Já tenho um problema pedagógico em casa que a RV me está a tramar. Desde que eu era pequeno que me diziam para não estar demasiado perto da TV, norma incontestável que repito diariamente ao meu filho. Mas para quê? Agora que os óculos de RV são o equivalente não só a ver televisão com a cara encostada como a abrir bem as pálpebras e encostar os olhos ao ecrã.

Sem mais demoras, porque é óbvio que os indies desta semana são jogos na primeira pessoa a gritarem por VR como quem grita por um Bola de Berlim na praia.

Breached

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Sem qualquer dúvida o jogo mais interessante destes 3 indies desta semana e aquele que mais ganharia com um dispositivo VR. E ironicamente aquele em que estamos, literalmente, presos a uma cadeira.

Começamos Breached com um interface a fazer o diagnóstico do nosso súbito acordar de animação suspensa. Enquanto a IA da nave avaliam o nosso estado físico e o da nave. A conclusão é trágica e é tragicamente um cliché do sci-fi: se não conseguirmos reparar a nave, ficaremos sem oxigénio em oito dias e morreremos.

Em Breached existe uma narrativa subjacente que vai para além da mera caça de recursos para reparar a nossa nave e escaparmos do nosso acidente. E essa narrativa é cimentada por dois elementos duplos: o primeiro em que o protagonista, e nós, invariavelmente, estamos presos à nossa cadeira e tudo o que vemos são uma série de ecrãs, dos quais um deles é o segundo elemento de destaque, os drones, que nos permitem a mobilidade teleguiada pelo ambiente alienígena e com o qual recolhemos os materiais necessários à nossa sobrevivência.

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É irónico que num jogo em que estamos literalmente imóveis dentro do cockpit de uma nave, e em que o movimento é apenas trazido pela simulação da câmara de uma nave acabe por ser aquele em que um dispositivo VR melhor ajudaria a incutir a pressão e o desespero de todo o jogo. É essa sensação de vulnerabilidade que seria perfeitamente trazida com a imersão trazida pela Realidade Virtual, em que o isolamento do mundo real far-nos-ia sentir de forma mais acutilante um jogo em que não nos conseguimos mexer.

Pool Nation VR

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Num cenário distópico, o Brexit recém-estupidamente-aprovado no Reino Unido despoleta uma série de alterações sociais e passamos todos a viver num país semelhante ao descrito no clássico Kallocain de 1940 (n.a.: se não leram, vão ler). Nesse país todas as formas de diversão são abolidas e as memórias que temos de ir para tascos empoeirados e engordurados para jogar snooker e bilhar será apenas isso mesmo: memórias.

E é aí que entra o mais recente jogo do estúdio Cherry Pop Games: Pool Nation VR, que nos traz um simulador de bilhar em realidade virtual, em que conseguimos interagir com garrafas e copos espalhados pelo bar, e, por exemplo espalhá-los em cima da mesa de bilhar. Quem nunca o fez na vida real? Eu já o fiz, fiquei ansioso por repetir a experiência, com a benesse que não tenho o risco de me sujar/cortar com os cacos.

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Como é que podíamos melhorar a experiência de estar num pub? Podendo jogar dardos e tendo a possibilidade de pegar em cadeiras, em que qualquer uma destas acções pode ser feita em qualquer ordem.

Brincadeiras à aparte, a realidade é que Pool Nation VR traz de forma simples um grande entendimento das potencialidades desta tecnologia que a pouco e pouco vai entrando nas nossas casas.

Crimson Room: Decade

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Já o tínhamos referido várias vezes, e não nos apetece repetir algo que é praticamente um dado adquirido: a corrente de game design que se te debruçado nos últimos anos à volta de experiências narrativas na primeira pessoa só tem algo a ganhar com os dispositivos VR.

Não é por isso de estranhar que a tónica dos últimos meses tenha sido uma invasão do mercado indie com experiências deste género, umas literariamente piores do que outras, e muitas a passarem aqui pela atenção da capoeira.

Crimson Room: Decade é a comemoração do fenómeno viral da internet de há dez anos (Crimson Decade) que nos colocava na estranha missão de interagir com uma série de objectos para tentar encontrar a forma de sair da sala vermelha pela porta azul.

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Com uma história a decorrer subjacente a todo o mistério do porquê de personificarmos alguém que está encerrado num quarto vermelho, e onde a combinação de objectos vai resultando em respostas mais ou menos encriptadas para alguns puzzles. Mas decerto é um jogo que ainda que não possua um gigantesco avanço gráfico, ganharia muito no tom misterioso com a inclusão do VR.