Na altura em que joguei Farming Simulator 22 fi-lo completamente contrariado. Sabia que o jogo era enorme, muito complexo e com muitíssimas mecânicas para aprender. Cedo percebi que isso era verdade, mas como na altura até fiz alguns streams, encontrei uma comunidade muito activa e disponível para aceitar e tutorear novos fãs. Havia pessoas que faziam questão de entrar no meu save online para me ajudarem, me explicarem tudo o que havia, o que fazer, como e em que ordem. Quando me mandaram Rise of Industry 2 estive para não o aceitar pelo mesmo motivo, ter muita coisa para aprender, mas dado ter tanto tempo até ao lançamento, pensei que não deveria vir grande mal ao mundo, certo? 

Errado! 

Um factor que desvalorizei foi que Rise of Industry 2 ainda não foi lançado, e nem toda a informação disponível para o Rise of Industry é transferível. A interface é diferente e parece que há algumas novidades. 

Parece-me que o jogo também tem uma comunidade interessada, mesmo que mais pequena que em Farming Simulator, mas ainda estão a jogar a entrada anterior, o que me obrigou a aprender quase tudo sozinho. 

Obviamente que algo tão complexo tem um tutorial, que até é surpreendentemente bom a dar ima ideia geral da progressão das nossas indústrias, bem como a nos ensinar onde procurar a informação, o que falta mesmo fazer é dar-nos um capacete para a quantidade de vezes que batemos com a cabeça, porque quem entra neste mundo pela primeira vez, não faz ideia. 

Rise of Industry 2 é bastante específico e complexo, e a maneira como o tutorial desliza graciosamente por essa dificuldade, amparando-nos a cada momento e retirando o ónus de lidar com o orçamento até nos engana isto, pelo menos, até tentarmos entrar no primeiro dos 15 cenários que a campanha que a Kasedo Games e Frank Wilson têm planeados para nós. 

Começamos com muito dinheiro, e o Município ainda nos dá mais. Parece que chega para sempre. Isto de fazer aço nem parece complicado. A extracção do minério é linear. Colocamos a mina, ligamos água e eletricidade, um armazém, tudo certo. 

Os problemas começam a partir daí. Já que ainda não consigo processar o minério, vamos vendê-lo e sempre se fazem uns trocos. Tentamos criar um contrato, mas não conhecemos ninguém que o compre, nem há ninguém para nos apresentar. Tenho de esperar pelo próxima Convenção. É daí a um mês. Espero um mês a acumular minério. Tenho que criar mais armazéns. O que vale é que o Município continua a injectar dinheiro. 

Entretanto vem a mensagem que estou a produzir resíduos e tenho que me livrar deles. Contrato alguém, ou compro um terreno para o despejar? Não sei como se compra um terreno, lá vai ter de ser um contrato. É caro livrar-me dos resíduos, por isso é que tantas fábricas os despejam nos rios. 

O problema seguinte é que não me vêm buscar os resíduos ao armazém, tenho que os transportar para o centro logístico, e isso implica um ponto de carga. Já não me lembrava das cargas. Faço isso e deixo direito. O contrato corre sem problemas, afinal sou eu a pagar, o que pode correr mal? 

Entretanto percebo como se compra o terreno, tenho que ter o funcionário certo para o fazer. Posso contratar só esse? Não. Tenho de contratar todos os anteriores primeiro. Mais dinheiro a pingar. Neste ponto ainda não é importante, continuo com muito. 

Nisto percebo o que são os pontos de tecnologia e desbloqueio a produção de aço. Agora já sei fazer as fábricas, armazéns e pontos de carga todos direitos. Começo a escoar matéria prima para fazer aço, ao mesmo tempo que conheço alguém que também me compra a restante. 

O dinheiro que se ganha é ínfimo. Há mesmo pessoal a fazer indústrias? É que nem compensa vender matéria prima, praticamente não pága os ordenados, mais vale fazer outra fábrica para transformar o aço, então faço isso. As coisas encaminham-se. 

Faço também uma alteração nos contratos de venda para juntar dois em apenas um e percebo que o Município já não tem casas para os meus funcionários. Tenho que ser eu a pagá-las. É uma cidade à antiga, vive às custas da empresa. Também já injectaram muito dinheiro, que neste ponto escoa a uma velocidade assustadora, parece que voa. Construo as casas. 

Aí reparo nos alertas que não estou a conseguir cumprir os contratos de venda. O que se passa? 

Era a água. Construo novo conector, mas não puxa mais água. Há umas poças no chão, mas não tenho a tecnologia para fazer essa extracção, só posso tirar dos canos, e mesmo que tivesse essa tecnologia, não dava para aplicar naquele tipo de complexo industrial. Tento bombas maiores, construo três, quatro, cinco, nada. O que se passa? Depois de falhar já vários contratos percebo que tenho um contrato com o Município para o fornecimento de água, e já estava a gastar toda, o contrato tem de ser revisto para mandarem mais. Faço isso e o problema desaparece. Finalmente volto a produzir. 

Infelizmente nessa altura o dinheiro tinha ido, os amigos estavam zangados, os empregados descontentes por não lhes estar a pagar. Fecho o save na falência. Um desastre. 

O melhor é mesmo ir para sandbox. Agora já sei mais ou menos as mecânicas, posso configurar tudo para ser fácil, vou fazer tudo mais devagar e dedicar-me à agricultura… bem, isto em si foi uma nova aventura, outra grande aventura cheia de mais cabeçadas, onde também acabei por falir. 

Mesmo assim, 10 horas passaram num instante. Acredito que não seja um jogo complicado depois de percebermos como nos mexer. Para ser honesto parece tudo muito linear. Faz uma coisa, transforma, junta a outras, cria o produto final, vende. Dito assim é bastante simplista, mas isto pode implicar muita descoberta, muitos contratos de compra e venda, muita progressão, muitas horas. Também não há nada que nos impeça de diversificar enquanto existir espaço, o que permite imenso replay value. 

Quis dar o passo maior que a perna com Rise of Industry 2. Não estava minimamente preparado para abordar este jogo. É por este motivo que muitos jogos se mantém de nicho. Nesta altura temos tantos jogos para jogar que a contrariedade nos incita a mudar, avançar, seguir para o próximo, algo que Rise of Industry 2 claramente não merece. Se já não queria ser patrão, agora tenho a certeza que não me quero meter na vida de mandar noutros. Rise of Industry 2 ensinou-me bem.