Tem sempre alguma piada entrar num jogo como número 3 no nome, sem saber absolutamente nada sobre ele ou a série em que ele se insere. Às vezes não faz diferença nenhuma pois apesar de partilharem mecânicas os enredos são isolados, noutros casos é importante jogar os primeiros para entender o seguimento da história, no que diz respeito a Crackdown 3 e apesar de ter passado parte dos últimos dias a jogá-lo… ainda não faço a mínima ideia. Se faz alguma ligação com jogos anteriores não percebi.

Mesmo antes de ter passado algumas horas em Crackdown 3, percebi que eu não era parte do seu público alvo. São coisas que aparecem com a experiência de muitas décadas a jogar, qual um sommelier que cheirando a rolha sabe imediatamente se vale a pena provar o vinho ou não. O resultado da prova é outra coisa, mas muitas vezes, apenas o odor e visualização da viscosidade do nectar no copo aponta logo para um tipo de apreciador especifico. Crackdown 3 tem o odor e viscosidade típicos da adolescência. Exala juventude com hormonas ao rubro nos primeiros minutos do vídeo introdutório pelo visual e linguagem quase ao nível dos livros de BD da Marvel nos anos 90 em que tudo era “extremo” e esse extremismo de linguagem e acção é continua por toda a experiência do jogo.

Sendo um jogo de acção puro, é nos pequenos factores que Crackdown 3 marca o seu território. Ou pelo menos tenta fazê-lo. O cerne do jogo cai no domínio do mapa, destruir operações dum sindicato criminoso (se o podemos chamar assim) para fazer com que os líderes de cada sector saiam do seu esconderijo para os podermos eliminar. Pouco a pouco vamos libertando a cidade e chegando cada vez mais perto do boss final. Um sistema já visto em vários jogos dos últimos anos, de Assassin’s Creed a Shadow of War. Crackdown 3 não tem o sistema Nemesis dos jogos da Warner Bros.mas tem um semelhante chamado Gangs Bite Back em que os nossos actos causam potenciais retaliações por parte dos bosses. Dá uma ideia de acção e consequência curiosa, e uma necessidade de cuidado nas nossas decisões porque essas retaliações podem ser feitas sem aviso, mas não chega para dar destaque suficiente ao jogo. Tal como outras features são uns nice to have, mas nada de crucial ou que faça cair o queixo do jogador pela originalidade da implementação.

O interesse primário de Crackdown 3 não está no seu enredo mas sim no seu meio ambiente onde supostamente tudo é destrutível. Podemos agarrar em qualquer objecto e atirá-lo contra os nossos inimigos (se tivermos força suficiente para isso) e tudo o resto é no mínimo quebrável, algo que mais uma vez aponta o jogo para um público mais juvenil ou agressivo. Existe muito pouco de táctico neste jogo sendo mais um run and gun num mundo 3D muito bem desenhado mas sem grande conteúdo além da total destruição de cenários, e em nós os jogadores podemos tomar controlo de qualquer veículo e usá-lo a nosso bel prazer. Mais uma vez: Tudo coisas interessantes mas sem muito interesse.

Crackdown 3 tem dois pontos altos que me vejo obrigado a mencionar, sendo o primeiro o sistema Skills for Kills que não é nada de novo em jogos modernos mas está bem aplicado a um jogo deste estilo. Ao matar adversários, e acreditem que há muitos para matar tanto humanos como robóticos e até combinações de ambos, recebemos skill points. Estes skill points que vão elevando as capacidades do nosso personagem são dados em relação à morte em questão. Ou seja, se usamos armas de fogo ganhamos mais pontos de upgrade na nossa skill relativa a isso, se usamos golpes físicos ganhamos mais pontos de força sendo recompensados automaticamente e adaptando o personagem ao nosso estilo de jogo. Algo simples mas agradável do pontos de vista de quem joga. Tudo o que me poupe tempo em menus é uma adição apreciada.

A segunda é a inclusão de Terry Crews como imagem e voz do agente “principal” de Crackdown 3. A escolha entre personagens é muita e é possível trocar a qualquer altura para tirar melhor proveito das capacidades de cada um, contudo nem que seja apenas pelo facto de ele estar na minha lista de “celebridades com quem gostaria de jantar porque parecem ser malta fixe” acabava por voltar sempre a ele. Cada vez mais vemos actores conceituados a entrar no mundo dos videojogos como voice actors ou mesmo cedendo a sua imagem. Escolhas como a de Terry Crews para este jogo mostra que as equipas de produção têm tido cuidado para associar o actor ao jogo em questão.

Crackdown 3 está disponível por compra directa para Xbox One e Microsoft Windows através da Windows Store a partir de dia 15 de Fevereiro de 2019 por €59.99 ou sem custos adicionais para assinantes do Game Pass na mesma data. Como disse no início, Crackdown 3 é um jogo com um público alvo específico mas é acessível a qualquer jogador, sem dúvida que vale a pena testar se tiverem oportunidade de o fazer através do Game Pass, mas a compra do jogo a preço de lançamento será apenas recomendada a fãs da série.