Um Chicken Nugget a Gunspell

Misturar a casualidade de um match 3 com a (esperada) profundidade de um RPG não é coisa nova. Puzzle Quest já o fazia de forma brilhante e até o dungeon crawling de 100000 conseguia adaptar o tile-matching a um género que à primeira vista é excessivamente distante para que funcionasse. Gunspell, a par dos seus congéneres, poderá ser a forma mais simples de apresentarmos os RPGs por turnos às tias, e quiçá, após dezenas de horas de jogo as comecemos a ver a comprarem “Final Fantasies” e demais JRPGs. Os puzzle RPG têm uma agenda escondida: a de tornar os jantares de Natal em família bem mais divertidos, com avós e netos a discutirem estatísticas de personagens, side quests, itens e boss fights.

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Em todos os aspectos se percebe que este Gunspell foi lançado primeiro para o mercado mobile e só posteriormente adaptado para PC. Os seus controlos simples apelam ao toque (não de uma forma sexualizada como é óbvio) e a sua estratégia de multi-moeda denota logo o seu pendor cheio de in-app purchases. É aliás esta faceta que sempre critiquei no mercado móvel e que me parece que deveria ter sido retirado da versão final para PC: não esquecendo que neste caso o jogo é comprado por 12,99 e não inclui qualquer tipo de pagamentos adicionais.

Gunspell é, na prática, o Puzzle Quest num setting contemporâneo. Com um ambiente próximo de World of Darkness, a magia e as criaturas místicas existem no nosso mundo, e pouco há que um tiro certeiro de um revólver não resolva. Um lobisomem? Deixa-me aqui alinhar três caveiras que já vais ver se não te tiramos as pulgas ao tiro. Um kobold que se perdeu ali na esquina do Borderlands? Alinham-se umas runas vermelhas e activa-se a moto-serra. E enviamos-te para Pandora em pedaços.

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Não posso dizer que investi tempo a dar atenção à história, mas ela existe no  background do que realmente interessa: o match 3. A magia do jogo reside no espírito altamente casual da componente match 3, e estará a mentir quem disser que joga Gunspell pela profundidade narrativa. O enredo é no fundo a pequena argamassa que justifica a exploração que temos no mapa e a sucessão de combates que vamos disputando.

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Gunspell é tão viciante quanto se possa imaginar: rapidamente somos absorvidos na ideia de que vamos “fazer só mais um combate” e quando percebemos já se passaram algumas horas. Sofre de dois problemas distintos: o primeiro, de se assemelhar em excesso a um Puzzle Quest com fantasia contemporânea, e por outro lado pela sua adaptação ao PC trazer ainda alguns resquícios do seu lançamento original, as plataformas mobile. A sua casualidade poderá trazer alguma repetição, o que nos aconselha de imediato a ser algo para se “ir jogando” e não para sessões contínuas de jogo. Ou então convidar as tias para umas batalhas multijogador e perceber se os dedos treinados no Farmville (os delas) são páreo para a nossa experiência. Talvez até fiquemos surpreendidos.