
Caçada Semanal #233
Acho que como bom europeu-sensato, sou contra armas de fogo, e ainda mais contra o seu uso indiscriminado. Há poucos sítios onde acho aceitável andar aos tiros, um deles é nas atracções dos parques de diversões, nas atracções próprias, o outro é nos videojogos. E mais nada.
São precisamente nesses dois casos que os dois indies desta caçada habitam.
Bartlow’s Dread Machine [PC]

Lançado em Early Access recentemente, Bartlow’s Dread Machine conquista qualquer um pela decisão verdadeiramente original dos seus criadores em irem sorver inspiração para este delicioso twin stick shooter a um sítio onde não me lembro de qualquer outro jogo tenha ido antes.
Sabem aquelas atracções de feiras, onde temos de disparar para alvos em movimento nos carris, que são muito frequentes nos EUA? É nessas estruturas que Bartlow’s Dread Machine se inspira, e decidiu estender essa influência a um ponto em que todos os níveis são quase atracções gigantes feitas de raiz desta forma.

Bartlow’s Dread Machine fala-nos de uns EUA miniaturizados, no qual controlamos um agente secreto à procura do Presidente Roosevelt, que foi raptado. Mas tudo isto em níveis longos que são verdadeiros dioramas mecânicos que são verdadeiros elogios à tecnologia e à estética do início do Séc. XX.

Este twin stick shooter em carris – literalmente – está em Early Access mas o nível de polimento dos níveis existentes demonstram o profundo talento do estúdio Beep Games. A atenção ao detalhe de cada cenário é a jóia de uma coroa mecânica feita de metal e óleo, que o tornam um dos mais originais jogos do género que já jogámos.
Ultracore [PS4, Switch, PS Vita]

Se estão surpreendidos de verem que acabou de sair um jogo para a PS Vita, aviso já que essa nem é a maior surpresa em torno de Ultracore. É que este jogo esteve para sair em 1994 para a Mega Drive, pela mão da Psygnosis, na altura com o nome Hardcore, mas acabou por ficar no limbo do esquecimento de jogos que nunca viram a luz do dia.
Felizmente que a última década provou que existe espaço de mercado para jogos retro verem a luz do dia, e a editora Strictly Limited Games terminou a ínfima parte que faltava a Hardcore, mudou-lhe o nome para Ultracore, e lançou-a no mercado.

Ultracore tem os pontos demarcados dos shooter platformers da época: começando pela sua estética e o seu protagonista – o habitual soldado musculoso do saudosismo do Contra e do Rambo – para o level design e direcção artística entre o gritty e os elementos de destruição da guerra.
Os seus comandos são também um exemplo da construção mecânica dos jogos da altura, e o feedback entre o personagem e os nossos inputs não foram actualizados para aquilo que sabemos ser possível fazer hoje em termos de game design e programação. Mas ainda bem. Demarca o espaço temporal do jogo e permite que os fãs do retro possam encontrar mais um excelente título inédito perdido no tempo.

Ultracore tem cinco excelentes níveis e muitas boss fights, e quebra com a linearidade de muitos jogos do género de então. A sua exploração é labiríntica, vertical e horizontal.

Um pormenor irónico, é que este Ultracore não tem save states, e ao invés disso tem o velhinho e caído em desuso sistema de passwords. Continua, ainda, assim, a ser um excelente shooter platformer retro para os maiores fãs do género.













