Admito que me sinto mal em pôr em sequência dois artigos – o de ontem, sobre Mortal Rite, e o de hoje, este Sancticide, apenas porque tudo o que têm em comum é a proposta de terem uma camada rogue no seu soulslike, porque em tudo o resto estão nos Antípodas.
Sancticide é um soulslike num cenário apocalíptico inspirado no Apocalipse bíblico, e também, pelo que me foi possível descortinar, na série de livros de fantasia polacos Komornik, de Michał Gołkowski. Desenvolvido pela Red Square Games e Sylen Studio, o jogo foi lançado em acesso antecipado no Steam a 12 de fevereiro de 2025 e apesar de a apresentação do jogo ser promissora, cedo percebi que há muito de genérico, e pior, de disconexo neste Early Access. O facto de serem dois estúdios polacos formados com veteranos da CD Projekt RED, Techland, Riot Games, Flying Wild Hog, e CI Games deixou-me uma curiosidade adicional.
Em Sancticide somos Ezechiel, um Coleccionador de Pecados ao serviço de entidades divinas conhecidas como “Them at The Top”, e a nossa missão é a de erradicar o pecado e a corrupção num mundo onde o Apocalipse ocorreu de forma literal, mas não da forma como estava prevista nas Escrituras, resultando numa Terra em decadência e sofrimento contínuos. Como é que isso se traduz em andarmos de metralhadora a matar tudo o que mexe é algo que me ultrapassa, especialmente quando comecei a perceber que tanto o enredo quanto os diálogos são bastante pueris.
Se há algo pior que um diálogo confrangedor? Sim. Ter esse mesmo diálogo a ser lido de forma mecanizada e fria por IA, já que – pelo menos nesta fase – Sancticide não possui voice actors. O que me causa arrepios sempre que ouço aquela voz a acompanhar o jogo, e não pela qualidade das palavras ou interpretação, mas porque é a voz artificial que torna a desde já horrível escrita em algo pior.
Para além de muitos conceitos que parecem ter sido tirados directamente de memes da internet – e quase certamente são – o jogo apresenta um sistema de honra denominado de Kosherness, onde todos os itens e seres são categorizados como Kosher (aceitáveis para os “Them at The Top”) ou unkosher (inaceitáveis). Em teoria uma ideia semi-interessante, mas ainda mal aplicada, já que esta mecânica influencia missões secundárias, interacções com NPCs, escolha de equipamentos e até a nossa própria progressão. E para isto funcionar temos mesmo de encontrar consequências nestas escolhas, algo que praticamente não sentimos nesta fase.
Acredito que não me tornei subitamente um rei dos soulslike por andar a testar estes dois jogos, o que significa que o combate com inimigos comuns está longe dessa promessa e género. Parte disto é culpa da dificuldade em si, e a outra é do arsenal de armas sagradas de combate corpo-a-corpo e equipamentos profanos de longo alcance, assim como da capacidade de manipular o ambiente para derrotar inimigos com o uso dos Purple Powers, uma força divina que nos foi confiada.
O pior disto é que não o consigo ver como um jogo visualmente bastante genérico, com um cruzamento estranho de linguagens que colam em algo sem grande personalidade. Bem sei que ainda estamos em Early Access, mas tenho dificuldade em acreditar que os fãs de soulslike – aqueles a quem este jogo tem sido marketizado – consigam ver aqui algo mais do que um título em alpha perfeitamente banal.