Por alguma razão que não sei explicar, no fundo da minha memória o original Daemon X Machina foi lançado para Wii U. Mas não, não foi, e vocês todos devem ter reparado nisso quando leram a frase anterior, mas eu tive mesmo de ir confirmar “na rede” que a minha memória estava errada. Será que o jogo foi revelado ainda na era da Wii U e por isso a minha dúvida existe? Ou é só mesmo o grande blur do passado recente próximo da pandemia a vir ao de cima? Não sei, mas não interessa. Pelo menos por agora.

Foi há 6 anos que o jogo foi lançado e eu, sequioso de um bom jogo de mechas, caí de cara no chão. Daemon X Machina era monótono e limitado, onde o combate apesar de semi-satisfatório era repetitivo, e nem a minha óbvia predilecção por mechas me deu vontade de o terminar.

A noticia de uma sequela, Daemon X Machina: Titanic Scion representa uma tentativa ambiciosa da Marvelous de expandir a série para além dessa primeira iteração e de conquistar um público mais vasto, e foi recém-lançado para Switch 2, PlayStation 5, Xbox Series e PC, denotando uma espécie de divórcio (ou desilusão da parte da Nintendo) visto que ao contrário do original, esta sequela deixa de ser exclusiva. 

Em termos narrativos – para aqueles que não vão a correr mergulhar na acção contagiante com mechas – coloca-nos perante a luta contra o império autoritário Sovereign Axiom, numa guerra contra forças humanas assim como contra os misteriosos Immortals, inimigos mecânicos e alienígenas que ameaçam o equilíbrio da civilização.

Se no jogo de 2019 o foco recaía em combates aéreos de grande escala, Titanic Scion aposta num estilo de ação mais próximo da dimensão e escala humanas. Os Arsenals são agora mais ágeis e rápidos, favorecendo combates de curta distância e uma mobilidade que nos lembra o proposto por experiências como Anthem. Para atingir a sensação de velocidade e agilidade, sacrificou-se o peso dos ataques, retirando alguma intensidade ao combate quando comparado com o original, sobretudo no uso de armamento pesado.

Uma das grandes diferenças deste Daemon X Machina: Titanic Scion é o facto de nos trazer uma experiência em mundo aberto, muito distante do sistema de corredores invisíveis e missões curtas do original, que demonstraram rapidamente as suas costuras. Acredito que muito se deva essa mudança de visão à mudança da equipa criativa para este segundo jogo, com Ken Awata a assumir o cargo de director e o designer principal ser Noriaki Maruyama.

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Apesar de partilhar o mesmo nome, Titanic Scion é muito mais que uma sequela, com muitas mudanças mecânicas, nomeadamente o sistema de Fusão, que nos permite incorporar factores extraídos dos Immortals — Might, Shell e Skeleton — e assim desbloquearmos poderes devastadores, onde cada fusão altera fisicamente o nosso protagonista, criando um dilema entre poder e identidade. É-nos possível regressar à forma humana, mas isso implica abdicarmos dessas habilidades, numa camada de decisão narrativa que, embora subtil, diferencia muito a jogabilidade. 

Outro elemento que ressoa imediatamente com todos os fãs de mechas é a possibilidade de invocarmos uma Heavy Armor, um tipo de exoesqueleto mais “robusto” que funciona como recurso temporário, mas que é extremamente útil para enfrentarmos inimigos de maior escala ou em momentos de maior pressão e em que estejamos em risco de sermos derrotados.

Tal como no anterior, a personalização mantém-se como o coração da experiência: cada Arsenal pode ser modificado ao mais ínfimo detalhe, desde armamento e estética até peças estruturais que alteram estatísticas, dando um brilhozinho nos olhos a todos os minmaxers que decidam jogá-lo. 

Esta profundidade contrasta com a simplicidade da exploração em mundo aberto, que alterna entre vastas áreas pouco povoadas e missões repetitivas de entrega ou caça de recompensas mas com uma grande liberdade de locomoção: é possível deslocarmo-nos a pé, de moto — que se transforma em arma pesada —, a cavalo ou em pleno voo, criando momentos de pura experimentação mecânica.

Ainda que o jogo acerte na variedade de combate e no sentido de estilo visual, a história é genérica, e os personagens carecem de carisma, especialmente quando comparado com excelentes séries de mechas, que em nada ajuda os cenários vazios, a lembrarem a geração da PS3, com os robots em si a serem justapostos num mundo desértico e visualmente desinspirado.

Daemon X Machina: Titanic Scion confirma-se como um jogo de nicho, capaz de apaixonar quem valoriza personalização, velocidade e acção estilizada, mas sobretudo quem ama mechas, já que será incapaz de conquistar verdadeiramente um público mais vasto pela falta de inspiração visual para além dos robots e pela pouca profundidade narrativa.