
Gosto muito de jogos de corrida e é raro aquele que não peça quando tenho oportunidade. Formula Legends pareceu-me um pequeno jogo arcade muito divertido, e não me enganou, porém há alguns problemas que tenho de mencionar.
É ingrato falar dos jogos quando a versão à qual temos acesso não é a final, porque à velocidade que têm lançado actualizações há alguns problemas que podem ser corrigidos ou melhorados, mas não acredito que mude muito mais daquilo que está.
Formula Legends começou logo a colocar-me um sorriso na cara quando num dos primeiros ecrãs avisou que todos os nomes e representações eram um produto fictício, e mal vi isso percebi que seria muito fácil perceber quais seriam os pilotos e equipas representadas. Como esperava, não me enganei. É fácil perceber quais os pilotos e equipas que tentam ser representados a cada momento, e deixem aparecer mods, que seguramente aparecerão.

Num estilo gráfico que faz lembrar aguarela, com uma imagem de fundo… bem, e lado… bem, tudo o que não seja carro a aparecer muito desfocado, que após a impressão positiva inicial deixou perceber que era um recurso utilizado para disfarçar os múltiplos pop-in e também para que não se notar que quase tudo no ecrã tem um detalhe gráfico muito baixo. Nem quero falar em qualidade, mas em encaixe. Há cenário que não encaixa, programado em estilos muito diferentes um dos outros, com o expoente máximo a ser o da assistência que são bonequinhos em voxel. Nada bate certo.
Até o som corta a imersão já que os efeitos sonoros parecem iguais, independentemente da geração que escolhemos. Diferentes carros, mesmo som.
Detalhe positivo nestes aspectos mais técnicos para a evolução das pistas. Formula Legends representa diferentes eras da Fórmula 1, que vão desde os anos 1960 até quase à actualidade, com cada uma das décadas a ser dividida em 3 períodos numa representação de dar mais visibilidade a diferentes equipa e pilotos. A parte positiva é que olhamos para as pistas durante as diferentes eras e notamos quando são mais antigas ou mais modernas. Muito bom.

Claro que a maioria destes detalhes só se torna importante se a jogabilidade não for boa e, infelizmente, Formula Legends deixa a desejar nesse aspecto. Sei que ser um jogo marcadamente arcade dá uma grande margem no que toca aos controlos, mas neste jogo há pouca margem para a subtileza e finesse. Formula Legends quer ser jogado à bruta, quer seja com o acelerador e travão, que aparentam um controlo de ligado ou desligado como nos jogos da Nintendo Switch, quer no próprio curvar, momento em que parece que não conseguimos chegar a todas as posições do comando.
Aparte isso, os melhores momentos dos jogos de corridas são as ultrapassagens, e em Formula Legends são péssimas por vários motivos, o pior de todos envolvendo o facto de os carros se “colarem” uns aos outros quando se tocam. É marcadamente vantajoso bater numa parede de frente, mesmo com o dano que isso causa, que dar um pequeno toque num carro. A ajudar, os carros não se defendem no sentido que imaginamos, simplesmente mantém a sua linha, independentemente de tudo o que se passa à sua volta, e considerando que há uma noção estranha de velocidade, onde os carros do computador são muito lentos nas rectas e muito rápidos nas curvas, apenas conseguimos ultrapassar nas rectas, nas curvas mais vale nem tentar ou alguém tocará em nós e acabaremos por perder uma data de lugares.
Bandeiras azuis também são assunto tabu. A notificação delas aparece se estivermos a dobrar alguém, mas ninguém respeita. Os carros seguem a sua linha como habitualmente, e se entre os carros do computador acabam por se entender naquelas linhas perfeitas que desenham, esses momentos são mais um ponto de desvantagem para o piloto humano.

Uma coisa que gosto é as paragens nas boxes, momento em que temos intervenção activa. Há uma espécie de mini-jogo que permite torná-las mais rápidas, embora eu seja um nabo a realizá-lo, o que me levava sempre a perder tempo nas boxes. Todos os carros sofrem dano, gastam pneu e consomem combustível. Esses três elementos são repostos nas boxes, e se inicialmente apenas temos duas opções diferentes de escolha para compósito dos pneus, com o passar das décadas surgem mais opções.
Para dar mais estratégia às corridas é muito comum o tempo mudar mais que uma vez durante as mesmas, mas isso só realça o facto de os pilotos não humanos não serem muito espertos na escolha dos momentos para irem à box, sendo que acabei por ganhar uma corrida porque dos os que iam à minha frente decidiram entrar na box já na recta da meta porque tinha parado de chover.
Acresce a essas patetices, que a diferença de compósitos apenas parece influenciar a velocidade a que os pneus se degradam, e nunca me preocupei muito em trocar de pneus se percebessem que aguentavam até ao final. Não aguentarem toda a corrida é que faz muita diferença, pois mal a sua degradação chega aos 100% o carro passa a andar muitíssimo mais devagar.

Para dar algum propósito às corridas, vamos desbloqueando novos pilotos, carros e pistas consoante vamos jogando. Há desbloqueios que vemos como acontecem, outros que acontecem sem a notificação. Isso é giro.
Há algumas ajudas que podemos ligar ou desligar, bem como diferentes níveis de dificuldade. Tudo somado é perfeitamente possível adaptar o desafio a cada pessoa, contudo há uma grande assimetria na qualidade dos adversários, já que quando uma pista tem mais rectas eles são muito mais fáceis de bater que numa pista com mais curvas, o que me fez notar que no nível normal ganhava muito facilmente algumas pistas, e ficava perto de último noutras, não existindo propriamente um equilíbrio.
Por tudo isto é difícil classificar Formula Legends, especialmente sem saber o seu preço. Atentem que o jogo é divertido e até mais completo que aquilo que imaginava, mas a sua concepção apresenta falhas que são difíceis de ignorar e cortam a diversão. Qualquer preço abaixo de 15€, seja de preço final ou promoção, faz com que possa valer a pena jogar se gostam do género. Qualquer coisa acima disso e podem ficar com a ideia que o dinheiro foi mal gasto.













