Se há universo que é uma verdadeira placa de Petri para muitas iterações é o de Warhammer 40K, que já muitos jogos e distintas abordagens criou desde  seu aparecimento em 1987. As viagens deste setting distópico pertença da Games Workshop pelos videojogos tem sido uma constante, em que cada ano traz uma quase mão-cheia de jogos novos. Mantendo o tom habitual, 2016 continua na mesma linha.

Desde os primeiros trailers, e primeiros indicadores e revelações que foram surgindo pela internet desde o ano passado, que sabíamos que o mergulho da Focus Home Interactive no universo de Warhammer seria algo que deixaria muitos PC Gamers com ávida vontade de conhecer. Adaptado do boardgame Battlefleet Gothic, Battlefleet Gothic: Armada traz-nos uma excelente tradução para videojogo das diversas mecânicas do jogo de tabuleiro.

Battlefleet Gothic Armada (2)

Battlefleet Gothic: Armada é em muitos aspectos um jogo de batalha naval… no espaço. Cada uma das muitas naves comportam-se como embarcações em alto mar, e as tácticas e lógicas de batalha entre barcos é imediatamente transposta para este universo. Cada uma das unidades é detalhada com um pormenor impressionante, revelando a inspiração conceptual por trás de cada uma. A Armada Imperial tem cada uma das suas naves como catedrais românicas e góticas mescladas com navio, e é estranhamente bem-conseguido o efeito de vermos este género de arquitectura adaptado a naves.

A história tem um tom épico e ominoso, e para isso muito contribui o voice acting que tenta chegar ao quase over-acting de termos vozes graves a ecoarem pelos nossos ouvidos como se de verdadeiras ameaças galáticas de tratassem. Para o setting e o enredo é provável que qualquer coisa abaixo de uma tentativa de Christopher Lee seria aquém para atingir o nível de épico sideral que o jogo requer.

Battlefleet Gothic Armada (1)

Sendo um jogo de estratégia em tempo real, Gothic: Armada não nos permite pausar a acção, mas impele-nos a desacelerar o tempo, enquanto vemos uma série de projécteis a descreverem arcos pelo vazio espacial. À medida que vamos conhecendo melhor as unidades vamos conseguindo recolocá-las de forma a que a sua posição permita um eficaz ataque com os canhões laterais, assim como conseguiremos antever da melhor forma como escapar aos diversos ataques das naves inimigas.

Os paralelismos óbvios na forma como a batalha naval decorre (e decorreu) historicamente são aqui traduzidos no formato espacial. Os navios dão lugar a naves-catedrais e o mar e o vazio negro do espaço. Mas entre tiros de canhões e abalroamentos, Gothic: Armada é a melhor intersecção de dois mundos, e consegue representar na perfeição o ambiente retro-futurístico de Warhammer 40K e do seu spinoff Battlefleet Gothic.

Battlefleet Gothic Armada (4)

Há aqui um exercício de game design ultrapassado com distinção: como conseguir, de forma irrepreensível, adaptar uma série de lógicas mecânicas por turnos para estratégia em tempo real, sem perder o tom de todo o jogo? E é essa a resposta que Battlefleet Gothic: Armada traz, mantendo de forma fiel todo o setting do jogo que lhe deu inspiração mas trazendo-o para o campo dos RTS sem que nada se tenha perdido na tradução.

Há uma grande componente de micro-gestão da nossa frota que é cada vez mais perceptível à medida que vamos mergulhando na campanha presente no modo de História. Apesar deste modo apresentar apenas o conflito de Armada pelo ponto-de-vista do Humanum Imperium, os level ups e evoluções que a tripulação vai tendo vai-nos fazendo conhecer cada vez mais a frota que temos entre mãos. E se muitos poderiam torcer o nariz ao facto de que as restantes três raças (Chaos Fleet, Orks e Eldar) estão disponíveis apenas em modo skirmish e multiplayer, eu aproveito para relembrar aquela jogada estratégica que a gigante Blizzard fez com o seu StarCraft II

Battlefleet Gothic Armada (3)

Battlefleet Gothic: Armada é um excelente RTS, trazendo a batalha naval espacial e o universo de Warhammer 40K para o patamar onde deve estar. Sejam as missões de combate puro, ou as de infiltração, resgate ou assassinato, há uma série de mecânicas perfeitamente executadas que tornam toda a lógica em torno deste jogo como algo quase imediato de assimilar. Tudo isto adornado com naves que são também catedrais góticas e que nos obrigam constantemente a fazer zoom in e a desacelerar o tempo para ver em detalhe toda a acção.