Atualmente não existem muitos jogos de corridas baseados numa perspetiva aérea, onde a perícia de manter os carros na pista é mais desafiante do que lutar contra os adversários para vencer as provas. Mas nos velhos tempos do Spectrum e Amiga, grandes estúdios capitalizavam as atenções onde Micro Machines era uma referência. Mas havia Overdrive e All Terrain Racing da Team 17, Supercars, Super Sprint e talvez o meu favorito, Nitro da Psygnosis para referir alguns. Ah, e também Iron man’s Super Off Road, como exemplos do desafio e diversão num formato de condução com uma jogabilidade distinta dos jogos de corridas convencionais.

E é exatamente essa nostalgia que a Applimazing quis capturar em Ultimate Racing 2D, um jogo de corridas que parece ter sido feito no Google Maps, devolvendo a jogabilidade estupidamente desafiante de outrora. O jogo já havia sido lançado no PC e Xbox One, mas acaba de chegar à Switch, como um dos primeiros indie da consola da Nintendo de 2020.

Com um grafismo muito simples, mas funcional, o que conta mesmo é a jogabilidade rápida e fluída da condução dos pequenos carrinhos. Na verdade, esta versão é uma reunião de estilos que o estúdio tem vindo a desenvolver desde que lançou o primeiro Formula Racing 2D ainda nos smartphones. O novo jogo tem diferentes classes de carros, para uma jogabilidade ligeiramente diferente, entre karts, muscles, Nascar, protótipos, e porque não, limusinas assim como motas, num total de 35 classes que vão sendo desbloqueados à medida que avançam na carreira. Umas classes são mais rápidas que outras, sendo afetadas também pela facilidade de condução. Por exemplo, a Formula 1 é muito rápida, enquanto os muscle cars têm tendência para fazer drift nas curvas.

Ainda na questão dos números, é interessante referir que o estúdio oferece quase 50 pistas diferentes para competir, em provas até 20 veículos em simultâneo. Na versão PC e Xbox One podem jogar os 20 jogadores online, mas na Switch podem juntar até oito amigos para o caos. Relativamente a conteúdos, há um campeonato, assim como um modo carreira em que necessitam amealhar dinheiro com os pontos conquistados para comprar veículos mais rápidos e com uma melhor jogabilidade, além de se agarrarem melhor ao alcatrão.

E por falar nisso, as provas podem ser afetadas por diferentes condições meteorológicas, obrigando a fazer paragens nas boxes para trocar de pneus, e dessa forma melhorar a aderência. Até porque esta é essencial para manter o carro na estrada, sendo esse o principal desafio deste género de corridas. Com um botão de acelerar e as direções executadas como se controlassem um carrinho telecomandado, pisar a relva ou areia significa perder muito tempo e ser rapidamente ultrapassados, porque os adversários não dão tréguas.

E é essa a adaptação que é necessário de perceber a sensibilidade dos controlos, ter noção de quando deixar de acelerar ou travar nas curvas, até às estratégias de usar os adversários nas curvas para travar ou o seu cone de aspiração para conseguir acelerar um pouco mais. As primeiras corridas são terríveis, de pura frustração, perguntando-nos como era possível divertir-nos neste género, mas depois de obter alguma sensibilidade, a frustração dá lugar à adrenalina e claro à diversão de ultrapassar o adversário na última curva e vencer a prova.

O jogo permite ainda personalizar as provas, com opções de até 250 voltas e até qualificadores para elevarem o desafio com amigos. Usar turbos e ser afetado pelas diferentes condições do tempo são elementos também disponíveis nas regras. No que diz respeito ao modo carreira, é necessário fazer grind de dinheiro para ter o suficiente para comprar os melhores veículos e dessa forma ter hipótese de vencer as provas. E quanto mais se avança, mais caros ficam, logo mais grind é necessário. E cada classe tem os seus próprios carros, por isso sempre que passam um nível, terão de juntar mais dinheiro.

Apesar da quantidade de traçados, e estes representarem um país, os cenários são bastante semelhantes, além de serem estáticos e aborrecidos. Não é que tenhamos tempo para estar a contemplar os elementos, mas com o tempo revelam-se repetitivos e cansativos. Além disso, tirando as cores, os carros são todos iguais na pista, e muitas vezes perdemos o tracking do nosso carro durante a confusão, o que pode custar a classificação na mesma.

De um modo geral, Ultimate Racing 2D é uma experiência retro que gostaria de ver em outras produções de forma ainda mais ambiciosa. Este jogo tem bastante conteúdo e é ideal para jogar em curtas sessões, visto que cada pista demora dois ou três minutos no máximo a completar. A sua dificuldade inicial pode afastar os menos pacientes, mas o desafio é viciante, para quem gosta do género.