Odeio baratas. Tenho a certeza que é um bicho popular para se odiar – como cobras ou ratos – mas no meu caso nunca me esquecerei das três ocasiões em que o meu latente instinto genocida levou a melhor de mim face a estes diminutos insectos…

… quando uma resistiu obstinadamente às minhas agressões directas com um tabuleiro de madeira na minha cozinha…

…quando outra abriu guerra psicológica durante duas noites na mesma cozinha (ainda bem que já mudei de casa entretanto) ao iludir as minhas tentativas de extermínio e tirar-me o sono por medo de uma invasão em massa…

…e quando outra me entrou pelo vidro aberto da viatura que conduzia, se alojou no meu braço esquerdo uns bons cinco segundos ao mesmo tempo que o semáforo abria ao sair da 2ª Circular para a A1, motivou gritaria de pânico (eu e a minha noiva) e gargalhadas (a minha futura cunhada no conforto do banco traseiro) e quase motivava um acidente.

Odeio. Baratas.

Triangulares ou arredondadas, baratas serão sempre baratas.

Este meu instinto genocida para com essa espécie bastante resiliente pede um shooter bem sangrento para descarregar todas as frustrações. Ou então pede outra coisa que nunca me tinha ocorrido até aqui – Tactical Troops: Anthracite Shift (TT:AS), um jogo de estratégia por turnos em que uma pequena unidade militar deve ir do ponto A ao ponto B, enquanto faz uso de variadas armas e maquinações estratégicas para exterminar as baratas que encontra pelo caminho. E por vezes alguns sistemas de defesa. E por vezes pessoas. Mas, sobretudo, baratas.

Nunca me ocorrera quão satisfatório poderia ser lidar com este meu ódio de forma intelectual, enquanto faço uso do meu sadismo moldado pelas interações supra-citadas para descobrir a melhor estratégia para matar baratas. TT:AS difere da maioria dos jogos de estratégia militar por turnos pela ausência de uma grelha – temos antes um diâmetro em torno de cada personagem que nos indica quanto nos podemos mover a cada turno, utilizando pontos de acção que também são consumidos pelos disparos do nosso armamento. Tudo somado, e lá vai um turno: é em torno disso que devemos planear o nosso avanço.

Who you gonna call? Roach Busters!

Pessoalmente sou um consumidor assíduo de estratégia por turnos com grelha. Das minhas experiências de estratégia sem ela, só me ocorrem RTS mais antigos como Age of Mythology (2002) ou Sins of a Solar Empire (2008). E não, não sou versado em MOBA. Mas esta relativa liberdade de TT:AS confere um tipo diferente de estratégia, para a qual contribui ainda a preparação do nosso equipamento antes de cada mapa, com diferentes classes de personagens, cada uma com o seu próprio movimento e armamento.

Disponível em breve no Steam, TT:AS tem uma história por detrás, onde a descoberta humana de antigos dispositivos de teletransporte leva a nossa raça ao planeta Anthracite, onde um cobiçado minério motiva todo o conflito. E passados alguns mapas esses dispositivos passam a fazer parte do nosso arsenal estratégico. Mas confesso que não foi o que sobressaiu ou pareceu relevante: eu só queria planear o extermínio em cada mapa, uma barata de cada vez.

Temos 40 mapas de crescente dificuldade por onde progredir.

Já que falamos de histórias interessantes, a que originou o lançamento deste jogo importa salientar. A editora Slitherine, especializada no pujante mercado dos jogos de estratégia, criou o K-Project, onde developers indie lançam as suas ideias e demos à editora britânica, esta compromete-se em lançar as mais promissoras e os criadores originais retêm os direitos sobre a propriedade intelectual, ao mesmo tempo que 5% dos lucros provenientes desse jogo revertem para o desenvolvimento de novos jogos no âmbito do K-Project.

Soa a esquema em pirâmide, mas com um bom propósito. E se o propósito for continuar a encontrar maneira de exterminar baratas, que venham mais.