O novo capítulo da série Call of Duty fica marcado pelo lançamento entre gerações de consolas. A geração anterior foi batizada por Ghosts, um título que não deixou boas memórias, por diversos motivos, mas o facto da nova geração não acrescentar muito à experiência geral. E por isso, já estava vacinado para este Black Ops Cold War, um regresso seguro ao segundo universo mais popular da série, depois de Modern Warfare.
A versão PlayStation 5 melhora obviamente a experiência do jogo em relação à PS4, mas não é um verdadeiro salto geracional. Claramente estamos a jogar um jogo de geração anterior que foi otimizado para as novas consolas. E não há nada de errado com isso, considerando que estamos perante um jogo cross-gen, em que os modos multiplayer podem ser jogados entre os jogadores de ambas as consolas.
Se optarem pela versão PS5, a utilizada nesta análise, vão usufruir da experiência com o Dual Sense, no que diz respeito ao uso dos gatilhos a disparar as armas. É uma sensação incrível sentir os coices e praticamente o peso da arma nas mãos, graças à vibração cirúrgica do novo comando. E com o mesmo comando joguei a versão PS4, e está longe de ser a mesma coisa, até porque os gatilhos adaptativos obrigam-nos a exercer mais força mediante o tipo de arma que temos nas mãos.
Mas o que tem de estranho esta versão, e preparem 250 GB de instalação se optarem por instalar tudo, incluindo a versão PS4. Aliás, é muito fácil enganar-nos e correr a versão PS4, porque esta é a adicionada na barra de atalhos por defeito. E mesmo que desinstalem esta versão, o atalho permanece. Há outros jogadores que reportaram a mesma coisa, por isso, verifiquem na barra se diz PS4, porque a versão PS5 não diz a versão. E se jogarem como eu, por engano na PS4, durante quase duas horas, os saves não são compatíveis na PS5, pelo que têm de começar de novo.
Ainda no que diz respeito a melhorias, a versão next-gen deste Call of Duty promete correr a 120 FPS, se tiverem televisões que suportem 120 Hz, claro, a 4K. Para já, parece-me que só a versão Xbox Series X já está com esta otimização. Mas não é de admirar a fluidez, porque a série sempre ofereceu 60 FPS há anos, já que o motor é leve, e este não é de nova geração. E jogar a versão PS5 usufruímos de loadings mais rápidos, melhores efeitos de reflexos e partículas, mas no geral, o jogo é o mesmo e os jogadores de PS4 não vão ficar mal servidos.
Relativamente ao jogo em si, este divide-se em quatro partes, e é mesmo o pacote geral que eleva a qualidade desta aquisição. Há a campanha narrativa, o formato clássico multijogador competitivo, a integração do battle royale gratuito Warzone, neste caso com itens especiais e Operators exclusivos de Cold War, e claro, o modo Zombies.
O regresso de Black Ops à narrativa é interessante e parece um pedido de desculpa da Treyarch, neste caso fortemente ajudado pela Raven Software, aos fãs da série, por ter descartado pela primeira vez a campanha em Black Ops 4. Os fãs não gostaram, mas o caminho futurístico que a série rumou era difícil de lhe dar continuidade.
Isto significa que Cold War encaixa-se na cronologia como sequela direta ao primeiro Black Ops, que por sua vez já era sequela de World at War. Assim, terão acesso a um elenco de personagens conhecidas como Woods, Alex Mason e Jason Hudson, num contexto histórico da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Personagens históricas como Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov estão presentes, numa narrativa baseada em factos reais. O objetivo geral é descobrir e encontrar Perseus, aquele que é referido como um espião soviético bem infiltrado na segurança nacional dos Estados Unidos, estando envolvido no Manhattan Project, ou seja, a construção de bombas nucleares.
Essa incógnita, que leva o grupo numa autêntica caça ao gambozino, é motivo para a construção de uma campanha narrativa menos linear, com elementos de investigação e até escolhas e consequências que levam a diferentes desfechos, o que incentiva os jogadores a recomeçar e a proceder a outras escolhas. É um jogo sobre espiões, por isso, há novas mecânicas interessantes, desde a ação furtiva, que incluem deteção dos inimigos, eliminá-los silenciosamente e esconder os corpos. As famosas câmaras fotográficas dos espiões são também aqui utilizadas para fazer reconhecimento dos alvos.
