
Há uma piada recorrente do Rui Parreira e da nossa querida comunidade do Split-Chicken que diz que quem faz as minhas reviews são os meus filhos: que eu os ponho a jogar os jogos que recebo e que depois são eles a escreverem os meus artigos. Isso não é verdade. Nunca imaginei sentir a alegria que sinto hoje, com dois filhos que para além de uma maravilha de pessoas, são duas grandes companhias em muitos dos meus gostos, especialmente nos videojogos. Gosto de ouvir a opinião deles quando acontece estar a jogar um jogo que estou a jogar (e eles também), e para o qual vou escrever um artigo. Já tive um artigo integralmente feito com a opinião da minha esposa, mas com a dos meus filhos ainda não aconteceu. Portanto a piada recorrente do Rui cai em saco roto.
Até este artigo. Que foi feito com a pessoa do meu agregado familiar que tem incomparavelmente mais horas de FIFA e FC do que qualquer outro, e que por acaso, é quem mais percebe de futebol em nossa casa. E essa pessoa é o meu filho mais velho, que deve ter investido largas horas no EA Sports FC 26, e cujo ponto de vista, através de diálogos que fomos tendo, estão expressos neste artigo. Porque da minha parte tenho grandes dificuldades em distinguir as várias iterações, sendo que ele me foi apontando algumas alterações que só os mais “pros” vão reconhecer.

À primeira vista, para mim, a sensação é de continuidade, mas quando se entra em campo nota-se que a Electronic Arts trabalhou de forma mais cuidada o controlo de bola, a movimentação dos jogadores e o comportamento físico destes. O drible – em especial – está mais fluido: a aceleração e travagem parecem naturais, e o contacto físico é mais convincente, sobretudo nos duelos ombro-a-ombro. Noto-o sobretudo a jogar contra um jogador mais experiente como o meu filho que a mestria e complexidade do drible tornam a tarefa de parar os jogadores dele praticamente impossível dada a fluidez de controlo de bola.
Os guarda-redes, frequentemente criticados (e com razão) na iteração anterior, beneficiaram de um trabalho profundo: estão mais bem posicionados no campo, cometem menos erros absurdos e lidam de forma mais realista com remates desviados e bolas à queima-roupa, ainda que muitas vezes com reacções felinas.

Mas para os habitués da série, uma das grandes novidades de FC 26 é a introdução de dois perfis de jogabilidade distintos, baptizados de “Competitivo” e “Autêntico”. O primeiro é direccionado para o jogo online e para o Ultimate Team, é mais rápido, agressivo e intenso, pensado para quem compete, e o segundo, vocacionado para o modo Carreira e experiências offline, adopta um ritmo mais pausado e táctico, com maior peso na performance dos jogadores e do seu controlo de elementos como o cansaço, a meteorologia e as decisões tácticas. Esta divisão é, em si, uma resposta às críticas antigas da comunidade, que sempre se queixou de uma tentativa frustrada (e gorada) de conciliar o realismo com o espectáculo arcade num único sistema, sendo que agora cada tipo de jogador pode moldar o jogo ao seu gosto.
O modo Carreira, embora continue a basear-se na estrutura tradicional, recebeu novas opções e pequenos toques de modernização, e pelo que tenho visto nas sessões de jogo do meu filho ao fim-de-semana, a adição dos chamados “Manager Live Challenges” ou “Eventos Live”, que introduzem situações dinâmicas e decisões narrativas que afastam a rotina das épocas lineares. Ainda assim, é um modo que parece não foi alvo da revolução que muitos esperavam: continua funcional e envolvente, mas não surpreende, carecendo de dificuldades mais elevadas para surtir algum tipo de desafio aos jogadores mais veteranos.

Visualmente, FC 26 não apresenta um salto técnico impressionante, mas o polimento é evidente, e sentimos isso enquanto sportinguistas pelo trabalho feito nos jogadores do Sporting. As animações são mais coerentes com as expressões faciais a ganharam subtilezas que são perceptíveis nos replays.
Em termos de sensação de jogo, o FC 26 é provavelmente o mais equilibrado e realista da era pós-FIFA: a inteligência artificial é mais credível, os médios controlam melhor os tempos do jogo e as equipas reagem de forma mais orgânica às movimentações do adversário. Em modo Competitivo, o foco muda: o jogo acelera, privilegia a precisão e recompensa reflexos rápidos, sem perder completamente a lógica táctil.
Ainda assim, FC 26 não é de todo uma revolução, e dificilmente o seria dado ser uma iteração de uma série anual, sendo apenas um aperfeiçoamento técnico e conceptual que demonstra maturidade, mas também um linha central de modos, estrutura de menus, filosofia de monetização, praticamente inalterado.

No balanço final, EA Sports FC 26 é o jogo de futebol mais sólido e polido que a EA produziu nesta nova era: não muda muito, mas melhora quase tudo o que já existia. Jogadores mais casuais terão dificuldade em justificar a aquisição de uma nova iteração, já que quase só os jogadores mais veteranos conseguirão ler as pequenas subtilezas que distinguem um jogo de outro.













