
Boku no Hīrō Akademia tinha apenas meia dúzia de capítulos publicados na emblemática Weekly Shōnen Jump quando um amigo me disse: “tens mesmo de ler isto”. A história, sui generis, onde a grande maioria da população mundial desenvolveu superpoderes, o protagonista, Izuku Midoriya, sonha com a possibilidade de ele mesmo vir a desenvolver capacidades sobre-humanas. Esta é a premissa que vai abrir caminho para um dos manga (e anime) mais famosos da última década, que continua a somar seguidores pelo mundo fora até hoje.
Dadas as ligações da Weekly Shōnen Jump à Bandai Namco – sendo que esta tem desenvolvido praticamente todas as adaptações a videojogo das séries publicadas na revista – o mais natural é que os videojogos de My Hero Academia, como é conhecido no Ocidente, nos fossem trazidos por ela.
Depois de um primeiro jogo de luta lançado há dois anos, My Hero’s Justice 2 chega-nos há dias ao PC, PS4, Xbox One e Switch como mais um jogo de luta “à Bandai Namco”, lembrando, de forma óbvia as adaptações de outras séries da Jump, especialmente Naruto.

Apesar do conselho do meu amigo, acabei por não “clicar” com a história de banda-desenhada, e este mergulho no videojogos vale por si só, sem conhecimento do universo no qual ele é baseado. Diria que tanto melhor. Elevar a tabula rasa a tradução videolúdica de uma das séries de anime mais famosas da actualidade, percebendo dessa forma se este jogo tem argumentos suficientes para se equiparar ao que de melhor o mercado tem para oferecer em termos de jogos de luta.
O modo história segue, obviamente, o desenrolar da história do anime. Não tendo visto o anime, acredito que assim o seja, e admito que apesar de ser mais um shonen, percorrer este modo de história (ou aliás, ver percorrer, mas já lá vamos) criou-me vontade suficiente de mergulhar finalmente na série de animação. Nesse aspecto diria que o jogo é um verdadeiro sucesso, a servir para muitos (como eu) de um verdadeiro gateway para o resto do franchise.
Terminado o modo história eis que se abre uma surpresa (pouco surpreendente): a etiqueta “Villains” que surge desfocada desde o início no HUD no menu principal desbloqueia-se para podermos jogar a história pelos olhos (e punhos) dos vilões, o que na prática é uma desculpa para incluírem estes personagens como jogáveis no modo.

Ah, e porque é que eu disse “ver jogar”? Porque grande parte do modo história foi passado pelo meu filho mais velho, que rapidamente se inteirou das mecânicas e particularidades do sistema de combate de My Hero’s Justice 2.
Ao contrário de jogos de luta mais tácticos, My Hero’s Justice 2 prefere dedicar a sua atenção a um sistema mais acessível, com os ataques e combos, contra-ataques e ataques especiais a serem desferidos com o pressionar de poucos botões. O sabor adicional ao jogo surge pela espectacularidade de toda a acção, com os personagens a serem projectados pelo nível com murros e pontapés, numa acção dinâmica e esfuziante.
A contribuir para este salutar over-the-top do combate está as mudanças de “gravidade”, ou seja, por vezes os combates extravasam as leis naturais e depois de acertarmos um murro certeiro num adversário, este pode assentar os seus pés numa parede de um prédio e prosseguimos daí o combate: onde essa parede passa a ser o nosso novo chão.
Para além de escolhermos o nosso personagem principal e de termos as habituais barras de ataques especiais, temos de escolher 2 sidekicks (ao estilo dos clássicos jogos da Capcom). Estes sidekicks podem ser invocados para contribuírem para combos ou para efectuarem ataques especiais.
Os modos adicionais não trazem nada de novo ao género, nem esperaríamos que assim fosse. Entre modos de treino, arcada e multiplayer online, My Hero’s Justice 2 limita-se a cumprir a sua missão: ser uma tradução videolúdica direccionada para os fãs da série criada por Kōhei Horikoshi.

Não sendo extraordinariamente interessante como fighting game, ou profundo e diversificado como muitos outros, My Hero’s Justice 2 parece-me ser quase exclusivamente indicado para os mais fortes fãs da série, ou para pessoas, como eu, que ainda não conhecendo bem My Hero Academia encaram este videojogo como uma potencial porta de entrada.
Apesar do elenco divertido, a falta de uma abordagem verdadeiramente original circunda este jogo numa prateleira de título de nicho. Quem conhece Boku no Hīrō Akademia vai decerto adorar. Todos os outros ficam com a certeza que há melhores sugestões no mercado à sua espera.













