Culpo o Mestre Oda pela minha postura sequiosa em relação a conteúdo relacionado com piratas. E não me refiro à utilização de downloads da Somália, mas sim do facto identificável de que a série One Piece me tornou ainda mais “vulnerável” ao apelo charmoso de qualquer peça de cultura e entretenimento que tenha a pirataria como setting.

Foi uma das razões pelas quais Trident’s Tale, do estúdio italiano 3DClouds, uma aventura na terceira pessoa que nos mergulha num universo de pirataria colorido, me encantou como o canto da sereia. Mas teria sido para a minha alegria, ou para a minha perdição?

Recém-lançado em Maio de 2025, o jogo coloca-nos na pele de Ocean, uma jovem pirata determinada a resgatar o pai e a descobrir os segredos do lendário Tridente das Tempestades que dá nome ao jogo. Esta premissa simples e bastante clássica serve de ponto de partida para uma narrativa leve e fantasiosa, mais próxima de um imaginário mais juvenil do que das tensões de épicos, numa abordagem assumida e pensada para um público mais jovem ou para quem procura uma experiência mais despreocupada e “directa”. Não esperem aqui uma reflexão de Foucault ou de Bertrand Russell, obviamente, num enredo que, embora simpático, é por vezes infantil demais para jogadores mais exigentes, com diálogos extremamente básicos.

Assumo que a direcção artística é um dos trunfos mais notórios de Trident’s Tale: o mundo vibrante, colorido e quase cartoonesco, com cenários que vão de ilhas tropicais a masmorras antigas, sempre animados por uma paleta viva e personagens expressivas leva-nos para The Legends of Zelda: Windwaker, que acredito que seja uma das mais óbvias influências. 

Há aqui uma óbvia intenção de criar um ambiente acolhedor e convidativo, que contrasta com a tendência realista de muitos jogos do mesmo género, como um do qual falaremos em breve. Este ambiente mais leve é complementado por uma banda sonora simpática, que acompanha bem o tom da aventura, sem nunca criar momentos verdadeiramente memoráveis musicalmente.

Em termos de jogabilidade, o jogo mistura acção em terra com batalhas navais. O combate em terra firme que combina espadas, armas de fogo e habilidades mágicas ligadas ao tridente é muito simples e por vezes repete-se em demasia. Já a vertente náutica – por sua vez amplamente inspirada por Black Flag – leva-nos a controlar o navio, disparar canhões, manobrar entre tempestades e enfrentar monstros do mar, e é um dos momentos mais altos do jogo. A exploração, por sua vez, é outro destaque: as ilhas estão recheadas de segredos, puzzles ambientais e pequenos desafios, que podem ser ignorados mas que aqueles que procuram um bom desafio do género vão tentar resolver.

Trident’s Tale é uma aventura simpática e familiar, que acerta em cheio no tom e no espírito de exploração e que se assume como um jogo bastante acessível dentro do género de acção e aventura. Não vai redefinir expectativas nem mudar a nossa perspectiva do mundo, mas é um jogo de pura diversão e aventura, e não tem a intenção de ser mais do que isso.