Descobrir um jogo que gostamos não significa que estamos perante o melhor jogo de sempre, a grande maioria das vezes apenas significa que encontrámos algo que nos tocou por algum motivo, algo que pode ser tão simples como dar uma perspectiva diferente sobre um género mais que batido. Nice Day for Fishing faz isso mesmo. O jogo em si não tem nenhuma mecânica que seja diferente ou especial, mas a volta que deram à história, faz com que valha mesmo a pena passar umas horas com ele.

Nice Day for Fishing é um RPG onde jogamos como um NPC que após uma argolada de três outros NPCs se vê como o único com a capacidade de aceitar missões, subir de nível e lutar contra outros NPCs, já que todos os jogadores humanos foram obrigados a fazer desync e não se conseguem voltar a ligar.

Esta é a parte gira, já que o mundo funciona normalmente como um jogo. Todos sabem que estão dentro de um jogo, todos sabem que não deveríamos ser capazes de fazer o que fazemos, no entanto são obrigados a navegar com a maré, e gradualmente Baelin, o nosso personagem, vai aceitando missões que ajudam outros personagens e reconstroem a aldeia que foi destruída por um boss após ter percebido que não havia humanos para lutar contra ele.

No entanto não conseguimos deixar de ser o nosso personagem. Somos um pescador, então o que sabemos é pescar, para além disso só estamos programados para dizer 3 frases, e á apenas isso que conseguimos dizer, aliás, todos os personagens têm voice overs simples, de uma ou duas palavras, mas o suficiente para remeter para NPCs de jogos mais antigos.

O facto de só pescarmos limita um pouco a nossa acção, por isso as lutas foram incluídas na parte da pesca. Lutamos contra peixes, com power ups que podemos adicionar à nossa cana consoante os vamos obtendo. Também os materiais e poderes podem ser melhorados, para além da já tradicional melhoria das nossas estatísticas cada vez que subimos de nível. A luta contra os bosses é igual, embora, tenho de o admitir, justar isso à pescaria dá-nos um grande nó cego na credulidade, mas todo o tom do jogo é humorístico, praticamente todos os personagens nos dão vontade de rir por um motivo ou outro, o que torna irrisório ter de justificar muitas das liberdades criativas.

Mas é nesta urgência de mostrar a maneira consistente e divertida como a história foi construída que o jogo nos começa a perder, porque não nos dá pontos mortos durante horas a fio. Salvamos um personagem, procuramos outro, abrimos uma loja, vamos buscar isco, vamos para a esquerda, para a direita… enfim, uma paródia óbvia aos fetch quests, mas há aqui uma condicionante chata que é o facto de o jogo ser em 2D e se comportar como um side scroller, o que faz com que passemos imenso tempo a andar no mesmo ecrã apenas de um lado para o outro. Consoante o mundo vai crescendo a coisa não melhora, já que continuamos no mesmo ritmo, apenas temos de andar para locais mais distantes uns dos outros, e nem o facto do pixel art estar bastante cuidado, com vários planos a mexer a diferentes velocidades, e a música de tom medieval proporcionarem boa imersão são suficientes para segurar este ritmo por tanto tempo.

A somar a isso há alguns componentes de jogabilidade que podiam ser melhores. A componente de plataformas não faz grande sentido, apenas está lá, e sendo que o jogo está tão dependente da pesca, haver uma necessidade tão grande de estar no local exacto para poder apanhar alguns peixes e baús irrita, pois perdemos muito tempo a fazer micro ajustamentos de posição.

Já imaginaram o que seria um jogo se não estivéssemos lá?

O valor fundamental de Nice Day for Fishing é esta ideia, é um jogo construído em torno deste conceito, com a cereja no topo do bolo a ser o tom humorístico fabuloso e tão difícil de acertar em videojogos. Apesar de não ter nada de propriamente inovador na jogabilidade, está bastante bem construído e apetece-me dizer que é este o meu exemplo do que é ser um jogo indie. Adorei!