Tenho várias memórias que marcaram a minha infância e juventude como gamer.
- Ter que pedir a um primo o CD número 3 do Final Fantasy XIX para avançar com o jogo porque o meu estava riscado.
- Deixar a PlayStation ligada a noite toda com o jogo do Toy Story em Pause porque não tinha cartão de memória e se desligasse tinha que começar de novo.
- Descobrir um dragão super OP em Panzer Dragoon sem saber como e ainda hoje nunca não sei como fiz nem o voltei a ver mais.
- Jogar dezenas de jogos contra bots no Warcraft 3 e achar que eu e o meu melhor amigo íamos dominar online, para sermos destruídos no primeiro jogo e nunca mais voltarmos.
- Dar outplay a uma guilda inteira e ser coroado o melhor jogador do servidor em Tales of Pirates (o melhor jogo fraco que já joguei).
- Pedir à minha tia o Pokémon Vermelho porque o Charizard é espetacular e ficar triste quando ela me oferece o Pokémon Azul porque “eu sei que querias o vermelho, mas como és do Porto comprei-te o azul”
- Tentar convencer a minha mãe que é possível as pilhas de todos os telecomandos da casa acabarem na mesma semana, quando lá no fundo era eu que as estava a tirar para pôr no Game Boy
- Pegar na lanterna para jogar Pokémon Amarelo debaixo dos lençóis, porque o meu pai já tinha vindo três vezes ao quarto confirmar que eu tinha pousado o jogo e quase me apanhou
- Estar DIAS empancado no Pokémon porque ainda não sabia nada de inglês E ERA PRECISO OFERECER UMA LATA DE SUMO A UM GUARDA
Como podem ver, assim de cabeça, Pokémon é uma grande parte das minhas memórias gaming e provavelmente moldou a minha costela de jogador (que provavelmente é também a minha maior costela no geral, assim uma espécie de Fémur… de elefante (caso eles tenham fémur)…mas no peito).
Eu e o meu parceiro de jogatanas, o Jonas (nome aleatório) respirávamos Pokémon: quais eram os melhores ataques (obviamente que se não tirassem vida aos adversários não prestavam), onde é que se apanhavam os Pokémon mais fixes, quem é que tinha a revista que explicava o que não sabíamos, porque é que o Ash nos desenhos animados só apanhava Pokémon fatelas, e depois os fixes deixava-os ir embora (SPOILER ALERT PARA O EPISÓDIO QUE SAIU HÁ 20 ANOS) ainda agora a escrever este artigo abanei a cabeça ao pensar que ele deixou ir o Primeape e a Butterfree.
Chegámos a ser tão fãs, MAS TÃO FÃS, que para vocês verem o cúmulo a que isto chegou, o Jonas (nome fictício), conseguiu convencer a mãe dele a gastar DINHEIRO (sim, DINHEIRO!) num cabo que apenas servia para trocar Pokémon. Éramos assim chatos.
Entretanto aconteceu-me o que aconteceu a grande parte dos jovens da minha geração neste mundo frenético e em constante mudança:
O meu pai não me quis dar uma Nintendo DS.
Acabou aí o sonho de ser o melhor treinador Pokémon ano após ano, e os meus contactos com a série ficaram pelo Pokémon Ruby, e mais recentemente Pokémon Go e Pokémon Snap.
Com a minha análise ao Pokémon Snap, a nostalgia bateu forte e estes remakes de Diamond e Pearl eram exatamente o que eu precisava, jogos atuais de Pokémon, que cronologicamente eram o ponto seguinte à minha paragem na franquia, tinha de tudo para ser um retorno em grande.
Tenho então a dizer que a bomba de nostalgia, explodiu mais forte que um Electrode a usar o Self-Destruct. Por alguns instantes, eu era outra vez o pequeno Pedro Nunes a tentar explorar um mundo desconhecido, cheio de criaturas fantásticas para conhecer, com imensos segredos por desvendar, ataques por descobrir, lutas por travar e uma história para me embrulhar. E desta vez conseguia perceber o que lá estava escrito!
A magia estava lá! Era aquilo que eu me lembrava, escolhi o meu starter (obviamente o de erva, pois jurei à minha tia que me deu o Pokémon azul, que nunca ia começar com um Pokémon de água na vida) e fiz-me à estrada.
