Caçada Semanal #162

Ah, se a Polícia dos Maus Trocadilhos (ou Maus puns, se me permitem aqui também a chalaça) ler este título é bem capaz de vir cá autuar-me por altas doses de estupidez. Mas se ainda não foram bater à porta da Casa Branca e têm razões para o fazer quase diariamente, acredito que possa passar impune.

Visual Novel Douche Peace Prize 2018.

As visual novels são assim aquele género de hiper-nicho que é altamente direccionado para quem gosta de ler. Não sabem se gostam do género e nunca experimentaram nada semelhante? Não têm à mão nada de Ace Attorney para matar a curiosidade? Então porque não uma das 3 sugestões que aqui trazemos?

Hakuoki: Edo Blossoms

“(…) ‘Cause you’re gonna see my heart breaking” já diziam os Ace of Base.

Já aqui tínhamos falado de Hakuoki: Kyoto Winds, o antecessor deste Edo Blossoms. Este jogo é aliás a segunda parte do remake do primeiro jogo de Hakuoki, a série que já conta com 17 iterações no bolso desde a sua criação. Em Edo Blossoms continuamos a seguir Chizuru, a protagonista, e o cruzamento romanceado que ele vive com personagens que pertencem à História real do Japão do Séc. XIX. Os Shinsengumi eram uma espécie de samurais/polícia especial do shogun que percorreram o Japão e que aqui nesta série Hakuoki os autores tiveram uma série de liberdades criativas ao interligarem elementos históricos com fantasia e o sobrenatural.

Como otome Visual Novel que é, o romance é o foco principal de toda a trama histórica de samurais com vampiros à mistura. Não se preocupem que apesar do tom de literatura romântica, não há aqui nada que se aproxime de Twilight ou afins. Edo Blossoms é obrigatório para quem jogou Kyoto Winds e quer saber como termina a história deste remake de Hakuoki: Demon of the Fleeting Blossom que ficou com um cliffhanger na primeira parte.

Deixemos essas conclusões para o Ministério público, pode ser?

Hakuoki: Edo Blossoms é, em conjunto com Kyoto Winds, uma excelente forma de mergulhar em visual novels, mostrando todo a solidez da Idea Factory como uma das melhores produtoras do género.

Dark Rose Valkyrie

Adolescentes heróicos genéricos nipónicos fragrância #4.

Fazendo o primeiro desvio de géneros, mas mantendo-nos na linha das criações da Idea Factory, Dark Rose Valkyrie não é uma visual novel per se, mas é algo que lhe está muito próximo. Não é necessário mergulharmos em séries muito conhecidas de JRPGs para percebermos que ao contrário da época em que quase tudo vivia à base de inspiração da Square, nos dias de hoje o género migrou para algo diferente.

Nos dias de hoje os JRPGs, dungeon crawlers e até Action RPGs japoneses de baixo a médio orçamento recorrem a uma linguagem visual novel para a componente narrativa, especialmente porque do ponto de vista de investimento é mais barato contar uma história entre as secções de combate desta forma, por muito longa que seja, do que fazê-lo com um mínimo de animação.

Armaduras são tão sobrevalorizadas.

Dark Rose Valkyrie faz isso mesmo, tentando com o a sua acção por turnos contar uma história mais pesada como a de Persona, especialmente porque a sua criação é fruto do encontro entre duas pessoas conhecidas da cultura nipónica, por um lado Kosuke Fujishima (character designer da série Tales) e Takumi Miyajima (argumentista de Tales of Symphonia and Tales of the Abyss).

Este jogo não está no mesmo patamar que a série Tales ou mesmo com a fórmula de Persona, mas para todos aqueles que têm ânsia de jogar no ocidente JRPGs com uma forte componente narrativa em visual novel, Dark Rose Valkyrie pode ser uma boa aposta, mas apenas se encontrado em saldos.

YUMENIKKI -DREAM DIARY-

Quando te lembras daquela tarde fatídica em Alcochete.

E agora para algo completamente diferente e distante das visual novels, temos YUMENIKKI -DREAM DIARY-, a versão reimaginada de Yume Nikki, um dos jogos mais profundos e conhecidos a serem desenvolvidos com o motor de RPG Maker. Este YUMENIKKI -DREAM DIARY- decide pegar nessa aura onírico e introspectiva do original e trazê-lo para um ambiente 3D.

A aposta foi arriscada, especialmente pelo respeito e o seguimento que o jogo original tem. Sem estar isenta de falhas, YUMENIKKI -DREAM DIARY- é uma excelente transposição do original 16 bits para um ambiente tridimensional que em tudo tem a ganhar com os detalhes que foram sendo implementados pela KADOKAWA CORPORATION sob a supervisão de Kikiyama, o criador original.

Vista panorâmica sobre a Damaia.

YUMENIKKI -DREAM DIARY- é sobretudo um jogo de exploração dos sonhos de Madotsuki, uma rapariga anti-social que se refugia na sua imaginação como escapismo. Cabe-nos essa tarefa, a de desvendar e descobrir o que se passa nos seus sonhos e os mistérios que o circundam. Apesar de não ter elementos clássicos de visual novel como os outros dois exemplos, e a par do jogo original, YUMENIKKI -DREAM DIARY- é aconselhado apenas para quem tem um grande foco na narrativa, já que de acção o jogo não tem nada a não ser a resolução de alguns (poucos) puzzles.

O que não lhe retira a componente verdadeiramente única de jogo introspectivo, sério e onírico, como poucos têm.