizar missões extra que de um modo ou outro beneficiam os jogadores que tenham atitudes mais benevolentes e procurem entreajudar-se, tendo sido a primeira Hungering Deep, na qual após uma treasure hunt que nos levava em busca de pistas por quase todo o mapa, tínhamos que enfrentar um tubarão gigante, mas para o invocar eram necessários pelo menos 5 jogadores. Tendo em conta que o máximo de uma tripulação são 4 membros, eramos sempre obrigados a trabalhar em conjunto com outra tripulação ou pelo menos um jogador a solo. Foi neste ponto que a agressividade cega começou aos poucos a desaparecer dos mares, continua a existir é claro, afinal este mundo está povoado por piratas mas agora é de uma forma diferente.

Eu gosto de velejar a solo, mas sempre que vejo um galeão atacar um barco mais pequeno independente da bandeira, ou outro galeão com uma bandeira branca hasteada, vou imediatamente ajudar. Este tipo de auxilio também já me foi prestado várias vezes. Outras missões foram aparecendo que permitiam a jogadores preferencialmente a solo se divertirem mas que também empurravam cooperação tal como Skeleton Thrones, estes pequenos toques para a cooperação divertida aliados ao abandono dos jogadores que nunca entenderam o que este jogo era na sua realidade e regressaram para os seus Fortnites e CS:GOs. A 31 de Julho foi lançado Cursed Sales, a primeira de várias expansões grátis que a Rare tem planeadas para o jogo e com ela a possibilidade de testar a sério o novo barco (Brigantine) e criar autenticas armadas para enfrentar os barcos de esqueletos que agora vagueiam os mares outrora povoados por jogadores apenas.

O José escreveu sobre o custo dos jogos inacabados no seu lançamento, algo que já foi debatido aqui e noutras publicações vezes sem conta, mas não consigo deixar de pensar se esse não foi o problema de Sea of Thieves, tal como foi o de No Man Sky (com o qual foi muitas vezes comparado) e alguns outros jogos que os estúdios de desenvolvimento são obrigados a publicar, seja por que razão for, sem estarem a 100%. Tenho a certeza que a crítica teria sido muito mais benevolente com a Rare se Sea of Thieves tivesse sido agora com o conteúdo The Cursed Sales. Ou até há umas semanas quando já estava com alguns ajustes.

Infelizmente a cultura de consumo actual obriga a esta atitude de lançamentos incompletos, porque por mais queixas que se façam os jogos continuam a ser comprados nessa forma e é algo que me deixa triste porque muitos ficam num limbo de possível pós produção que nunca é terminada. Mas fico contente com o estado actual de Sea of Thieves, a Rare está a transformá-lo no jogo que eu sempre vi nele, mas tal como a miúda dos óculos e macacão nas comédias românticas, levou um makeover e está a tornar-se a rapariga mais gira da escola náutica.