A sabedoria futebolística pode, e deve, arrisco eu a afirmar, ser aplicada a quase todos os momentos do nosso quotidiano. Ultrapassando em larga escala questões do sublimação, existencialismo ou tantos outros “ismos”, parece-me que verdadeiros pensadores como o treinador do meu clube, Jorge Jesus, é que detêm para si o dom de clarividência e de trazer para os comuns mortais como nós o caminho da luz e da razão.

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Portanto a máxima “em equipa que ganha não se mexe”, que apesar de autor aparentemente anónimo deverá ser quase de certeza um treinador ou ex-jogador de futebol. E porque é que eu sei disto? Porque sei.

O sucesso que a Square Enix Montreal alcançou quando tomou a opinião pública de assalto com o seu magnânimo puzzle game Hitman GO abriu as portas para um filão que rapidamente poderia ser explorado. Cedo chegou Lara Croft GO, com igual sucesso comercial e crítico a demonstrar que as célebres palavras pronunciadas no mundo do futebol ajustam-se como uma luva (de guarda-redes?) nesta situação.

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Com tantas Propriedades Intelectuais de peso a pertencerem à Square Enix, o caminho natural passaria, como todos sabíamos, por alargar esta experimentação a outras franquias. A chegada de Deus Ex GO como aperitivo para o recém-lançado Deus Ex: Mankind Divided não apanhou ninguém de surpresa. Aliás, com a interacção de rewards para Mankind Divided, Deus Ex GO acaba por funcionar como companion para o jogo (dito) principal.

Apesar de ser desenvolvido pela mesma equipa, há diferenças substanciais entre este Deus Ex GO e os seus restantes irmãos GO. O primeiro é que, e em linha de conta com a tónica altamente narrativa da série Deus Ex, este jogo possui um grande foco na história que se vai desenvolvendo entre Adam Jensen e os restantes personagens. É claro que os diálogos e o contexto da pseudo-história são perfeitamente marginalizáveis no ambiente deste jogo mobile, e acredito que a maioria dos jogadores só não faz skip aos diálogos pela simples razão que é impossível fazê-lo. Percebe-se a vontade e a necessidade do estúdio de Montréal de criar uma substância narrativa para este Deus Ex GO, mas não é estranho percebermos que esta adição é algo inócua perante o ónus de um jogo mobile como este, que reside quase única e inteiramente nos puzzles.

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Esteticamente Deus Ex GO segue a linha de pseudo-depuração dos seus predecessores mas apostando mais em formas geométricas para conceber os cenários/níveis, remetendo directamente para a linguagem visual do universo cyberpunk de Deus Ex.

A resolução dos diversos puzzles passa em grande parte pela utilização de algumas das habilidades trazidas pelos melhoramentos cibernéticos de Adam Jansen, e que envolvem invisibilidade, hacking que nos permite controlar turrets adversários, entre outras “poderes” que em conjunto vão definindo a complexificação dos puzzles à medida que avançamos no jogo.

Ao contrário dos dois jogos anteriores da franquia, em especial Hitman GO que permitia mecanicamente diversas abordagens à resolução de cada nível, Deus Ex GO parece-me o mais rígido dos três, em que as soluções são muitas vezes únicas e envolvem em excesso a necessidade de andar para a frente e para trás para conduzir os adversários a posicionarem-se no ponto exacto que possibilita a ultrapassagem do nível.

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Ainda assim, e rematando (trocadilho não intencional) com a frase que serviu de mote ao artigo, Deus Ex GO é a prova que realmente “em equipa que ganha não se mexe”  e é um excelente jogo e um dos jogos mobile obrigatórios para todos os fãs de puzzle games. O seu excesso de rigidez poderá estar directamente ligado à complexidade e diversidade de mecânicas implementadas pelas muitas augmentations do protagonista, o que acaba por conduzir à frustração os fãs de jogos de puzzle que gostam de explorar caminhos menos óbvios. Mas é um preço curto a pagar por mais um óptimo puzzle game para o mercado móvel, tão pejado que está de centenas de outros jogos desinteressantes.