Um ano depois da desilusão com Dino Dini’s Kick Off, o espírito de revivalismo dos jogos de futebol do início da década pairava sobre nós como um ominoso espírito de um conto de Dickens. É claro que já todos sabíamos que John Hare tinha um sucessor espiritual do seu Sensible Soccer, um dos maiores marcos (senão o maior) futebolísticos da história dos videojogos.

Sociable Soccer? Isso é ir para a rua com os amigos dar uns pontapés na bola?” perguntou-me o João Machado, no seu tom habitualmente irónico, enquanto falávamos em torno de um chá quente numa tarde fria deste Outono estranho sobre os títulos que ambos temos em mãos. 

O meu contacto com Sensible Soccer foi relativamente diminuto, e resumia-se aos dias em que podia jogar em casa do meu primo no seu Amiga. A diferença entre os estonteantes 16 bits de Sensible Soccer e o meu amado Nintendo World Cup (que ainda hoje, pelo peso da nostalgia, está no topo dos meus jogos favoritos de futebol) era tão grande que dificilmente consigo apagar aquela imagem da minha cabeça.

A proximidade com os gráficos (e jogabilidade) arcade que este jogo de Amiga tinha era suficiente para embasbacar qualquer um, em especial para quem o contacto era esporádico. Ali estavam definidos muitos elementos que iriam ser integrados nos jogos de futebol durante anos, até que o crescimento tecnológico dos videojogos e a competição entre FIFA e PES levou a modalidade virtual para o local onde hoje está.

Ainda em Early Access no Steam, Sociable Soccer quer ser uma maré de revivalismo num oceano contemporâneo de realismo. John Hare sabe exactamente que não está a competir na mesma Liga dos dois gigantes dos videojogos de futebol, mas sim num campeonato cujas regras foi ele quem definiu, e que tem um público-alvo circunscrito. E é para eles (nós) que aponta as baterias do seu novo jogo.

O seu feel arcade é o que nos conquista de imediato. Distante das complexidade modernas, Sociable Soccer leva-nos de volta a um período onde o futebol jogado virtualmente era dinâmico, simples, mas não menos emotivo pela sua aparente simplicidade. Como em todos os jogos de futebol que jogámos na década de 1990, Sociable Soccer mostra-nos que o seu verdadeiro brilho está na competição com outros jogadores, onde pomos a nossa perícia à prova com um número limitado de botões e comandos.

Neste momento o conteúdo existente (em termos de Modos) ainda é curto, mas mantendo a tradição dos jogos de John Hare, as centenas de clubes diferentes (e milhares de jogadores) deixa antever um diversificado modo à la FIFA Ultimate Team interessante. É claro que neste caso o licenciamento é inexistente, e jogar com o clube que tenta “imitar” o Sporting dá-nos nomes hilariantes que relembram os jogadores reais, mas que se assemelham a alguém esfregar a testa no teclado.

A jogabilidade está fiel ao que esperaríamos de um título revivalista como este, e que nos traz o feel da época mas com uma apresentação mais digna de 2017, sobretudo em termo de UI. Os modos existentes fazer vislumbrar uma das mais interessantes abordagens ao futebol fora da esfera dos “grandes”, com as promessas de muitas futuras implementações, tanto ao nível do single player, como de multiplayer local e online. O desenvolvimento de uma edição VR (cuja utilidade é o único ponto que discuto) ou a possibilidade de vermos um modo tridimensional com câmara 

Se o receio com a valente perda de tempo que foi o Kick Off nos deixou com dois pés atrás, Sociable Soccer faz-nos correr de volta para dentro do campo, com entusiasmo, a mostrar que já na altura John Hare consegui a cada produção conseguia ofuscar Dini, mais de duas décadas depois neste “segundo fôlego” dos seus jogos a tendência mantém-se.