Das apresentações de jogos da E3 2018, um dos que me chamou mais à atenção foi My Friend Pedro, da Devolver. Não só pela premissa de uma banana falante ser o motivador de uma carrada de homicídios, mas também pela mecânica bullet time aliada ao que parecia um ballet de balas, sangue e morte em câmara lenta. Aproveitei que o jogo tinha uma campanha de saldos pré-lançamento na Nintendo Switch e comprei-o para ser o primeiro dos meus jogos de diversão na minha sabática parcial. Infelizmente My Friend Pedro não é o que eu esperava e por isso, é que em vez de apenas o jogar, decidi escrever esta opinião sobre ele.

Não posso dizer que My Friend Pedro seja um mau jogo, até pode ser um óptimo jogo para algumas pessoas se quiserem tirar dele aquilo para o que foi feito (parcialmente, mas já lá vamos) ou quiserem criar maneiras de retirar mais sumo do limão. Ou neste caso, meter leite na banana para fazer um batido. Ou Smoothie, ou lá como se chamam agora em marketing.

Para tirar as dúvidas do caminho de porque My Friend Pedro não encheu as expectativas que tinha criado (mea culpa) sobre ele, tenho que explicar como o jogo é anunciado. O resumo oficial do jogo diz:

My Friend Pedro é uma história sobre amizade e imaginação protagonizada por um homem que, às ordens de uma banana inteligente, luta para acabar com todos os que se colocarem no seu caminho.” … “Controla livremente as ações e as armas da personagem e dá início a uma impiedosa onda de destruição.” … “Quando te vires numa situação complicada, abranda a ação para apontares com maior precisão. E porque não utilizas o gerador automático de GIF do jogo para partilhares vídeos das tuas sequências mais espetaculares nas redes sociais?

Portanto, tudo no jogo e em especial se fossemos ver os vídeos de apresentação e gifs que circulavam a net antes do seu lançamento dizia-nos que teríamos disponível uma espécie de Max Payne em animação, ou Matrix sob o efeito de ácidos. Jogando as pouco mais de 3 horas que demoram os níveis todos da história relativamente ridícula percebemos que há umas falhas sérias na promessa que estava implícita. É verdade que quando estamos a jogar os níveis iniciais as cenas de acção são emocionantes e fantásticas. Cambalhotas no ar em slow motion, com uma arma para cada lado numa chuva de balas dividida por todos os inimigos que nos tentam matar. Gradualmente vamos tendo mais coisas com que brincar como cordas para deslizar verticalmente, guinchos para descer na diagonal, janelas que podemos atravessar e até frigideiras ou outros objectos nos quais podemos fazer ricochete e matar os inimigos em sequências dignas de um filme de John Woo. Rapidamente percebemos que My Friend Pedro tem mais de Puzzle Game do que Action Shooter. E aqui é que começa a perder o encanto.

Sempre que entramos numa nova secção, a nossa mente automaticamente faz a leitura do que o game designer queria que fosse feito naquele cenário. Vemos logo o posicionamento de objectos e dos inimigos para a execução e quando o fazemos percebemos que era esse o objectivo. As cenas de acção continuam a ser óptimas quando as fazemos mas perdem algo quando cai a ficha que não foi o nosso eu adolescente que se transportou para os dias de hoje e imaginou aquela sequência mas sim que fomos guiados para ela como um carro sobre carris. Mesmo com esse ponto, continua a ser interessante só que depois chegamos à segunda metade do jogo onde My Friend Pedro se transforma noutra coisa, passa a ser um Puzzle Platformer onde passamos mais tempo a carregar em botões para acionar portas e a desviar de sensores do que a disparar contra os parcos inimigos que nos aparecem pela frente. Até aos níveis finais onde em algumas zonas há tantos inimigos que nem o movimento de dodge (em que durante um tempo limitado o protagonista roda e não é atingido por tiros) é suficiente para poupar a nossa vida. Dá a impressão que o jogo estava desenhado para os primeiros níveis, e quando o tentaram vender chegaram à conclusão que era pouco, então enfiaram mais uns com um estilo completamente diferente para encher o chouriço.

My Friend Pedro acaba-se em pouco mais de 3 horas como já tinha dito acima, e aqui temos que fazer a decisão final sobre o valor monetário que o jogo implica neste momento. Se acham que depois das 3 a 4 horas vão voltar a fazer os níveis para bater a vossa pontuação, desafiando-se a acabar cada um de uma maneira mais rápida e eficaz colocando o vosso nome no top mundial? O jogo vale os €20.

Por outro lado se apenas o vão jogar uma vez, ou no máximo correr mais alguns níveis para tentar fazer de uma maneira mais original do que a que está apresentada? Por exemplo eu fiz alguns em que só matava os inimigos ao pontapé sem dar um único tiro, então nesse caso comprem em saldos na Switch, Steam ou outras plataformas em que esteja disponível no futuro.