Após dezenas de horas e ter completo o jogo, tenho a dizer que Pokémon Brilliant Diamond era tudo o que eu queria, mas nada do que eu precisava.
Por volta do terceiro ginásio, começaram a tocar as 12 badaladas, e a carruagem voltou a transformar-se numa abóbora. Se até agora enfrentava de peito levantado todos os treinadores que me apareciam à frente, comecei a desviar-me o mais possível.
Se antes percorria as mesmas áreas de relva para trás e para a frente até descobrir quais Pokémon é que esta área tinha para mim, agora comprava repels para não ser chateado por mais um Bidoof.
Se antes trocava a ordem dos Pokémon da minha equipa, para poder jogar com todos e ver a melhor estratégia para cada combate, agora só tinha que passar um pouco de álcool gel na carapaça do meu Torterra que se movimentava entre as pilhas de corpos desmaiados dos meus adversários. (E todos os meus outros Pokémon ganhavam experiência na mesma).
Se antes voltava de bicicleta para trás, para poder apanhar mais Pokemon pelo caminho, agora usava o Fly para o mais perto possível, e mal tivesse o que precisava puxava da minha escape rope e dava o fora o mais rápido possível.
A questão aqui é, a culpa é de Pokemon Brilliant Diamond, ou minha?
Lá no fundo… é minha.
Pokémon Brilliant Diamond não era suposto ser um jogo revolucionário de última geração. Era suposto ser um remake do original Pokémon Diamond com uma (questionável) melhoria gráfica e em termos de gameplay não incluir sequer mecânicas que não existiam nos originais mas existem agora (tal como as Mega Evoluções), e nisso temos que dar o braço a torcer, Brilliant Diamond é tão fiel ao original, que o aceita com todos as suas qualidades, mas também com todas as suas falhas…
… Eu é que devia ter ficado desapontado há 10 anos e não agora, porque eu cresci, e este jogo… entretanto não.
A história é bastante genérica, mesmo que a coloquemos ao lado de todos os outros jogos Pokémon, (que nunca foram conhecidos pela história) não consegue sobressair.
Existe o Team Rocket (em desconto), que está a tentar controlar ou destruir o planeta através de algum Pokémon lendário.
Nós somos um pequeno jovem na mesma faixa etária que todos os outros jogos, e por obra e força do destino, deparámo-nos com a escolha de um companheiro Pokémon, que calha de ser mais uma vez entre Fogo, Erva e Água. O nosso rival continua inteligente e escolhe depois de nós, para poder ter a clara vantagem de tipo. Seguimos a nossa vida sendo bloqueados por árvores para cortar, rochas para partir, cascatas para nadar e céus para voar.
Os líderes de ginásio vêm em todas as formas e sabores, desde que sejas aquele tipo de pessoa que come gelados só de uma bola. No fim de tudo tens a liga Pokemon, o duelo final, e rolam os créditos. Pelo meio temos alguns concursos rítmicos e de beleza dos nossos Pokémon (onde podemos colar autocolantes na Pokébola para pontos extras).
Existe também a possibilidade de irmos para o subsolo, onde encontrámos o Deep Underground, com uma esparguete de caminhos aleatórios em todas as direções, que nos permitem acesso a tesouros escondidos e Pokémon únicos, bem como uma secção de decoração de interiores, como já existia em outros jogos da saga. Mas nada de revolucionário ou apelativo o suficiente para te voltar a agarrar ao jogo quando a magia clássica de Pokémon se gasta.
Penso que para quem jogou o original, sinceramente não justifica, a não ser pela bomba nostálgica, ou se forem o tipo de pessoas que o quer jogar outra vez, então peguem na Switch que a Nintendo DS já deve estar reformada.
Para quem nunca jogou o primeiro Pokémon Diamond e Pearl, penso que serão mais felizes com uma entrada mais recente na série, ou até com o (esse sim novo e arriscado) Pokémon Legends Arceus.
Para quem nunca jogou Pokémon sequer… comprem a versão física, porque na gruta onde moram não deve ter Wi-Fi suficiente para a fazer download da versão digital. (Mas de qualquer das maneiras também aconselharia a começarem pelo Pokémon Legends Arceus, para além de ser o jogo mais recente, é o ponto inicial da história no mundo Pokémon).