
Caça ao Indie #309
Os fãs de banda-desenhada americana que liam as produções dos anos 1990 sabem que se há algo que encapsula bem o que os autores andaram a fazer durante a década, foi a de levar tudo ao extremo. Que o digam os “desertores” que fundaram a Image Comics, cujos personagens pareciam todas visões impraticáveis e exageradas de tudo o que cresceram a ler e até a criar na Marvel e DC. O caso mais paradigmático talvez seja a de dois jovens (à altura) Rob Liefeld e Todd Mcfarlane a explicarem a um veterano criador como Stan Lee o seu processo criativo, enquanto criaram em directo num programa o personagem Overkill (que viria a chamar-se Overtkill por questões de trademark).
Os dois indies de hoje também levam tudo ao extremo, mas no caso destes, ainda bem.
Metal Tales: Overkill [Switch, Xbox Series, Xbox One, PS4, PC, PS5]

Binding of Isaac mas Metal. Ao invés de ter uma narrativa soturna à volta de elementos bíblicos, imaginem que tudo era Metal: a música, as armas, o ambiente e os inimigos. Isso é Metal Tales: Overkill, um twin stick shooter roguelike que não poderia ser mais similar à famosa criação de Edmund McMillen nem que quisesse… mas, que consegue ao mesmo tempo criar um excelente jogo, com alguma identidade própria, sobre o esqueleto daquilo que é um famoso jogo indie.
Se não perceberam ainda pelo parágrafo inicial, tudo, mas mesmo tudo em Metal Tales: Overkill está relacionado com o Metal. Seja a temática, de que os deuses do Metal (acho que por questões contratuais não são o Ozzy, o Bruce ou o Rob) e os fãs do género foram possuídos por um mal primordial e cabe-nos a missão de derrotá-los para salvar, sei lá, o Metal? Mas, como podemos imaginar, se há algo que colocamos para trás das costas num jogo destes é a narrativa, ou neste caso, a tentativa de ter uma narrativa.

Como um bom dungeon crawler roguelike, vamos de sala em sala explorando cada mapa, na expectativa de encontrar loot e upgrades à nossa guitarra – que se materializa no tipo de disparo que temos – ou em poderes activos de utilização única. E por fim, encontrar o caminho até ao boss do nível e a subsequente passagem para o próximo nível, sempre com a expectativa de chegar o mais longe possível.
Um elemento interessante deste Metal Tales: Overkill é que cada boss fight representa uma banda que nos é apresentada após a derrotarmos, e cujas músicas que acompanham a luta são produções dessa mesma banda. Um twin stick shooter a partilhar a missão do Para Cá do Abismo.

Metal Tales: Overkill é um dungeon crawler de e para metaleiros, onde o género existe em cada segundo jogo, onde as óbvias similaridades com Binding of Isaac acabam por funcionar mais em seu proveito do que como crítica à sua potencial falta de originalidade.
Turbo Overkill [PC]

Não fosse a histórica Apogee Entertainment ter vincado o seu nome na História dos videojogos com diversos FPS tais como Rise of the Triad e a versão MS-DOS de Duke Nukem II, e pouco ou nada ficaríamos surpreendidos que a novíssima aposta da editora norte-americana fosse um FPS old school altamente violento.
Lançado há dias em Early Access, a acção de Turbo Overkill (olá anos 1990!) passa-se num futuro cyberpunk possível, onde o nosso protagonista vai espalhar muitas mutilações com o seu armamento, e onde uma serra elétrica como prótese de uma perna é o instrumento de eleição para esventrar e desmembrar os adversários.

Não fosse a inspiração no período temporal e no género em questão, e rapidamente percebermos o porquê da acção de Turbo Overkill ser de alta intensidade e dinamismo, na qual estamos constantemente a saltar e a derrapar pelos níveis a tentar escapar das saraivadas de balas que nos disparam, ao mesmo tempo que tentamos derrotar os inimigos que vão enchendo os mapas.
Com alguns caminhos secretos no desenho dos mapas, que nos conduzem a armas únicas e a tantos outros momentos de acção intensos, Turbo Overkill sabe precisamente ao que vem. Pela face de um FPS extremamente violento temos ainda uns vislumbres de enredo, onde Johnny Turbo, o nosso protagonista saído dos anos 1990, tem de “limpar” a cidade de Paradise de uma série de ciborgues controlados por (surpreendam-se) uma IA que quer dominar o mundo.

Mergulhar em Turbo Overkill é também saber ao que vamos. Acção intensa, violenta e descomprometida, como os anos 1990, a mal ou a bem, nos habituaram.













