Tenho saudades de jogar Armored Core. Muito aconteceu para me recordar hoje como cheguei a ele na PlayStation original, mas a memória física não trai as dores na adolescência em tentar quebrar a dificuldade do jogo. Para aquela altura, era uma dificuldade normal, assumia-se uma certa vitória no entendimento de padrões e no virtuosismo do cérebro muscular. Quanto mais não seja porque houve algumas gerações que cresceram nos videojogos sem aquela mão dos tutoriais a segurar. Aprendia-se andando para a frente.

Armored Core é uma série da FromSoftware (que irá regressar em breve) e, ao começar Elden Ring, lembrei por diversas vezes dela. Pela ideia de liberdade, pela forma num jogo de 1997 se consegue encontrar as raízes para algo feito 25 anos depois: a ideia de liberdade e de que o perigo espreita por todo o lado. E que, apesar de algumas concessões, o jogador aprende por existir no mundo. A grande diferença? Em Elden Ring os inimigos não nos afunilam para um caminho. Temos de o criar.

Há outra grande diferença. Perde-se muito tempo a configurar a personagem em Elden Ring. Primeiro há a categoria, a pressão do que conhecemos de nós próprios e aquilo que hoje sabemos dos jogos da FromSoftware mete sempre aquele bichinho atrás da orelha a segregar: estaremos a fazer a melhor escolha? Não há melhor escolha, há uma escolha, mas digamos que se escolherem um Samurai, qualquer coisa que farão a seguir não se irá notar muito no resultado final. Digamos que após jogar com ele durante alguns dias, desisti e voltei a criar outro. Tempo perdido? Nem por isso.

Impossível de saber o que dizem os olhos deste Samurai.

A introdução ao mundo de Elden Ring é vaga e fará sentido à medida que se avança no terreno. Começamos o jogo numa espécie de masmorra e, aqui, surge o primeiro desafio. Mais de uma década após Demon’s Souls, os Dark Souls, Bloodborne e Sekiro, há uma estranha sensação de medo. Fica-se sempre à coca de algo que nos pode matar, por menos ameaçadora que seja a situação. Os tons escuros e o enclausuramento não ajudam e, quando se abrem as primeiras portas para o exterior, há uma ligeira sensação de que aquele mundo está pronto para nos derrotar.

Não há que ser medricas. Elden Ring é bastante meigo com o jogador até se chegar ao mundo aberto das Lands Between. Tão meigo que é bem possível que o jogador mais desprevenido falhe o tutorial do jogo, seja pelo latente medo de tentar descobrir o que há ali naquele buraco, ou pelo desejo de passar aquela porta que nos levará para as Lands Between. A falha é desculpável, mas para quem nunca jogou um dos Souls ou Bloodborne, é essencial dar aquele salto para o perigo. As boas notícias é que é um tutorial facílimo e, no carro de morte, não há que sentir embaraço, afinal é um momento de aprendizagem.

Um em que não se sente realmente que o jogo nos está a dar mão: afinal, é muito fácil falhar esse momento, com ou sem intenção. Contudo, é o jogo a dar-nos a mão, apesar das formas com que Elden Ring nos convida a descobrir o mundo, não deixa que esse momento típico de introdução falte. Fá-lo à Super Mario Bros. (aqueles primeiros cinco segundos que dizem tudo o que se precisa de saber) à sua escala: demora cerca de 5-10 minutos a completar-se. Uma vez feito, pode-se abrir as portas para as Lands Between.

Onde a luz parece querer dizer de que já se pode ter menos medo. Já não estamos enfiados em corredores escuros, com ameaças que podem estar sempre à espreita. Há um mundo enorme onde todos os sítios parecem alcançáveis, uma árvore que brilha que grita “aqui não há mauzões”. Alguns passos em frente e somos dilacerados por um cavaleiro anormalmente grande a cavalo. Bem-vindos às Lands Between, a partir de agora já não vai ser fácil.

Ora, aqui vamos nós.