Muita coisa hoje passada seria considerada simples obra de ficção, umas infelizmente são a realidade que já muito ultrapassou a imaginação de quem viveu nos anos 50, 60, 70, 80 e até anos 90!

Uma realidade que tristemente superou a ficção

Em todas as formas de expressão humana, a arte foi usada para transmitir ideias e abordar assuntos quer do dia-a-dia quer temas ancestral.

Um dos temas mais ancestrais que a humanidade tem abordado é o sentido da vida e a nossa própria consciência. Relacionados com isso esteve sempre associado a qualidade de vida, ideais, morais e sentimentos.

A busca para um sentido da vida, a busca pela liberdade, a crítica aos obstáculos da sociedade para o alcance dessa liberdade sempre foram tema base em todas as obras literárias desde que o Homem começou a escrever e que culminaram em novas artes desde a literatura, à musica, ao teatro, ao cinema e agora aos jogos e às artes digitais.

A mitologia de Talos abordou muitos assuntos ainda hoje contemporâneos e válidos

As obras de arte são forma de expressão que o artista usa para transmitir as suas ideias, para que os outros, nós, possamos reflectir sobre o tema. Nessa evolução surge um género literário novo, o cyberpunk, que desconstruindo o seu significado e começando por punk, teve na sua origem os movimentos de jovens que contestaram os sistema que viviam, sobretudo provocador, seja no vestuário seja nos hábitos a provocação e a contestação passou a ser símbolo.

Punks, movimento juvenil de contestação dos valores e da ordem social

Já o “Cyber” que é o diminutivo de cibernético, aborda a “ciber-cultura“, aquela que é centrada na tecnologia de comunicações e computadores.

O termo surgiu entre os anos 1970 e 1980 quando os computadores começaram a entrar na casa das pessoas como ferramenta que se começou a normalizar para as massas. E como novidade que é, as atenções viram-se para esta novidade que prometia revolucionar a vida das pessoas de forma permanente!

A tecnologia informática evoluiu muito, hoje a inteligência artificial é uma realidade próxima e a privacidade distante

Neste longo caminho até 2019 as assimetrias sociais e desigualdades permanecem, muitos governos permanecem corruptos, muitos governos aumentam as medidas autoritárias sobre os seus cidadãos e hoje vivemos num mundo que envergonharia muitas das previsões do que iria ser o futuro.

Hoje a privacidade é uma quase miragem, a nossa vida está sob controlo e vigilância na internet, o que era um jogo para governos autoritários e controladores, hoje é uma realidade.

Cidades saturadas

Blade Runner não pega apenas nos temas base do género de ficção cientifica cyberpunk, associado a este género temos as características de obras sobre distopias com uma personalização do género noir, que é um subgénero do cinema de dramas e romances policiais dos anos 40 e 50.

Ridley Scott inspirou-se nas obra literária de Philip K. Dick, sobretudo Do Androids Dream of Electric Sheep? Cujo argumento é a sua interpretação para cinema dum caçador de androids e que envolve uma serie de questões morais.

Blade Runner, um misto de Noir com cyberpunk

Philip K. Dick não sendo exactamente o pai do cyberpunk, devemos-lhe o trabalho que teve na criação de muitas obras que abordam esse tema, que inclui uma organização de ideias em volta de moralismos, de filosofia, de política, de estados autoritários, estados de consciência e realidades alternativas e toda uma relação intima entre o ser humano e as suas criações tecnológicas.

Podemos atribuir também inspiração a obras de William Gibson, Isaac Asimov e Rudy Rucker, mas estas sobretudo concentraram-se no tema da inteligência artificial.

Metropolis é o expoente máximo do expressionismo Alemão, aborda muitos dos temas do cyberpunk actual

Por outro lado temos Bruce Sterling que apadrinhou o género cyberpunk e inclusive no seu enorme ego clamou para si a criação do termo. O género cyberpunk dá muito pano para mangas e estamos muito perto do lançamento do jogo Cyberpunk 2077 pelo que uma abordagem mais técnica e critica ao assunto virá noutro artigo, não quero tirar o protagonismo ao Blade Runner.

A inovação tecnológica também pode ser boa, nem tudo tem só o seu lado negro

Por falar no jogo que poucos poderão desconhecer, a história passa-se na mesma altura do filme, o protagonista vai dialogar e interagir com alguns dos personagens do filme, aliás vamos ter reacções interessantes do mesmo pois nalguns casos seremos inoportunos a fazer o mesmo inquérito que Rick Deckard fez momentos antes de chegarmos, vamos estar algumas vezes quase a nos cruzarmos com ele.

Os cenários foram recriados à imagem do filme e temos não só os mesmos locais como teremos novos. O ambiente este está num estilo noir e moderno que retrata muito bem a Los Angeles moderna, industrializada, degradada, sobrelotada, sombria e poluída onde ninguém pretende viver!

O jogo saiu em 1997 mas ainda tem o seu charme e qualidade visual, muito porque é um jogo de aventura gráfica point-n-click com cenários pre-renderizados, mas ainda tem o seu brilho particular de inovação que na altura conjugou estes cenários per-renderizados e lhe deu vida com animações de luz e personagens renderizadas em voxeis.

Os fãs do filme podem esperar situações familiares e sobretudo será uma experiência rica que nos colocam na pele de detective, nada foi esquecido, e não é ao acaso, vão estar muito concentrados a analisar fotos 3D à procura de pistas!

O ambiente visual e sonoro é rico, é uma obra que ganhou o seu próprio mérito e se tornou igualmente uma obra de culto, num género artístico que também ele passou da novidade para algo que é hoje comum.

Blade Runner para PC tal como o filme é e será para contemplar por anos vindoiros.

Resta-nos esperar que haja uma reedição do jogo no GOG, quem possui os discos do jogo já o pode rejogar por via de “emulação” através do SCUMMVM, cujo recente update incluiu muitas optimizações para corre-lo de forma perfeita ou quase em computadores modernos!