Antes da análise um dado curioso: DiRT 5 é o 14º jogo da série Colin McRae Rally e o oitavo com o nome DiRT. O jogo foi desenvolvimento pelo estúdio de Cheshire da Codemasters, que anteriormente nos trouxe o muito pobre Onrush. No entanto, a equipa utilizou esse mesmo motor para uma verdadeira experiência de condução no asfalto. E as boas notícias é que grande parte da equipa é a mesma que trabalhou anteriormente na Evolution Studios, a mesma de MotorStorm, e é aqui que foi buscar grande parte da inspiração. 

É realmente uma pena que MotorStorm, um dos grandes jogos da PlayStation 3, tenha passado ao lado da PS4. E o novo DiRT, apesar da inspiração nas provas repletas de lama e em ambientes distintos o estúdio não oferece corridas com maior escala e liberdade da inspiração inicial. Como seria uma espécie de MotorStorm duas gerações depois do lançamento original? Essa resposta vai apenas ficar no nosso pensamento.

DiRT 5 apresenta uma espécie de um modo carreira com tom narrativo, com alguns diálogos em podcast com tom cómico entre o nosso rival Bruno Durante, encarnado por Nolan North de Uncharted, e o nosso mentor, AJ, que não poderia ser outro que não Troy Baker, de The Last of Us. A carreira coloca-nos numa série de provas distintas, entre o todo-o-terreno, pistas de gelo, mas sobretudo muita lama, neve e água. O plano de provas tem diferentes caminhos que podem escolher para avançar, ou simplesmente ir participando em todos. 

O jogo mantém o foco totalmente numa experiência arcade, frenética, e no caso desta versão Xbox Series X que serviu de teste, apresenta visuais de cortar a respiração, ainda que as primeiras provas não sejam verdadeiramente excitantes. Mas com o avançar da campanha os cenários revelam-se variados, sempre a tentar mostrar os efeitos HDR da iluminação, assim como a vaidade do ray tracing

E diga-se de passagem que as pistas são realmente dramáticas, os efeitos de lama e água a salpicar, a poeira no ar, são elementos que no fim da corrida literalmente mudam a cor do carro. Mas as deformações no asfalto são realmente muito boas. E no geral, há inúmeras partículas no ar, preenchendo a moldura de forma ainda mais especial.

Mas o que impressiona graficamente é que a cada volta da prova, as pistas vão mudando e transformando-se dramaticamente. Esta pode começar com sol, mas pode começar a chover ou a nevar, alterando por completo o ambiente do cenário. O mesmo para ciclos de dia e noite, revelando visuais impressionantes. Os efeitos de iluminação, reforçados pelo HDR tornam o ambiente mais realístico, mesmo que de forma exagerada para fazer show off gráfico. Mas os candeeiros e o fogo-de-artifício projetam luzes bastante credíveis. 

Apesar de todo o aparato gráfico, é impressionante como o comportamento dos veículos é da geração anterior, parecendo pacotes de leite a embater, ou carrinhos de choque, sem grandes penalizações nas colisões. Mesmo a Física dos elementos da pista são inexistentes, tendo chegado a bater em alta velocidade com um sinal de trânsito, num efeito semelhante ao ter batido contra um muro de concreto. 

Ainda assim os riscos e os danos das viaturas são puramente cosméticos, e não são muito surpreendentes. Já no final da corrida a quantidade de lama e sujidade dos carros torna-os praticamente irreconhecíveis! 

A variedade de traçados tem impacto direto no formato das corridas. Há provas de derrapagens em pistas de gelo, as chamadas Ice Breakers, em que o gelo parece um autêntico espelho. Depois existem provas de gincana, semelhantes aos X-Sports, em que as acrobacias, as derrapagens e os donuts fazem disparar combos de pontuação. 

Outra prova interessante são as subidas das montanhas, provas que requerem mais destreza, ao volante de veículos poderosos todo o terreno. É praticamente impossível acelerar nestas pistas, sendo como se os carros literalmente trepassem as montanhas. 

Devido ao facto da consola não ter sido lançada durante o teste, não consegui testar online, mas o jogo oferece suporte para quatro jogadores em formato split-screen, o que atualmente é algo muito raro. Por outro lado, o jogo oferece o modo Playgrounds, um editor de pistas poderoso, permitindo aceder a diferentes provas construídas pelos jogadores. Semelhante a jogos como LittleBigPlanet e Dreams, podemos dar pontuação aos trabalhos e filtrar as pistas por diferentes qualidades. Já existe mesmo uma pista inspirada nos X Games, e outras de qualidade. 

Ao avançarmos na carreira amealhamos créditos para comprar novos carros da respetiva categoria da prova. E neste caso, a Codemasters garantiu uma série de veículos licenciados de várias marcas, incluindo a Porsche, a Subaru, Aston Martin, Peugeot, entre outros, com carros clássicos ou atuais, assim como algumas máquinas que mais parecem tratores 4×4… Também ganham experiência, assim como reputação com patrocinadores, que apresentam objetivos concretos para acederem a alguns bónus, entre ficar em primeiro num número de provas ou passar tempo no ar.    

Obviamente que este DiRT afasta-se por completo das raízes de simulação dos jogos anteriores. Ainda me recordo quando se dizia que o DiRT 4 era utilizado para dar lições de transferência de peso nas curvas. O novo jogo é premir botão a fundo de travão de mão e controlar a viatura nas aparatosas derrapagens, e se possível encontrar adversários para nos aparar a queda. 

E mais que uma adaptação ao estilo de veículos, há que nos adaptar aos diferentes terrenos. E as condições meteorológicas revelam-se um adversário ainda mais complicado de ultrapassar, como a neve e a chuva cerrada, assim como o breu da noite. Ainda no que diz respeito aos cenários, de salientar a boa variedade, entre as florestas tropicais, as favelas do Rio de Janeiro, as cidades nórdicas banhadas com belíssimas auroras boreais, os traçados na china, ou mesmo o East River congelado em Nova Iorque, assim como desertos no Arizona, os eventos exóticos na China, e outros tantos locais de cortar a respiração. 

Para concluir, de notar que este Dirt 5 não é o Dirt Rally, esse sim focado na simulação de rally. Estamos perante um jogo divertido, com visuais deslumbrantes se jogarem no PC ou consolas de nova geração, mas que não acrescenta nada ao que já foi feito. Pisca o olho ao MotorStorm no geral, mas falha por completo em oferecer a mesma liberdade de pistas e emoções. Porque não colocar motas nas provas e alargar as pistas? No entanto, as provas frenéticas, os sons dos roncos dos motores e o sistema de carreira aberta, com liberdade para escolher os caminhos tornam a experiência sempre refrescante a cada nova corrida, nas diferentes disciplinas disponíveis.