A máxima popular diz-nos que os avós são pais duas vezes, e para mim essa é uma verdade ainda mais reforçada, dado que foram os meus avós paternos que assumiram esse papel de pais desde que eu nasci. 

Por outro lado, a ordem natural da vida indica-os como uma grande ajuda para os pais, seja a tomar conta dos netos quando os pais estão a trabalhar, ou mesmo para lhes darem uns momentos de descanso a 2. Quem não tem essa rede de apoio, como é o nosso caso, vê-se a braços com uma realidade em que não existe plano B para um dia em que precisamos de ter uma reunião mais tarde, ou simplesmente um jantar fora com o casal a aproveitar o tempo um com o outro. Mas não é de todo esse o caso que serviu de inspiração para este bizarro jogo indie do qual vos falo hoje. Muito pelo contrário.

Grandma, No! é um jogo indie desenvolvido pelo estúdio WALLRIDE e publicado pela Super Rare Originals, e foi lançado a 23 de Maio de 2025. Nesta pequena e absurda aventura cómica, assumimos o controlo de uma avó inesperadamente incumbida de cuidar do neto, enfrentando uma sucessão de tarefas domésticas que rapidamente se transformam num caos de física desgovernada, mini-jogos igualmente estranhos e um humor que parece ser decalcado do mítico Ren & Stimpy.

Nunca pensei que tanto caos pudesse acontecer num jogo que se passa em apenas três áreas: a cozinha, a sala de estar e o quintal, onde tarefas simples como preparar sandes, apanhar brinquedos ou lidar com invasões pouco convencionais como galinhas voadoras, são momentos bizarros que só ficariam mais estranhos se a Maria Leal entrasse pelo jogo a dentro. 

A interacção com os objectos é marcada por um sistema de física intencionalmente desajeitado, que transforma até as tarefas mais banais em desafios bizarros. A cada acção desastrosa, o jogo responde com animações exageradas e efeitos sonoros grotescos, criando um ambiente de comédia física onde tudo pode acontecer, o que inclui flatulências inesperadas.

A direcção de arte de Grandma, No! é cartoonizada, com personagens modeladas num estilo quase plástico, cores fortes e animações simples mas expressivas. Apesar do humor escatológico e das piadas infantis — como vómitos e cocós animados — poderem não ser o humor para todos, a energia caótica da sua protagonista geriátrica e a imprevisibilidade das situações mantêm-nos divertidos pela sua duração. Esta é, aliás, curta, entre duas a três horas, dependendo do nível de exploração e empenho nas tarefas opcionais que decidamos em colocar.

Sendo que este tipo de humor, o físico, por vezes repetitivo, não é para todos, são as mecânicas físicas e absurdas mais próximas de quem aprecia jogos como Octodad ou Human: Fall Flat, que falam mais alto, onde o objectivo é precisamente ritmo-nos do desastre.

Grandma, No! é uma experiência breve, caótica e deliberadamente tola e absurda, que aposta tudo na fisicalidade do riso e da bizarria das situações. Não é certamente para todos, mas quem souber entrar no seu ritmo destrambelhado encontrará uma comédia interactiva memorável, onde ser uma avó significa, acima de tudo, nunca dizer “não” ao disparate.