Há uns anos tive uma amena cavaqueira num bar que as coisas mais absurdas que possamos imaginar já foram convertidas para anime ou manga. Alguns anos volvidos e a avalanche de videojogos que são lançados diariamente facilmente ultrapassarão a quota de absurdez dos manga/anime.

O título diz tudo sobre Gotta Go, desenvolvido pelo Dire Nerd Studio. A missão é simples: conseguir chegar à casa-de-banho do emprego evitando as conversas de circunstância dos colegas e fazer o que necessitamos antes do tempo, que é como quem diz, nas calças. Não sei em que escritórios é que estes autores trabalham, mas na minha experiência pessoal nos 4 em que trabalhei, nunca houve ninguém que me quisesse impedir à casa-de-banho. 

Todo este conceito é prometedor o suficiente para gerar alguma curiosidade e fermentar-me uma vontade tremenda de o jogar. O problema? É que uma boa ideia não chega, e a execução de Gotta Go rapidamente nos prova isso.

O problema não é a sua simplicidade mecânica onde temos de ir do ponto A ao ponto B. Pelo meio, como referido, temos de evitar conversa de circunstância ou se formos abordados por algum colega ultrapassar um monótono QTE para os fazer calarem-se. A possibilidade de soltarmos alguma flatulência alivia alguma da aflição para defecar, mas se algum colega cheirar os nossos gases fará queixa aos Recursos Humanos, o que baixará o valor que se mantém de nível-para-nível, e chegando a zero somos despedidos.

E agora uma pequena pausa para que todos nós digiramos que nos últimos parágrafos falou-se de defecar e flatulência. O que pode ser o ponto mais baixo desta coisa amadora a que chamo “carreira de crítico de videojogos”.

Mas voltemos a Gotta Go. As ideias são boas, ou vá, interessantes e diferentes, mas a execução, como referido, é terrível. Do ponto de vista visual há uma grande diferença entre uma direcção artística sólida e depurada de algo que exala (trocadilho intencional) as deficiências técnicas visuais da equipa.

A segunda é que o conceito e as mecânicas se esgotam rápido, e à medida que esta repetição desinteressante com layouts diferentes se vai espraiando de nível para nível também a nossa percepção do oásis que corresponde ao interesse inicial de Gotta Go se esfuma como flatulência ao ar livre.

Muita gente dirá que por 4,99€ pouco mais poderia pedir, mas tenho que objectar dessa opinião. Por 4,99€ ou menos há indies verdadeiramente soberbos cuja qualidade eclipsa até os mais portentosos blockbusters. Não é o caso de Gotta Go, que deixa transpirar todas as suas deficiências para além do conceito original, num resultado final que é uma cólica indecisa entre preguiça ou inépcia de desenvolvimento.

Nota: editado às 19:08. O Miguel lembrou-nos de um artigo sobre um jogo com semelhante temática publicado aqui no Rubber em 2013.