Todos os anos a Electronic Arts tem de encontrar motivo para os jogadores atualizarem FIFA e embarcarem numa nova temporada onde as mudanças não podem ser apenas uma atualização das equipas e jogadores. Há que haver novidades de fundo, um gancho que sirva de bandeira para convencer mesmo os mais céticos. E este ano isso chama-se HyperMotion. É a tecnologia que a EA utilizou para captar os jogadores com maior realismo, e sobretudo, individualismo de cada estrela do desporto rei. 

Antes de mais, de anotar que esta tecnologia apenas se aplica às versões PS5, Xbox Series X e Stadia, tendo ficado de fora da equação o PC, que este ano fica-se pela manutenção do motor Legacy, juntamente com as versões de geração anterior. 

Mas do que se trata o HyperMotion? Significa captura coletiva, ou seja, o estúdio captou partidas de 11 para 11 jogadores, gravado num campo real de futebol. A diferença na captura é que os jogadores não estão no estúdio a simular e a fingir jogadas ensaiadas. A captura agora foi feita com base em partidas reais de futebol, com muitos nomes sonantes, o que deu à EA Sports mais variedade de jogadas, e sobretudo, a autenticidade necessária para transportar para o jogo. 

O resultado pode não ser de imediato notável, pois na prática estamos perante o mesmo FIFA de sempre, mas as mudanças são subtis e notadas a longo prazo. As animações são mais naturais e menos scriptadas, o sistema de colisão dos jogadores, a física da bola e atletas notam-se melhorias. Mas visto de fora, pelos vídeos, provavelmente vão achar que se trata do velho FIFA de sempre. 

A EA diz ainda que o sistema dos guarda-redes foi modificado. Mais uma vez só os puristas vão poder analisar este ponto. Há mais animações nos seus movimentos, defesas de encher o olho. Mas obviamente também há daqueles perús que acontecem aos melhores. 

Mas para quem gosta de números, a EA tem alguns para vos surpreender que passo a citar: 4.00 novas animações, aquela que a EA diz ser a maior atualização da série. Foi usado um algoritmo de aprendizagem baseado em 8,7 milhões de fotogramas para maior fluidez e realismo. A EA diz que os jogadores fazem seis vezes mais decisões por segundo nas suas rotinas de inteligência artificial. 

Os números são engraçados, mas ainda assim, não considero que esta seja a verdadeira prenda de nova geração, pois muito do jogo continua a ser bastante linear, longe do tempo em que coisas mirabolantes podiam acontecer tanto no FIFA como no PES, ressaltos inesperados, jogadas de arregalar o olho. 

Existem algumas novidades na jogabilidade, que obrigam, obviamente a decorar os controlos. As explosões das jogadas, em que se pode dar um pequeno sprint tanto para fugir a um adversário, como um defesa apanhar um atacante é uma das novidades. Quem souber explorar esta mecânica vai conseguir sobressair-se. 

O lançamento de um jogo cross-gen dificulta imenso o trabalho nos estúdios em justificar as respetivas diferenças. E os jogos de futebol são lançados durante anos para maximizar as vendas. Este é o segundo ano. O Hypermotion é o que distingue as duas gerações, mas também o grafismo obviamente mais detalhado nas novas consolas. Mas que os fãs das consolas antigas e PC não fiquem aborrecidos, porque visualmente o jogo não perdeu qualidade. As novas versões investem em encher-nos o olho, mas diria, a nível do cabelo. É estúpido salientar como feature a física do cabelo das personagens, mas nas sequências animadas, nas comemorações o seu detalhe é impressionante.

Mas para ser justo, também me pareceu que o jogo esteja mais fluído e rápido, com os companheiros a procurarem melhor os espaços livres, abrindo oportunidades de passe e jogadas em profundidade. 

Há também que destacar os modelos das personagens bem mais detalhadas, com mais polígonos, e claro, as suas animações mais variadas e detalhadas. Da mesma forma que os estádios têm melhor aspeto, mais populados e com elementos variados. 

E no que diz respeito ao que nos interessa, o Estádio da Luz e do Dragão estão de regresso ao FIFA, numa representação bastante afinada, desde os anunciantes dos jogadores à festa geral. Tudo é quebrado pelos comentários serem em inglês, longe dos dias em que as vendas de FIFA justificavam a vocalização de profissionais da comunicação portugueses. E ainda no que diz respeito a conteúdos, a EA voltou a roubar a seleção portuguesa a PES, oferecendo a respetiva licença tanto da equipa masculina como feminina. 

Mas se no campo tudo está mais ou menos semelhante, o que podemos esperar nos modos de jogo? Ainda mais do mesmo. O Ultimate Team continua a ser a âncora da experiência de FIFA, com a gestão da equipa, os packs de cartas para comprar e abrir, os mesmos desafios. Isso não é mau, mas tirando algumas afinações para ajudar a gerir as cartas e o sistema que permite espreitar os packs antes de os abrir, nada mudou. E isso não é mau, porque o Ultimate Team continua a ser o melhor modo de um jogo de futebol, pena o custo monetário real associado para os jogadores profissionais se mantenham competitivos. 

Desta vez o FIFA 22 não tem o modo história habitual no modo Volta. Apenas a apresentação do jogo nos transporta para o futebol de rua, juntando velhas glórias como Beckham e Thierry Henry, até selecionarmos e editarmos o nosso atleta. Podem jogar Volta Squads contra outras equipas para ganharem pontos e objetivos semanais ou Volta Battles contra outros jogadores online .

Continua a ser um modo descontraído e alternativo ao futebol sério. O jogo apresenta um medidor de habilidades que quando enche permite uma jogada fatal, novas jogadas de assinatura que podem ser ativadas. 

A EA diz que o modo Volta vai servir também como hub de acesso a mini jogos arcade para quatro jogadores, incluindo os modos Dodgeball, Foot Tennis, Disco Lava, num total de oito variações. A EA promete explorar este formato no futuro com a introdução de novos modos. Mas na versão antecipada para teste ainda não tinham sido inseridos.  

FIFA 22 continua a ser um bom jogo de futebol, claramente o melhor do mercado pela oferta da jogabilidade, os modos de jogo diversos e claro, as licenças oficiais atualizadas. Mas esta é a conclusão cliché todos os anos. E a pergunta que se faz é se vale a pena atualizar o jogo de um ano para o outro. Se há muito não jogam um FIFA e pretendem regressar, este é claro mais que recomendado. Mas quem investiu no ano anterior precisa apurar se as novidades o justifiquem. É o mesmo FIFA de sempre, com pequenas novidades, a maioria só se consegue perceber se tiveram as novas consolas do mercado. É a conclusão cliché, mas FIFA é um cliché anual.