
Dado o nosso mútuo gosto por Licor Beirão, eu e o Rui Parreira, no episódio que gravámos na semana, acabámos por desembocar (ou desenfrascar) numa afirmação algo polémica que ele proferiu: Licor Beirão com Red Bull é bom. Gosto de misturas estranhas, e portanto não vou negar à partida uma bebida que desconheço. Um pouco como faço com os jogos: mesmo que a premissa ou a mistura de géneros possa soar estranha à partida, mas mais vale pôr o copo à boca e prová-lo.
StarVaders é um destes cocktails de bebidas distintas mas que encaixam no palato: um jogo indie que faz estranhamente sentido pela forma como mistura géneros, combinando a lógica táctica por turnos com elementos de deckbuilding, com uma direcção de arte que nos leva para os desenhos-animados de sábado de manhã.

A premissa é simples, mas a execução é profundamente estratégica: controlamos mechas com diferentes estilos de combate num tabuleiro onde os inimigos vão avançando gradualmente. A cada turno, temos de jogar cartas com diferentes efeitos, sejam ofensivos, defensivos ou utilitários, para enfrentarmos as vagas de inimigos que se aproximam lentamente, onde o posicionamento é a diferença entre o sucesso e a morte.
Uma das maiores forças de StarVaders está na variedade dos três mechas principais, cada um com uma identidade e um sistema de recursos distintos: o Gunner, que usa calor como combustível e precisa de cuidado para não sobreaquecer; o Stinger, focado em ataques corpo-a-corpo e projécteis que podem ser recuperados; e o Keeper, um summoner que recorre a mana regenerável para lançar feitiços contra nossos inimigos. Estes mechas são pilotados por diferentes personagens, sendo que o jogo nos traz cerca de 10 pilotos diferentes, cada um com o seu próprio baralho e habilidades passivas únicas, o que resulta numa enorme diversidade de combinações e abordagens tácticas.

A progressão no jogo é baseada em runs curtas, o que nos facilita a experimentação de combinação entre mecha e piloto, perante aquele que melhor se ajusta ao nosso estilo de jogo. Desbloqueamos novas cartas, artefactos e pilotos à medida que avançamos, o que nos encoraja à rejogabilidade sem nos sobrecarregar em excesso com demasiadas opções desde o início.
Um sistema interessante que StarVaders implementa é o dos Crono Tokens, que nos permite anular a última acção tomada, funcionando como uma espécie de botão de undo que de alguma forma suaviza a curva de aprendizagem sem eliminar a tensão táctica.

A sua direcção de arte de cartoon televisivo de fim-de-semana encaixa bem com a sua identidade retro-futurista, e rapidamente percebemos que StarVaders é generoso em termos de conteúdo: são mais de 400 cartas, mais de 150 artefactos, dezenas de inimigos e bosses, para além de desafios diários e modos adicionais que nos mantêm interessados a longo prazo.
Para quem gostou de jogos como Slay the Spire, Into the Breach ou até Advance Wars, StarVaders oferece um equilíbrio raro entre complexidade estratégica e desafio acessível, com as suas vertentes roguelike e deckbuilder a trazerem um sabor diferente a um género que conhecemos bem, há décadas.













