Metal. E não me refiro aos conjunto de materiais que compõem elementos químicos, ligas e polímeros. Falo do género musical, que está presente na minha vida desde mais ou menos os 10 anos de idade. Mas não é só da minha, mas de largos milhões de pessoas, um pouco por todo o planeta, que abraçaram o género como muito mais do que um estilo musical. Uma dessas pessoas é Daisuke Ishiwatari, game designer e músico criador da série Guilty Gear.

Para quem não sabe, não é só Ishiwatari que é um metaleiro, como os personagens, o ambiente e a própria música de Guilty Gear vem toda do metal. Sejam os protagonistas Sol Badguy (homenagem a Freddie Mercury, o auto-intitulado Mr. Bad Guy) e Ky Kiske (cujo nome é retirado dos dois primeiros vocalistas de Helloween, Kai Hansen e Michael Kiske), sejam muitas referências ao metal, como o Eddie, mascote de Iron Maiden, assim como os nomes dos golpes são faixas de grandes bandas de metal.

Guilty Gear nasceu na passagem da era de ouro dos arcade fighting games, mas é até hoje um dos irredutíveis na luta pela preservação do género. Uma série profícua que tem ajudado a definir a Arc System Works como uma melhores produtoras de fighting games 2D, que a melhoria crescente de ano para ano do seu talento e da sua representação de figuras que se assemelham a desenhos de animação tradicional.

Um talento que não se tem resumido a Guilty Gear, mas também a BlazBlue entre outras séries e que permitiram a total confiança da Bandai Namco para o desenvolvimento do seu Dragon Ball FighterZ

Perdoem-me o arrojo, mas diria que não existe ninguém a fazer 2D fighting games com um visual tão interessante quanto a Arc System Works, especialmente desde que a aposta e o domínio de técnicas cel-shaded lhes permitiu tornar os seus jogos uma representação perfeita do que de melhor a indústria do anime tem feito.

Aqui pelo galinheiro temos seguido atentamente cada passo dado por estes criadores japoneses, em especial as iterações de Guilty Gear que foram chegando na (já) década passada. 

Guilty Gear Strive é a nova paragem numa série que tem tido sempre um patamar de qualidade enorme em cada novo lançamento. Uma iteração que demonstra as recém-paragens da Arc System Works por outras aventuras que não são Guilty Gear. É que entre o último Guilty Gear original e este, o estúdio esteve a aventurar-se por outros jogos, mais acessíveis ao público geral, e isso nota-se na acessibilidade deste novo jogo.

Que o diga o meu filho mais velho, que jogou pela primeira vez à série com uma sessão deste Strive, e que rapidamente percebeu as pequenas nuances que Guilty Gear tem com outros arcade fighting games concorrentes.

O desafio de tornar mais acessível uma série cujo historial está mais interligado aos mais hardcore dos fãs do género não é decerto tarefa fácil. Com 15 personagens apenas (e digo apenas porque sei que mais serão adicionados mas apenas através de DLC), sendo que deles 2 são novos, Guilty Gear Strive apresenta-nos um elenco relativamente limitado em número, mas diversificado em termos de estilo de jogo.

A primeira das novas adições é Nagoriyuki, o samurai nigeriano vampiro que até agora é, para nós cá em casa, o personagem mais overpowered neste momento: com um alcance bem superior à maioria e um combo difícil de parar. A segunda é Giovanna, que ataca utilizando o lobo espiritual Rei que a acompanha, uma atacante, mais ágil, de curto alcance, com combinações rápidas. 

A depuração de muitas das técnicas avançadas permite que este Strive seja muito mais directo. De regresso estão as mecânicas de Faultless Defence (que nos permite bloquear um ataque especial sob penalização de sermos projectados mais longe) e Roman Cancelling (que nos permite cancelar a animação de um ataque para continuar a combo, gastando parte da barra de tensão).

Herdado de um local inesperado – a série Mortal Kombat – este Strive introduz a capacidade de “partirmos” o cenário e de mudarmos para outra localização, se um dos lutadores estiver “encostado às cordas” por tempo suficiente. 

O dano de cada golpe foi aumentado propositadamente. A Arc System Works quer que os novatos da série sintam alguma recompensa imediata por conseguirem acertar um golpe certeiro até no mais empedernido dos veteranos. Este aumento do dano emitido veio tornar as partidas potencialmente mais rápidas, e onde raras serão as situações em que chegaremos a um Time Out.

No modo de história somos presenteados com animações de alta qualidade, que fazem ligação directa com o visual dos lutadores em batalha. Dizer que Guilty Gear Strive é de longe o mais belo 2D fighting game com uma estética anime é um eufemismo: ver um combate a decorrer é como observar o resultado de um estúdio de animação – dos bons – a mostrarem-nos grandes sequências de luta animadas.

Guilty Gear Strive é mais do que uma excelente iteração de uma série que conta já com vinte anos e muitos títulos e spin offs à cintura: é uma maravilhosa porta de entrada que torna um dos mais ricos e complexos fighting games numa janela de acessibilidade que agarrará todos aqueles que se atrevam a conhecê-lo. Uma maravilha técnica e visual onde fazer handbanging não é apenas recomendável: diria até que é contagioso.