Até hoje não percebi o apelo que jogos como Overcooked exercem sobre tanta gente. Usualmente vejo-os como uma forma de nos chatearmos com amigos, em vez de estarmos a jogar a outra coisa que nos diverte sem corrermos o risco da noite acabar à pancada. Lumberhill parece ter perdido isso, mudando o foco da irritação para o jogo ao invés de culpar o nosso parceiro.

Lumberhill começa muitíssimo bem. O jogo é lindo, com gráficos tipo desenho animado, música divertida e a cara chapada deste tipo de jogo, os níveis parecem adequados a quem gosta de jogar sozinho, os objectivos parecem exequíveis. Nesse ponto encontramo-nos na fase de namoro com ele, nem reparamos que não encontrámos nenhum lobby aberto onde jogar, algo que atribuímos ao facto de estarmos nos primeiros níveis, certamente toda a gente está mais avançada. Nessa altura também não reparamos noutros problemas. A 2BIGo e a ARP Games agiram como ratas velhas, já que nos níveis de tutorial tudo funciona bem, mesmo bem.

Não fiquem já com a ideia que o jogo é um desastre, Lumberhill é surpreendentemente bom. Admirei-me imenso de gostar tanto deste joguinho, que não aparenta ter nada que se relacione comigo, afinal é um jogo onde temos de executar o máximo de acções no menor tempo possível. Como? Se posso explicar melhor? Posso pois! Nós somos um lenhador… e um pastor… e um bombeiro… epá, não perguntem, não é agora que os jogos vão ser obrigados a explicar todas as mecânicas, este faz parte do rol do “divirtam-se e não pensem nisso”. O jogo está dividido em vários mundos, cada cenário dividido em vários níveis, cada nível com vários objectivos, cada objectivo associado a uma pontuação e quantos mais pontos conseguirmos mais estrelas obtemos. Temos ainda um objectivo bónus que nos dá um machado (ainda perguntei se dava para ser o João, que acho super fofinho, mas disseram-me que não), sendo esse sempre acessório e usualmente difícil ou capaz de dificultar a obtenção de todos os outros.

Cada mundo tem um tema que depois é explanado nos diversos níveis a ele associados. Isso achei giro. Há que admitir que a criatividade e atenção ao detalhe quando se criaram estes níveis foi excelente. Tiro o meu chapéu a quem pensou nisto, mas nem tudo são rosas.

Quando joguei Overcooked ou mesmo Tools Up! estes apenas tinham o modo cooperativo a funcionar localmente. Lumberhill manda essa ideia às favas e desde o início que tem um modo cooperativo online. Excelente, certo? No papel sim, e provavelmente será até um sim definitivo, mas eu sou uma pessoa comichosazinha e fico sem perceber algumas decisões. Talvez para diminuir lag e permitir uma ligação estável todos os níveis são muito simplistas.

Fui sempre host de todas as sessões em que joguei e fui tendo aqui e ali gente a juntar-se aos meus jogos. Raramente tive três (admito que dei uma volta imensa ao texto só para escrever isto) pessoas a jogarem ao mesmo tempo, e quando tive reparei que estas falhavam imensos saltos. Seria do ping? Seria lag? Seria azelhice? Não faço ideia já que a mim o jogo sempre correu bem e nunca me consegui juntar a jogos de outras pessoas.

Este jogar online poupa definitivamente a confusão em casa, mas a custo de mecânicas tão simples que pouco há a comunicar aliás, o jogo é feito para se cair a meio de um nível e não ser preciso sequer falar com ninguém, mesmo numa fase mais avançada onde jogar em co-op é praticamente um requisito e não uma opção. A maneira mais usual de entrosamento é cada um fazer o seu objectivo. Pareceu-me sempre ser a maneira natural de nos organizarmos. Dava para optimizar? Sim, mas não tanto que merecesse efectivamente comunicar. Isso é inteligente, mas também um ponto negativo, pois estes são mesmo jogos para jogar com amigos e isto torna-o um pouco um jogo de duas pessoas a jogarem juntas… mas sozinhas! Qual é o problema? As pessoas entravam e saiam em apenas um nível, ou até menos.

As duas tarefas base do jogo são cortar e transportar árvores para uma serração e apanhar e transportar animais para um estábulo. Duma forma geral todas as mecânicas que vão sendo introduzidas derivam, duma forma ou doutra, destas. Não quero dizer que o jogo se torna repetitivo, não senti muito isso, mas o desenho pequeno de cada nível faz com que tudo fique atravancado no mesmo sítio múltiplas vezes, e isso leva a mini aborrecimentozinhos permanentes que se tornam frustrantes. É, por exemplo, comum apanhar o item errado. É também frequente haver um batalhão de animais acumulados num ponto que nos impede a passagem fazendo-nos perder tempo precioso. Os controlos também não são a última Coca-Cola no deserto e, mesmo considerando a minha natural inabilidade, sempre houve saltos que garanto que não deveria ter falhado. Isso torna Lumberhill um jogo que irrita por estas pequenas imprecisões e não por má comunicação ou por patetice dos nossos amigos.

Gradualmente vão sendo introduzidos elementos atmosféricos, desses realço o fogo, que realmente é um problema especialmente quando jogamos sozinhos, já que a urgência para o apagar é grande dado que pode destruir pontes que já construímos, queimar uma data de árvores, afugentar animais ou mesmo o cremar nosso boneco. O pior é quando o objectivo suplementar o envolve e aí é o cabo dos trabalhos.

O jogo é muito generoso com as recompensas que nos dá. Iniciamos o jogo apenas com dois bonequinhos, mas desbloqueamos tanta coisa a uma cadência tão rápida que, caso liguemos a isso, nos mantemos sempre entretidos. Logo por azar faço parte do grupo que se está a marimbar para essas coisas. Acho que só mesmo no Overwatch eu gosto de coleccionar skins, e mesmo aí não percebo a razão para isso, dado que nem vejo o meu boneco. Esquisitices!

O jogo tem também um modo versus. Vou contar-vos um segredo. O jogo está morto! Nunca alguém se juntou a mim para jogar um contra o outro. A meio da tarde, no pico dos jogadores, com menos de um mês de vida, tem cerca de 30 jogadores. Enquanto escrevo estas linhas, e acreditem que demoro a escrever para chuchu, deixei o jogo ligado a ver se alguém se juntava, mas fui espreitar aos Steam Charts e, adivinhem, há uma pessoa online. Quem será? Desisti e fui ver ao Youtube o que era. Aparentemente duas pessoas jogam de forma normal, outras duas são animais que os tentam atrapalhar. Admito, parece divertido.

Percebo perfeitamente o propósito de Lumberhill. É uma excelente ideia e nem está mal desenhado. Um regalo para os olhos e ouvidos, ideias interessantes num tipo de jogo que é capaz de disfarçar algumas das falhas na sua execução, mas onde o seu propósito essencial cai com estrondo pela simples razão que o jogo não ganhou qualquer tracção. Se eu tiver amigos porque é que não jogo um jogo mais refinado como Overcooked? Se não os tenho… talvez aí… admito que o jogo dá para jogar sozinho durante uns níveis, mas e depois?

Então, recomendo? Sim, mas somente se tivermos um grupo de quatro amigos que queiram o jogo e estejam todos fartos de jogar os outros jogos do mesmo género. Esse é provavelmente o espaço que arranjo para o jogo.