
O meu primeiro contacto com navios voadores, sejam eles espaciais ou não, deve ter sido ou o Captain Harlock do lendário Leiji Matsumoto, ou mesmo no cartoon do Teddy Ruxpin, e apelavam-me, de alguma forma, ao meu sangue português cujo fado parece ser traçado a lágrimas e sal.
Não é por isso surpresa que a promessa de jogos onde navegamos, seja pelo mar, seja pelo ar, seja um apelo quase imediato que me agarra pelo peito e me compele a experimentá-lo. Um desses casos foi Void Sails, um jogo indie de aventura e RPG desenvolvido pelo estúdio de três pessoas chamado Ticking Clock Games, e que foi lançado a 14 de Maio de 2025 no Steam.

Nele assumimos o comando de uma nave voadora steampunk, embarcando numa viagem pelo espaço por ilhas flutuantes em busca do pai desaparecido do nosso protagonista invisível. Há muito na atmosfera de Void Sails que combina o visual estilizado inspirado por Treasure Planet, mas interligado com elementos obscuros e alienígenas, que na realidade “casam” de forma perfeita na premissa lovecraftiana.
A estrutura de gameplay divide‑se entre combates navais tridimensionais e sessões de narrativa bidimensionais com escolhas, ramificações, e consequências ao sabor da “roda da fortuna”, aqui mecanicamente equivalentes a skill checks de outros RPGs.
O combate espacial exige manobras cuidadosas, gestão de energia (entre escudo, boost e canhão) e posicionamento cuidado ao redor dos inimigos, e facilmente me senti levado para o ambiente de um jogo indie multiplayer que joguei bastante noutra vida: Guns of Icarus. Já as secções textuais ao estilo Fighting Fantasy obrigam-nos a decisões que afectam o desenvolvimento da história, ainda que o sistema de atributos estabelecidos para a nossa personagem, como Percepção, Conhecimento e Determinação seja algo limitado para a profundidade narrativa que o jogo prometia.
No entanto é fácil de sentir que o combate se torna bastante repetitivo após dominarmos os padrões dos inimigos, e os momentos narrativos, apesar de envolventes, são relativamente curtos e por vezes abruptos no fim. Sempre que interagimos com as ilhas flutuantes, o único contacto que surge é em formato páginas de escolha, o que torna toda a progressão bastante monótona, e rapidamente perde o seu encanto dada a repetição da navegação e batalha naval.

E isso é perceptível num jogo com um tamanho bastante reduzido, onde conseguimos terminá-lo com cerca de 3 a 4 horas, e onde a dificuldade irregular trazida pela aleatoriedade das interacções narrativas dependentes da sorte e os finais algo abruptos nos deixam com a sensação de que poderia haver algo mais.
Void Sails oferece uma viagem breve, apoiada por uma direção artística sólida e ideias originais. Com a mistura de dois mundos distintos: a tridimensionalidade da navegação e a bidimensionalidade textual dos momentos narrativos, algumas mecânicas perdem-se pela repetição, mas reflectem a ambição de um estúdio indie pequeno, mas cheio de potencial.














