Por ter saltado a geração de Xbox 360 e PS3, e ter ficado “em casa” nesse período – como estive em quase toda a minha vida – na Nintendo, muitos jogos da primeira vaga de indies apoiados e publicados na XLBA são-me completamente alheios.
Um desses exemplos foi lançado em 2010 pela produtora NinjaBee, um título chamado A World of Keflings consolidou-se como uma experiências diferente no panorama indie da época, ao misturar construção de cidades, humor leve e um estilo visual mais cartoonizado.
Sendo um sucessor de A Kingdom for Keflings, de 2008, foram precisos 15 anos para finalmente ter contacto com este jogo, já que, para surpresa de muitos, chegou agora uma versão melhorada para PC.
Em A World of Keflings assumimos o papel de um gigante benevolente, uma criatura de proporções colossais em comparação com os pequenos habitantes, os Keflings: esses seres carismáticos e trabalhadores dependem da nossa intervenção para prosperar, sendo que o nosso papel não é o de um conquistador ou tirano, mas sim de um construtor, alguém que guia os Keflings na criação de reinos inteiros. Da recolha de recursos à edificação de casas, oficinas e monumentos, cada gesto contribui para a expansão de sociedades prósperas que vão ganhando identidade própria.
Uma das grandes inovações de A World of Keflings para a altura em que foi criado estava na diversidade dos cenários: ao invés de termos apenas uma única terra para gerir, o jogo convidava-nos a viajar por diferentes reinos, cada um com cultura, arquitectura e desafios distintos. Este elemento trouxe variedade estética e mecânica, já que as construções e necessidades dos Keflings variam de região para região, mas tudo com uma paleta colorida, aliada ao humor subtil nas interacções com os personagens.
A World of Keflings integrou também, à época, os avatares da Xbox 360, tornando o gigante que controlamos ainda mais próximo de nós próprios, numa época em que a personalização era um trunfo valorizado por quem o incluia. E era essa ligação simbólica que reforçava a sensação de sermos parte daquele mundo encantado, com um o modo cooperativo online que permitia que dois jogadores trabalhassem em conjunto para erguer cidades, numa experiência social que deu longevidade ao jogo.
Apesar da sua simplicidade, A World of Keflings é recordado como um jogo relaxante, quase meditativo, que nos oferecia um espaço para criarmos e experimentarmos sem pressão excessiva, contrastando com os rigores do dia-a-dia.
Mais de uma década após o seu lançamento, A World of Keflings permanece uma referência curiosa na história dos jogos indie: um título que provou que, com criatividade e humor, até os mundos mais pequenos podem oferecer aventuras memoráveis, e que pode agora ser jogado por todos aqueles que, como eu, saltaram de alguma forma essa geração de consolas.