Alexandre Dumas é sem sombra de dúvida um dos grandes autores da História da Literatura. Um escritor cujos influentes romances deixaram marcos para os anos subsequentes, e que até me motivou, nos últimos 2 anos, a efectuar um cosplay diário de um dos seus protagonistas. Brincadeiras à parte, um dos grandes livros clássicos que tínhamos em casa enquanto cresci é mesmo o Conde de Monte Cristo, uma história eterna que já tantas vezes foi adaptada e mote de inspiração para tantas, e tantas obras dos diversos media.

Ninguém me tira da ideia que não é um acaso o facto de Midnight Caravan se passar no período próximo da morte de Napoleão, em Roma. É que o nosso protagonista tem de se refugiar numa caravana itinerante quando o seu nome e fama são destruídos e é incriminado de um crime que não cometeu.

Esta caravana onde o protagonista encontra refúgio (e acaba eventualmente por liderar) percorre Itália num ambiente de deboche nocturno, abrigando jogo ilegal e prostitutas. A nossa vivência na caravana permite-nos definir o espírito que se vive nela: entre um espaço de aceitação ou um inferno totalitarista para a sua comunidade.

Não é por isso de estranhar que as variáveis que o nosso protagonista desta indie visual novel tem sejam fama, moedas, saúde e suspeição. Se alguma destas barras atingir qualquer um dos extremos, isso leva-nos à derrota.

É curioso que apesar de ser uma visual novel, Midnight Caravan não tem nada de linear. Ou aliás, por vezes tem mas mascara-o com uma aparente possibilidade de escolha. Este jogo é mais Fighting Fantasy na sua abordagem, e penso que a excelente direcção artística com ilustrações sépia e banda sonora com um piano que acompanha toda a narrativa ajuda a encará-lo como uma aventura em livro, mas interactiva.

As nossas escolhas importam, e vão ramificando a história, e estão muito dependentes dos valores que temos das nossas variáveis. É possível encontrarmos hipóteses bloqueadas porque não cumprimos os requisitos numéricos para as escolher. E como retrocesso existem também situações em que nenhuma escolha está disponível, e isso leva-nos à morte e ao consequente Game Over.

Há muitos elementos nas escolhas de Midnight Caravan que me parecem estar a milhas da coesão e sensação de justiça de tudo aquilo que os gigantes Steven Jackson e Ian Livingstone escreveram. Desde escolhas numa fase inicial do jogo e que nos irão impedir de o terminar a jusante do enredo.

Num jogo que assume que o vamos ter de rejogar muitas vezes, talvez pior que a ideia de chegarmos ao Game Over de forma tão simples, é a de que podemos escolher algo, e o jogo, independentemente da escolha, nos direccionar num carril para onde quer que vamos. Isso retira-nos agência e faz-nos lembrar que se há algo que Fighting Fantasy sempre nos mostrou é que as nossas acções têm consequências. E isso sempre foi mecanicamente traduzido de forma exímia em todos os livro da série.

Midnight Caravan é uma visual novel interessante, que necessitava sobretudo de ter uma revisão linguística e de uma afinação dos muitos ramos que a história vai criando, fazendo-nos sentir que as nossas escolhas não são meros fait divers, mas que têm realmente impacto.