E até há uma missão em que os objetivos estão espalhados por um mapa fixo, com áreas privadas de segurança, e portas fechadas que devem ser abertas com gazuas. E há formas diferentes de como abordar os objetivos, lembrando bastante o Hitman.
Outra novidade é que o jogador assume uma personagem personalizada, que podem dar nome, mas será conhecido como o nome de código Bell. A ação alterna assim entre Bell, Mason e um espião infiltrado no quartel-general do KGB da União Soviética. Para além dos atributos físicos, é possível dar-lhe um background de diversos estilos de personalidade. Que na ação traduzem-se em perks específicos, desde a capacidade de recarregar rápido a arma, por exemplo.
A campanha é intensa, ainda que curta, passando por locais como a Turquia, Berlim ou mesmo Vietname, dando um cheirinho ao primeiro Black Ops. No entanto, falta-lhe verdadeiros momentos épicos que a série nos habituou. Os set pieces não são memoráveis, ainda que a presença de Woods e as suas tiradas mal dispostas sejam sempre divertidas.
Entre as missões há um centro de operações, onde são montadas as pistas recolhidas para encontrar o paradeiro de Perseus. É interessante que passados todos estes anos, a série ofereça agora uma utilidade prática para as pistas, que substituem os velhos intels, que passam por encontrar objetos, dossiers ou mesmo obter informações de inimigos interrogados.
Isso traduz-se em duas missões secundárias, que podem ter um final diferente caso decidam concluí-las sem descobrir as pistas em missões da campanha principal. E depois de encontrar as pistas, há que resolver um puzzle, que é descobrir um código e contra-senha num caso; assim como marcar três suspeitos na outra. Isto baralha de jogo para jogo, por isso, obriga os jogadores a tentarem mesmo procurar as pistas e resolver os puzzles, o que é uma novidade refrescante na série.
Além da campanha principal, estão de regresso os modos clássicos multijogador competitivos. Entre eles o Team Deathmatch, Hardpoint, Domination, Kill Confirmed, VIP Escort, Control, Free For All e Search and Destroy que dispensam apresentações na lista Core. Mas há mais modos para explorar na lista Hardcore. Quem gosta das escaramuças PVP, estes modos continuam a ser intensos e rápidos, um dos grandes catalisadores do sucesso da série.
Por outro lado, o modo Zombies que está de regresso, oferece-nos diferentes doses. É pena que a introdução cinematográfica não se traduza na melhor experiência deste modo. No modo Onslaught temos de sobreviver a vagas de zombies nos diversos locais do mapa, dentro de um círculo protetor que vai vagueando pelo cenário. É como se fosse um battle royale em que temos de permanecer dentro. Os zombies são repetitivos, mesmo os bosses e elites que aparecem esporadicamente. Mais divertido é o Dead Ops 3, um modo de sobrevivência com uma perspetiva aérea, em formato twin stick, em que vamos passando por diversos cenários interligados num mapa. No geral, Zombies continua a ser divertido, mas não acrescenta nada de novo.
Por fim, o pacote conclui-se com a integração do Warzone, o batte royale que pode ser acedido a partir do menu principal e que tem algumas armas e operators exclusivos para quem tem este novo jogo da série.
De um modo geral, Black Ops: Cold War vale pela soma de todas as partes. Queiramos ou não, oferece bastante conteúdo nos seus diferentes modos. A campanha vale pelo regresso a um universo com personagens conhecidas e algumas alterações refrescantes e com potencial, mas faltando-lhe um pouco mais de tempero, no que diz respeito às sequências. Mesmo a inteligência dos inimigos e dos nossos companheiros no geral, parece ser a mesma de há 10 jogos, sofrendo das dores típicas de um lançamento cross-gen.
Já a sensação de disparo das armas, a condução de veículos e outros brinquedos que podemos interagir durante o jogo são fantásticas. A ação é bastante sólida e consistente, sobretudo a sensação de impacto e do disparo, garantidos pelo Dual Sense na versão PS5. E faltou a ambição às equipas de produção para expandir os modos multijogador, correndo o risco de ver os jogadores a voltarem para o formato battle royale, que diga-se, é excelente. De tudo, Black Ops Cold War é uma oportunidade para revisitar os anos 1980, brincar aos espiões, e pelo meio encontrar as saudosas salas árcade, onde podemos jogar vários clássicos da Activision. Ora procurem!