Durante muitos anos, as séries que se passavam em hospitais focavam-se no drama das pessoas, de quem lá trabalhava, tanto em St. Elsewhere como em E.R. o drama era espremido daqueles médicos e enfermeiros e de como lidavam com os problemas que lhes apareciam em frente, até em China Beach (hospital militar no Vietname) ou mesmo Hill Street Blues (polícias) era esse o principal de nos fazer ver aquelas séries. Depois veio a evolução para as Grey’s Anatomy e Chicago Cenas em que o drama é sobre quem faz sexo com quem, e onde. Ou deixa de fazer. Às vezes há coisas médicas lá para o meio mas o importante é o sexo. Two Point Hospital, felizmente não podia estar mais longe destas séries modernas, mas também está no pólo oposto das séries clássicas. No máximo, está próximo de Doogie Howser M.D.. Ou Scrubs. Sim, é isso. Se há um hospital da TV que se podia comparar com Two Point Hospital em alguns aspectos é Scrubs.

Scrubs tinha algum drama, pouca medicina e muita parvoíce. Two Point Hospital tem muita parvoíce e alguma medicina, não tem drama mas tem alguns desafios interessantes. TPH, é um sucessor de Theme Hospital, onde as mecânicas foram evoluídas, afinadas e melhoradas, tal como se fazem com tratamentos e medicamentos, é curioso este paralelo.

Two Point Hospital é um manager/sim no qual temos que criar e gerir hospitais de um nível macro para micro. Desde a estrutura das salas até à decoração, passando por equipamentos e especialização do pessoal. Como uma ida ao hospital é sempre complicada, e raramente é feita por bons motivos podia ser um jogo “pesado” algo que não daria muita diversão aos jogadores até porque podia tocar em pontos pessoais desagradáveis, portanto a solução encontrada foi a de usar um tipo de comédia quase “slapstick” ou “dad-joke-y” no qual as doenças são muitas vezes trocadilhos que funcionam obviamente melhor em inglês que numa tradução em português.

Apesar de ser parvo, no bom sentido, TPH é óptimo na sua parte de gestão. As águas estão muito bem separadas no que diz respeito ao humor das doenças, tratamentos e personagens em oposição à “gestão” do hospital. Algo que reparei nesta adaptação para consola, foi a suavidade com que é possível fazer tudo num controlador. Algo que eu nunca pensei dizer há uns anos mas cada vez mais me vejo rendido à capacidade de jogar algumas coisas que julgava impensável.

TPH tem o problema de deixar-nos uma ilusão que conseguimos facilmente gerir um hospital e toda a gente dos privados ou públicos em Portugal que não o fazem com igual suavidade são uns energúmenos. Algo que pode ser verdade, mas não quer dizer que consigamos fazê-lo na realidade. Tratar de pacientes de doenças fictícias é simples e engraçado, tratar de pessoas com doenças a sério não é, é algo que merece o maior respeito, Two Point Hospital por outro lado não respeita nada como o bom humor deve fazer, e nisso torna-se brilhante e obrigatório.

Two Point Hospital está agora disponível para PC, Nintendo Switch, PS4 e Xbox One por compra directa ou no Game Pass para consola e PC.