A Hora do Meh #31

Parecem bandos de pardais à solta… os indies. O Carlos do Carmo que me desculpe, mas se há coisa que deu para perceber no meio da pandemia é que ainda que muitos sectores tenham sido afectados, o dos videojogos, não. E ainda bem. E onde é que isso se nota bem? Nos bandos de indies que nos chegam incessantemente.

Estatisticamente seria impossível que nas largas dezenas de jogos que recebemos por mês, todos eles fossem bons. Serem maus é uma maior probabilidade, mas serem meh, naquela linha fina que não é carne nem peixe, já é mais difícil. 

Mas esta semana trazemo-vos um grande 31. São 2 indies que não nos aqueceram nem arrefeceram nas últimas semanas, e que rapidamente vamos esquecer, depois de os imortalizarmos num artigo desta nossa rubrica.

Wavey the Rocket [PC]

Quando uma corporação com instintos malignos quer destruir a Lua (ciente ou não que isso iria condenar a vida na Terra como a conhecemos), quem é que podemos chamar? O Super-Homem? Não. Wavey the Rocket.

O titular míssil que é protagonista de Wavey the Rocket é provavelmente um dos projécteis bélicos mais carismáticos que já conheci, talvez apenas ultrapassado pelo Fat Man. Mas de volta ao jogo: é mesmo irritante como é que um jogo com uma premissa tão inteligente, que adapta uma mecânica que já jogámos noutros jogos, mas acaba por criar um jogo perfeitamente… meh.

Neste indie lançado em PC nós não controlamos o Wavey, mas sim a onda que lhe serve de teleguia pelos níveis fora. Temos dois eixos para alterar: a amplitude da onda, “abrindo-a” na vertical, ou o ritmo da repetição, “encurtando-a” na horizontal. É nesta adaptação ao segundo que temos de levar Wavey a apanhar todos os elementos espalhados pelos níveis coloridos. 

Mas o problema? É que é uma ideia que se esgota muito rapidamente. Entre o tempo de masterização mnemónica dos controlos e o usufruto do que o jogo tem para dar, já a brisa de novidade partiu e com ela alguma vontade de continuarmos a jogá-lo. 

Wavey the Rocket é uma aplicação que funciona bem em mini-jogos, isolados no tempo e na duração. Como jogo isolado a custar 16,99€ não representa o quão meh é.

Lumberjack’s Dynasty [PC]

Os simuladores têm um nicho específico, e isso já todos sabemos. Não é um género para o público geral, e até eu já senti por diversas vezes que é possível encontrarmos uma grande diversão quando nos cruzamos com um bom jogo do género. 

Lumberjack’s Dynasty ainda está longe de estar terminado, e apenas há poucas semanas chegou a Early Access ao Steam. Um jogo onde vestimos a camisa de flanela aos quadrados para incorporarmos o Paul Bunyan que existe em nós, enquanto nos fazemos à estrada para tomarmos posse da empresa de serração que herdámos dos nossos tios. 

Meio simulador de vida, e totalmente simulador de lenhador, Lumberjack’s Dynasty tem uma aura estranha, já que tenta encaixar num jogo deste tipo um linha de enredo que soa artificial. Quem quer pegar num jogo de simulação, quer fazê-lo pela mimetização de experiências quotidianas que não tem na vida real. No Bus Simulator eu quero conduzir um autocarro urbano, mas não tenho de saber se o protagonista invisível tem problemas de alcoolismo e que foi vítima de violência doméstica. Ou num Construction Simulator saber que o servente de pedreiro que nós somos teve aspirações para ser Físico mas faltou aos exames de acesso da Faculdade e ficou para sempre arredado do Ensino Superior. 

Em Lumberjack’s Dynasty querem que tomemos atenção à história dos vizinhos dos nossos tios, e das tramas que por ali sucedem, mas o que nós só queremos mesmo é cortar madeira. Deixem-nos em paz! Ainda por cima o jogo está tão cheio de bugs que nem conseguimos fazê-lo em condições.

Lumberjack’s Dynasty quer tanto vender-nos uma história credível que falha no essencial: na simulação apurada, que está nesta fase de alpha completamente quebrada. E por isso cai ali naquela linha meh, em que quer ser várias coisas e fá-las todas na mediania.