Caçada Semanal #202

A maioria das pessoas que vêem Star Wars pela primeira vez acabam invariavelmente por desejar serem elas mesmas no cockpit daquelas naves. Mas eu não. Eu tenho medo de voar. Já nem tanto como há uns anos, em que um jogo de pilotagem espacial na primeira pessoa me faria ter suores frios, mas o suficiente para me lembrar da fragilidade do corpo humana em queda-livre a muitos quilómetros de altura.

Os dois jogos que trazemos hoje levam-nos para o cockpit de naves espaciais, em duas abordagens diametralmente opostas. E eu consigo jogá-los sem tremer.

X4: Foundations [PC]

Há séries de nicho com um portal de entrada tão elevado que só alguns jogadores astronautas têm vontade, tempo e engenho para se dedicarem a fundo. A série X é uma delas, uma franquia com mais de 15 anos desenvolvida pelo estúdio Egosoft que tem colocado milhares de jogadores de PC no comando de naves pela abertura do universo.

Depois de um lançamento bastante atribulado em 2013 de X: Rebirth, a Egosoft voltou no final da semana a revisitar a sua marca-bandeira com X4: Foundations, que prometiam ser mais acessível para novos jogadores, baixando substancialmente a fasquia de entrada de um jogo de simulação espacial extremamente complexo. Tenho algumas dúvidas perante esta “facilitação” da dificuldade, e após algumas tentativas inglórias de ultrapassar o tutorial, e de me ambientar devidamente aos controlos da nave.

X4: Foundations mantém a tradição da série, permitindo-nos, a partir do momento em que descolamos pela primeira vez da base, de conhecer e de criarmos o nosso caminho dentro do universo. Uma experiência aberta, onde as missões não são mais do que formas de nos aproximar ou afastar de determinada facção.

Tenho pena, porém, que a qualidade de escrita e de world-building (ou neste caso universe-building) não seja tão interessante quanto a abertura mecânica do universo. A nossa vontade de exploração acaba por ser demasiado maquinal, remetendo-se apenas a missões de transporte de mercadorias, passageiros, ou ataque a outros naves, sejam elas criminosos procurados, ou não. Os tempos de deslocação entre pontos do espaço são longos, o que implica que muitas vezes iremos estar alguns minutos a comandar a nossa nave pela imensidão das galáxias.

A outra componente interessante neste jogo na primeira pessoa é a possibilidade de complementarmos o nosso “papel” na galáxia com a construção de uma base que serve de apoio e extensão económica da nossa intervenção dentro do espaço do jogo.

Para quem já gostava da série, X4: Foundations vem tornar-se uma excelente experiência de simulação espacial, onde infelizmente o argumento não acompanha a qualidade mecânica do jogo. Para os restantes, deverá ser difícil que um jogo de nicho tão profundo, com dogfights aceitáveis, seja apelativo.

Bow to Blood: Last Captain Standing [PC, PS4, Xbox One, Switch]

Não é o título mais longo de videojogo, nem se aproxima sequer de um nome de uma música da banda Bal-Sagoth, mas Bow to Blood: Last Captain Standing começa logo com o pé direito de, apesar do comprimento, ter um título altamente esquecível.

Já jogaram Guns of Icarus Online? O jogo competitivo online que nos coloca no leme de embarcações voadoras com balões de ar quente, onde cada jogador da equipa/tripulação tinha uma tarefa específica para levar a cabo? Bow to Blood: Last Captain Standing é mais ou menos essa ideia, mas completamente diferente.

Neste jogo originalmente lançado para PSVR somos um one-man-crew apesar de termos mais dois personagens connosco, e que podemos comandar para irem para determinado posto, ou cumprirem determinada tarefa, já que, e citando-os, “foram treinados para todos os postos na nave”. A componente estratégica do jogo é mesmo essa: visto que existem muito mais sectores da nave e apenas dois personagens para o controlarem, temos que saber quando é que enviamos um personagem para os escudos, largando os drones ou os canhões, e vice-versa, mantendo sempre uma gestão em tempo real das suas acções.

Bow to Blood: Last Captain Standing é um Guns of Icarus single player e futurista, onde competimos num desporto sangrento onde temos de ser, como o título indica, o último capitão a sobreviver.

Sem grandes pretensões narrativas, e limitando-se a desenvolver uma experiência desafiante pelas suas muitas arenas, Bow to Blood: Last Captain Standing é uma aposta diferente nos jogos de pilotagem de naves, não só pela sua direcção artística, mas pelo grande equilíbrio táctico da diversão de competir virtualmente neste desporto do futuro.