Certinho como a chuva em Abril em Portugal (até às alterações climáticas o contrariarem) e o pagamento de impostos (a menos que tenhamos sob a nossa alçada empresas que nos ajudem a desviar-nos deles como o Neo de balas) é eu escrever sobre cozy games. E acreditem que o meu desktop está cheio deles, e muitos vão aqui parar em breve com artigos a falar de si.

Snacko, desenvolvido pelo estúdio independente Bluecurse Studios formado por apenas por um casal, é um simulador de vida acolhedor que nos leva para um mundo encantador habitado por animais antropomórficos. A história deste jogo começa com Momo e Mikan, duas gatas que abandonam a vida urbana em busca de um recomeço numa ilha esquecida, e o que começa como um projecto de reconstrução transforma-se rapidamente numa aventura que responde à fome de jogos cozy que eu, e milhões de jogadores tempos.

Diria que foi inteligente da parte do estúdio de criar uma direcção de arte distinta, marcada pela fusão única de pixel art com modelação 3D, criando um ambiente visualmente apelativo e colorido. Lançado em acesso antecipado em Dezembro de 2023 e concluído com a versão 1.0 — intitulada Mines & Magicks — em Maio de 2025, Snacko amadureceu com o tempo, beneficiando não só do apoio da comunidade e do seu valioso feedback, como também de um Epic MegaGrant. 

Como seria de esperar num jogo deste género, temos a total liberdade para plantarmos, cortarmos árvores, explorarmos quatro biomas distintos, construirmos e decorarmos a vila ao nosso gosto, com mais de trezentos objectos à nossa disposição para o fazer. A mecânica de movimentação é surpreendentemente fluida, com o nosso personagem bidimensional a deambular de forma coesa pelo espaço tridimensional. Aqui encontramos elementos mágicos, puzzles ambientais e minas com desafios, que dão uma camada extra de profundidade ao que, à primeira vista, poderia parecer apenas um jogo de agricultura e decoração.

Socialmente, Snacko permite interagir com mais de duas dezenas de personagens únicas, cada uma com a sua personalidade e história e a nossa intervenção em conseguirmos revitalizar a vila abandonada de volta ao seu esplendor. Há festivais, missões secundárias, diálogos com humor e ternura, e um modo de construção que nos permite uma personalização do espaço aberto da aldeia. 

Admito que por vezes me senti algo perdido com algumas missões, e até a navegação pelos menus e algumas das mecânicas típicas do género, mas que foram aqui aplicadas de forma muito sui generis. Mas na realidade o que mais se destaca é a dedicação dos criadores que não só mantêm um contacto constante com a comunidade, como utilizam esse contato para melhorarem o jogo com base nesse feedback.

Snacko não é apenas mais um simulador de vida rural com gatinhos fofos: é uma experiência que convida à pausa, à criatividade e ao cuidado. Constrói-se uma casa, plantam-se umas cenouras, explora-se uma caverna e ajuda-se um vizinho:  e com cada gesto, sente-se um pouco mais o peso do mundo a aliviar-se, tanto do virtual, como do real, que este se tem tornado tão pouco convidativo.