Devia ter 4 anos quando, sentado num banco da cozinha da casa onde vivi grande parte da minha vida, vi irromper no ecrã de uma pequena TV Philips a preto e branco uma música de rock, acompanhado por robots em desenhos-animados que se transformavam em carros, camiões e jactos, entre outras coisas. O impacto foi tal que facilmente vos conseguiria descrever como estava disposta a cozinha naquela altura, quando a minha paixão por robots gigantes – ou mechas, como lhes passaria a chamar décadas mais tarde se fossem pilotados – nasceu. 

Mas para amar mechas temos de nos virar, bem, para Oriente, para o País de onde as origens dos Transformers podem ser traçadas. E foi aí que acabei por descobrir um mundo que ia para além de Transformers e Evangelion: e onde Gundam era rei, mas onde Macross e tantas outras séries dos anos 1970 e 1980 são duques. 

Para o público nipónico a Bandai Namco criou logo em 1991 uma forma de unificar essa paixão com uma série de crossover táctico intitulada Super Robot Wars, que apesar de diversas iterações em muitas gerações nunca chegou a ter lançamentos oficiais no Ocidente. Até… ao lançamento deste Super Robot Wars Y, publicado a 28 de Agosto de 2025 para PC, PS5 e Nintendo Switch, é a mais recente entrada desta longa série de RPGs tácticos que reúne mechas e pilotos de diversas séries de anime em batalhas por turnos. 

Embora mantenha a fórmula tradicional da série – conhecida por todos aqueles que de alguma forma tiveram contacto com as recorrentes fanlations, introduz algumas novidades, sendo a mais referida pelos seus criadores o Assist Link System, que permite a personagens de apoio, não-pilotos, actuem como Assist Crew, oferecendo comandos e habilidades de suporte, efeitos passivos e novas slots desbloqueáveis à medida que a história avança. 

Como seria de esperar num crossover, a narrativa cruza universos distintos e apresenta uma seleção de séries conhecidas como Gundam, Code Geass, Macross Delta e Godzilla Singular Point, ao mesmo tempo que introduz personagens originais como Echika Y. Franburnett e os irmãos Cross e Forte Tsukinowa, que servem de fio condutor ao enredo. 

Visualmente o jogo aposta em personagens “encolhidos” ao estilo Chibi, e animações de combate em estilo inspirado nos anime, apoiadas por uma banda sonora extremamente rica em termos musicais, com composições que se interligam na perfeição com os momentos de acção, mas também de diálogo de todo o jogo. As interações entre personagens de diferentes universos (com direito a poses icónicas dos mesmos) consolidam o lado de fan service que sempre marcou a série. Aliás, toda a história e interacções são não-canónicas, como seria de esperar, e as conversas entre personagens conhecidas de séries distintas entre no campo da pura fanfiction tornada realidade.

Super Robot Wars Y continua a apostar no sistema de estratégia por grelha, em que cada unidade se move e ataca de acordo com a sua mobilidade, alcance e energia disponível, onde gestão desta, mas também de munição e capacidades especiais mantém-se central, e o sistema de moral continua a desempenhar um papel decisivo: quanto mais motivado estiver um piloto, mais devastadores se tornam os seus ataques. A integração do sistema de Assist Link nesta lógica não só cria novas combinações como também aumenta a importância de pensarmos para além dos ataques directos, dando peso estratégico ao posicionamento e às escolhas de que personagem acompanha qual.

Outro mérito de SRW Y é o equilíbrio entre acessibilidade e profundidade: novos jogadores vão encontrar aqui uma interface relativamente clara, modos mais fáceis e mecânicas que suavizam a curva de aprendizagem de um jogo algo exigente em termos de estratégia, enquanto os veteranos dispõem de amplas opções de personalização, upgrades, missões secundárias e optimização estratégica graças ao novo sistema de Assist Link. 

Apesar de ser um sonho molhado em formato de fanfiction, sem surpresas percebemos que o ritmo narrativo é por vezes arrastado, com diálogos longos e inconsequente, muito auto-referenciais por vezes, que podem cansar quem prefere a acção. Para quem conseguiu ter acesso a versões fanlated de jogos anteriores, rapidamente vai sentir que a estrutura geral permanece practicamente idêntica, sobretudo com SRW 30, sem grandes inovações que reinventem a fórmula. 

Por outro lado, a repetitividade de algumas missões, o grind necessário para maximizar recursos e a reutilização demonstram que este não é nem de perto nem de longe o melhor exemplo de RPGs tácticos que existem no mercado. Acrescendo ainda a isto que a experiência completa pode tornar-se financeiramente pesada devido aos DLCs e pacotes adicionais. SRW Y é um título competente que mergulha na fórmula clássica sem se afastar quase nada dela, onde o novo sistema de apoio inova o suficiente para justificar a sua presença, e a apresentação continua a ser um dos pontos mais fortes da série, com combates espetaculares que recriam fielmente cenas de anime e mantêm a adrenalina sempre alta. 

Para os fãs de longa data, a sensação é a de regressar a terreno familiar com algumas novidades saborosas; para os recém-chegados, trata-se de uma porta de entrada acessível mas que exige tolerância para os seus ritmos mais lentos e diálogos extensos. Diria até que é uma obra e unicamente recomendada a quem já é fã da franquia, ou das muitas séries que a compõem, e que adora mechas, pois encontrará aqui batalhas grandiosas, muita personalização e um enredo que cruza universos com entusiasmo. Para todos os restantes será demasiado auto-referencial, e falhará em cativar o público para além dos que já são fãs de Gundam e mechas.