Que a série Might and Magic tem peso já todos sabemos. Acredito até, que se fosse feita uma sondagem a um universo relativamente alargado de jogadores, que seria a série que mais gente ouviu falar mas que nunca jogou. Heroes of Might and Magic, parte do grande universo co-criado  por Jon Van Caneghem, é apenas mais um exemplo desse mundo alargado que todos conhecem mas assim nem tantos tiveram contacto na primeira-pessoa. Como o PCTP-MRPP.

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Might and Magic Heroes VII (alguém me consegue explicar o porquê da inversão do substantivo?), para quem apenas reconhece o nome mas não o jogo, é o cruzamento complexo entre RPG e jogo de estratégia por turnos, em que temos de desbravar cenários/mapas à medida que gerimos as nossas tropas, recursos, upgrades a heróis, unidades e base, como forma de subjugar as facções/exércitos inimigos, e onde cada facção tem acesso a unidades de elite. O combate decorre num sistema de grelha, com muitas mecânicas e fórmulas habituais para quem joga RPGs pen and paper, onde a iniciativa e os ataques/defesas são “rolados” com um lance de dados no background do jogo. A superioridade militar pode não significar tudo, e o desfecho de cada combate é um equilíbrio bem-conseguido entre sorte, táctica e estratégia.

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Dito isto, há algumas considerações a serem feitas. A primeira é que há muitos anos que não tocava na série. Muitos anos mesmo. O que significa que penei um pouco para relembrar algumas das mecânicas de gestão mais avançadas. Ah, e não foram poucas as vezes em que, durante o combate, me esqueci por completo de atacar com o herói no meu turno, para além de usar as acções das restantes unidades. Passei mais de vinte turnos a tentar lembrar-me como distribuir as muitas unidades treinadas na minha base pelos grupos dirigidos pelos heróis. Todos estes disparates significam uma, e apenas uma coisa: MaMHVII tem falta de tutoriais, ou de ajudas para as suas mecânicas.

É verdade que muitas vezes critico os jogos que pegam nos jogadores pela mão e os levam de forma ofensiva por toda a experiência, como quem não confia nem respeita a sua inteligência. Heroes VII faz o inverso – eleva a um patamar elevado a sua arrogância perante os jogadores, assumindo que todas (as muitas) particularidades que envolvem um jogo tão complexo quanto um cruzamento de jogo de estratégia e RPG tem que estar perceptível ou sabido a priori. Arrogância esta que demonstra um grande risco para a série, numa altura em que os números e a competitivade (em especial de algumas surpresas do mercado indie) podem retirar o seu nicho confortável de mercado. Heroes VII é um péssimo jogo de entrada para qualquer novo jogador. É um jogo para fãs e apenas isso. Mas nos tempos que correm isso pode não chegar…

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Também não costumo criticar o pode gráfico de um jogo, até porque grande parte do meu coração (pelo menos dois ventrículos) estão com o mercado indie. Mas um jogo de uma série de peso como esta, a chegar pelas mãos da Ubisoft tem por obrigação ter outro nível visual que não o apresentado. Visto que há muito que não pegava na série, aproveitei para instalar alguns dos anteriores (comprei-os a todos num bundle há meses e estão à espera de dias mais calmos para serem jogados) e percebi que este Heroes VII é em muita coisa quase idêntico aos seus dois antecessores, e portanto, para 2015, completamente datado. Fazendo o seu valor de venda (39,99€) pouco compreensível.

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O melhor: as mecânicas, quando apreendidas, demonstram a complexidade estratégica do jogo e da série; IA desafiante.

O pior: o preço, o visual datado, a péssima porta de entrada para a série, a falta de informações.

Might and Magic Heroes VII é um jogo para fãs e apenas para eles. Se vale a pena aconselhá-lo a outros jogadores que nunca tenham tido contacto com a série? Não, de todo, ou sim, se a pessoa em questão estiver disponível para investir o seu tempo e dinheiro num jogo que pouco ou nada mudou dos seus dois antecessores, sob a agravante do seu preço e do péssimo factor de gateway que possui. Dito isto, e após ter refrescado muitas das mecânicas, a realidade é que o que Heroes VII apresenta é em muito igual ao que esperamos de Might and Magic: complexidade e desafio bastante elevados, que poderiam estar perfeitamente embrulhados num pacote mais acessível e mais estruturado para vários segmentos de público. Assim perdemos nós, perdem novos potenciais jogadores e perde, acima de tudo, a série.

Might and Magic Heroes VII é um exclusivo PC.