Há uma palavra que entrou no palavreado comum dos videojogos. Survival. Repitam. “Survival”. Não, assim com esse sotaque inglês de Bristol não… aportuguesem a coisa. “servaival”. Saboreiem a palavra. Deixem-na enrolar-se na vossa língua como se de chocolate se tratasse. Dêem-lhe uma lânguida lambidela com o meu Porto em mente, e transformem-na num gelado de “servaibal”. Apreciem.

Mãe, estou ali!

Sobrevivência. Esse conceito tão vago que alude à decisão primitiva de matar ou morrer. Matar a fome ou morrer à fome. Matar um predador ou ser morto por ele. E, como nisto da vida, por vezes menos quer dizer mais, se a sobreviver tirarmos umas letras, ficamos a ganhar algo mais… e passamos a viver. Escalando a íngreme pirâmide de Maslow, saltamos das necessidades básicas e prementes e subimos… deixamos de lado as necessidades fisiológicas e passamos para as físicas, emocionais e intelectuais. Faz parte da condição humana. É uma regra transversal a todo o ser humano. O esfaimado não quer os bens materiais ou o sentimento de realização, como a história de Rei Midas nos conta. E a mesma história nos conta que, quem chega a determinado patamar elevado, toma o nível base da pirâmide como um dado adquirido.

Motociclando por aí…

A vida é, portanto, feita de uma complexa ligação entre o sobreviver e o viver em todas as suas expressões. Empyrion – Galactic Survival afirma no seu título tratar-se de um jogo de sobrevivência. O conceito adquiriu uma conotação que nem sempre é muito benéfica. As pazadas de títulos “servaibal” em que o conceito de sobrevivência não se deixa substituir pelo da vivência edificante para isso contribuíram. É para sobreviver? Amigos, comi, bebi e acabei de fertilizar aquele castanheiro. Estou feito. A minha sobrevivência está, para as próximas horas, assegurada a não ser que bicho mau surja e bicho mau tente pegar.

Um suspiro, pega-se nas trouxas e deambula-se. Vagueia-se. Calcorreia-se. Explora-se e passeia-se. Olha um pauzinho aqui, uma pedrinha acolá só para dizer que isto não é um Walking Simulator e que, na verdade, podemos fazer coisas. Coisas com pauzinhos e pedrinhas. Coisas como casinhas e… coisinhas. E eis que temos um jogo em que andar e comer de 10 em 10 minutos, como os canários, já não são as únicas coisas que podemos fazer. Para quem é, bacalhau basta. E é isso que nos vai sendo atirado para o camião.

David Attenborough

Pois bem, Empyrion faz algo mais. Faz diferente. Pega no tema Sci-Fi e nas explorações pouco edificantes de um No Man’s Sky e transforma-se num sandbox interessante com tema espacial. Mas, qual pirâmide de Maslow, Empyrion constrói por cima do que já está feito e adiciona-lhes deliciosas camadas de complexidade. Dá para apanhar pauzinhos e pedrinhas. Mas não só. Dá para construir estruturas e veículos complicados, desafiantes que cultivam uma sensação de realização quando os concluímos. Interessante é também a criação de Blueprints a partir das nossas construções, a fim de automatizar o processo em novas iterações.

A panóplia de opções para construir é extensa e variada, o que agradará certamente a fãs do género, e a interacção com os mundos repletos de vida e de possibilidades para explorar, construir, atacar e destruir farão o resto para colocar neste jogo um carimbo de altamente recomendável. Empyrion é como mergulhar num caixote de Legos, com o tema do espaço (ainda com aqueles capacetes antigos, tipo penicos, e com os bonecos com um sorriso genérico, sem quaisquer tipo de características particulares, mas, ainda assim, delicioso). Ele é motas, carros, naves, estações espaciais, armas… A exploração não envolve apenas o ambiente explorável, com os planetas e sua fauna e flora, mais ou menos inteligente ou agressiva. Estende-se até aos materiais e a todo um mundo de construções possíveis que nos levam a querer explorar, quanto mais não seja para ver até onde chegou a imaginação destes senhores e onde se traça a linha entre o possível e o impossível.

Não falta por onde escolher

Empyrion ainda está numa fase inicial do seu lançamento. Muito será corrigido, refinado, adicionado. Mas, tal como está, é uma excelente adição a qualquer carteira de jogos que queira incluir um bom jogo do género Sandbox.

 

[ Todas as imagens aqui presentes, bem como todos os testes realizados com Empyrion – Galactic Survival foram realizados na máquina fornecida pela Alientech, a ALIENTECH MASTER EDITION, cujos specs podem verificar aqui.]