Caçada Semanal #244

Tenho andado irritado. Não acreditam? Ouçam isto. Mas nem é por isso que esta Caçada Semanal tem este título. É mesmo porque os 3 indies que trazemos trazem todos pancadaria para as nossas mãos. E às vezes só queremos mesmo extravasar a tensão do dia-a-dia.

Onee Chanbara Origin [PS4, PC]

A circular pelas consolas (e não só) há 15 anos, Onee Chanbara há de reluzir na memória de quase todos pela imagem da sua protagonista, uma mulher semi-nua com o característico chapéu de cowboy amarelo, botas de cano alto e katana na mão.

Depois de um sucesso tremendo com a sua estreia na PS2, este hack ‘n slash no qual temos de defender Tóquio de uma invasão de zombies, desfazendo-os magotes como se fossem apenas insectos aborrecidos num monte de terra.

Onee Chanbara Origin é uma reimaginação dos dois primeiros jogos, condensandos num jogo só, um remake que é, como diria o Lauro Dérmio, um tuáineuane, permitindo às novas gerações conhecerem uma série divertida, que apesar de nunca ter chegado sequer perto do sucesso de Devil May Cry, ainda tem o estatuto de culto para muitos fãs do género.

O update visual e mecânico faz estes jogos com 15 anos chegarem a 2020 perfeitamente actuais, ainda que na versão PC muitos problemas técnicos tenham ensombrado o seu lançamento.

Ainda assim Onee Chanbara Origin continua a ser um excelente jogo para os fãs de jogos de acção intensa, e para alguns deles a descoberta de uma franquia com uma longa história e que tem mantido um interesse ininterrupto no género.

No Straight Roads [PC, PS4, Switch, Xbox One]

Tirando já o elefante retrowave e cyberpunk da sala: No Straight Roads tem um estilo “do caneco”. A forma como o estúdio Metronomik conseguiu incorporar todos os clichés de uma corporação maligna que tenta dominar a sociedade mas é combatida por músicos-lutadores de rua parece uma má linha de uma série de fundo do catálogo do Netflix, mas não é. 

Apesar de toda a cidade e de toda a temática ser musical, fiquei com pena de o combate não ser ainda mais agressivamente musical em si mesmo. Cada um dos dois personagens (que podemos ir trocando a nosso bel-prazer) tem movimentos e acções diferentes, e alguns elementos de rhythm game foram implementados, mas são tangenciais. 

Ainda que o tom todo do jogo seja da corporação, materializada pela EDM, contra o rock representado pelos dois personagens, há muito que poderia ser criado para exponenciar tudo isto.

Os grandes pontos altos são mesmo as boss fights, não só pelos elementos de puzzle de descortinar os padrões e os timings de ataque, como pela sua criatividade. Só têm um pequeno grande senão: são demasiado longos, e acabam por “matar” o sentido de novidade inicial.

Mas é a direcção de arte de No Straight Roads o verdadeiro herói de um jogo que acaba por nunca se elevar muito acima do patamar da mediania.

Battle Hunters [PC, Switch, Android, iOS]

Se Battle Hunters vos parecer um jogo de mobile, não é por acaso. Com uma direcção artística que muitos (eu inclusivamente) apelidaram de datada e que relembra os RPGs da viragem do milénio, Battle Hunters, é um jogo mediano do género que esqueceram mais rapidamente do que conseguem dizer supercalifragilisticexpialidocious.

Em Battle Hunters temos 28 personagens diferentes para utilizar num jogo de estratégia em tempo real. O problema destes personagens é que notoriamente aquele esforço de equilibrar um elenco tão grande não foi feito. E há alguns notoriamente mais capacitados para a inglória tarefa de sobreviver aos sucessivos combates de Battle Hunters.

Por outro lado, quanto mais personagens “apanharmos” mais fácil o combate se torna. Se um dos nossos membros da party morrer, podemos simplesmente colocar um a substituí-lo, como quem vai ao banco num jogo de futebol chamar um suplente.

Para a forma tão clássica (no melhor e pior sentido) é-me difícil de aconselhar um jogo destes que custa 14,99€ a pessoas que não sejam verdadeiramente doidas por RPGs em tempo real com uma aura de nostalgia.