Caçada Semanal #252

Muitos teorizam que já nada pode ser inventado, e que estamos apenas ciclicamente a reinventar algo no passado. Uma afirmação fatalista com o qual eu não concordo mas que tem um pequeno fundamento: é impossível não reconhecer a força de influência que as primeiras décadas da História dos videojogos têm tido em tantos jogos indie.

E é exactamente com 3 exemplos de jogos inspirados em jogos de outrora que abrimos esta Caçada.

Gravity Heroes [PS4, Switch, PC, Xbox One]

Não há ninguém que não goste de um bom shooter platformer na melhor tradição que o meu adorado Mega Man fez. O estúdio brasileiro Studica Studios sabe-o tão bem quanto nós, e por isso dedicou a sua atenção e talento a criar um jogo do género com componente cooperativa.

Nesta maravilhosa homenagem à geração de 16 bits – e que deliciosa qualidade da pixel art deste Gravity Heroes – temos um pequeno twist à mecânica base: conseguimos mudar a gravidade, transitando a batalha para cada uma das quatro arestas do nosso ecrã. 

Gravity Heroes é mais um exemplo de um jogo que se desenvolve ao longo de uma mecânica base conhecida de jogos retro, e esta mudança de gravidade acaba por ser um elemento que o distancia de tantos outros action platformers retro.

É claro que entrar no mindset da mudança de gravidade mediante os perigos que nos são apresentados não é algo imediato, mas assim que o dominamos, percebemos o entusiasmo que tem circundado em torno deste shooter cooperativo.

Citizens Unite! Earth x Space [PC, Switch]

Quando percebo que já se passaram 6 anos desde que tive contacto com Citizens of Earth pela primeira vez, um excelente JRPG que tinha tanto de diferente dentro do contexto contemporâneo que só o consigo descrever como o melhor sucessor espritual de Earthbound.

Citizens of Earth

Poucos anos depois – e muito graças ao sucesso que este indie JRPG ocidental teve – o mercado veria chegar uma sequela: desta feita já não éramos um presidente da câmara a unir-se a uma série de heróis improváveis como a senhora da cantina ou o contínuo para salvar a Terra de uma invasão alienígena. Desta feita cabe-nos a missão de salvar a galáxia no papel de um diplomata espacial.

Citizens of Space, lançado em 2019, continua a mesma tónica de imputar uma tremenda dose de comédia a um RPG, e apesar de ter falhado o seu lançamento, esta compilação recém lançado com ambos os jogos, sob o título Citizens Unite! Earth x Space é verdadeiramente obrigatória para todos os fãs de jogos por turnos.

Com a mesma lógica de ter de cumprir quests (entre muito difíceis e outras acessíveis) para recrutar as dezenas de personagens jogáveis, e ao mesmo tempo ir desbravando o hilariante enredo que acompanha os dois jogos.

Este Citizens Unite! Earth x Space acaba por ser uma das maiores homenagens aos JRPGs da era da SNES, numa colectânea brilhante que custa apenas 29,99€.

Castle Kong [PC, Switch]

Por pouco mais do valor de um menu Big Mac do McDonald’s (juro que infelizmente não estou a ser patrocinado) na Switch, e parcialmente gratuito no Steam, temos Castle Kong, a homenagem do pequeno estúdio indie Drowning Monkeys ao jogo que, diria, definiu o início da importância da Nintendo para a indústria dos videojogos.

As semelhanças são tão grandes (à excepção que no lugar do famoso canalizador temos um literal Rapaz-Pobre, e no lugar de Donkey Kong temos um rei maléfico que raptou a Rapariga-Princesa) que muitos diriam que esta é apenas uma skin do clássico jogo de arcada.

É que o estúdio Drowning Monkeys foi um pouco mais longe nesta homenagem aos tempos old school: temos de acabar os 22 níveis com apenas 3 vidas, sem continuações, sem checkpoints nem saves.

Apesar de considerar o desafio salutar e interessante, a mimetização que Castle Kong tem de Donkey Kong talvez tenha ido um pouco longe demais: a lentidão de movimentos do personagem principal é idêntico ao do clássico que faz agora 40 anos, mas que me parece que poderia ser bem mais ágil para o mindset dos jogadores dos dias de hoje.

Com diversidade de cenários interessantes e criativos em 16 bits, com uma boa utilização da pixel art, com apenas 3 vidas disponíveis fica sempre a dúvida: quão longe conseguiremos ir neste amaldiçoado castelo?