Caçada semanal #176
Para o pessoal mais novo a ideia de TV a preto-e-branco é mais ou menos o equivalente a imaginarmos os primeiros preservativos terem sido produzidos com intestinos de porco. Ou seja, uma coisa de tempos imemoriais. Mas para a malta nos trinta e quarenta é uma certeza que as TVs a preto-e-branco tenham feito parte do seu quotidiano, mesmo numa altura em que a emissão em Portugal já era a cores.
No meu caso lembro-me do verdadeiro marco familiar que foi comprar a primeira TV a cores, que era algo quase vindo do futuro. E a sorte que tive por herdar uma pequena televisão Phillips para poder ligar as minhas consolas ali na viragem da década de 1980 para 1990.
Mas apesar da minha TV ser a preto-e-branco, grande parte dos meus jogos de NES foram jogados com recurso a uma maravilha da tecnologia: um celofane verde que deu cor às muitas horas de jogatanas em minha casa.
Dois dos três indies desta semana são mocromáticos com pequeninos apontamentos de cor, e o outro é um jogo que seria impossível de jogar na minha velhinha Phillips. Especialmente se eu quisesse identificar os diversos personagens.
Dream Alone
O sucesso de Limbo (e do seu sucessor Inside) criaram quase um subgénero de jogos de plataforma que envolvem ambientes pesados e monocromáticos, e níveis bidimensionais desafiantes.
No caso de Dream Alone elevamos o monocromatismo a um ponto extremo com o jogo a ser tão escuro que temos imensa dificuldade sequer em distinguir as plataformas. Estão a ver aquele pop-up frequente dos jogos contemporâneos que nos pedem para ajustar o brilho do ecrã? Dream Alone quase que nos obriga a colocar o brilho no máximo… Não fosse isso estragar algumas mecânicas do jogo.
É que a forma de escapar a muitos dos perigos que são verdadeiros one-hit kills e que existem nas sombras é utilizarmos um recurso que se gasta facilmente: a luz para iluminar as salas.
Por outro lado é interessante a utilização de linguagem de filme antigo como espécie de filtro, puxando ainda mais pelo aspecto mais tenso do jogo. Dream Alone não é tão sólido quanto as suas inspirações, mas para quem gosta deste pseudo-subgénero é uma forma de matar saudades de puzzle platformers a preto e branco.
Muddledash
Se Muddledash fosse mais colorido seria colocado no céu quando os raios de luz solar refractassem nas gotas de chuva a pairar no ar. Muddledash é tão colorido que dizem os rumores que tem mais cores que o regurgitação de unicórnio. Este divertido party game cheio de cor e onde controlamos umas lulas coloridas com até 3 amigos vem na linha de tantos outros excelentes running platformers que têm feito as delícias do couch co-op desta década.
Assim à primeira vista temos de pensar em Runner3 mas com visual mais simples, num platformer de velocidade onde temos uma série de divertidos boosts e objectos de bónus para garantir que chegamos em primeiro lugar.
Toda a direcção artística de Muddledash é uma delícia e insere-se bem na sua jogabilidade multiplayer divertida. Para quem procura uma overdose de cor e de simpatia, este é o título indicado.
HellCat
E porque não um top down shooter minimalista e monocromático (com apontamentos vermelhos e laranjas) em que controlamos um gato pixelizado a percorrer níveis a preto-e-branco na tentativa de sobreviver a todos os inimigos?
São cerca de 10 níveis cheios de desafio a um preço pequenino. Andar a percorrer níveis onde tudo quer matar e impedir de resgatar os nossos amigos gatos que foram capturados por exércitos do Inferno.
Por 1,99€ HellCat é um divertido e desafiante twin stick shooter minimalista com muitas armas bónus para garantir que o poder do nosso felino é suficiente para mostrar que os gatos só fazem o que lhe dá na real gana. O que inclui descer ao Inferno para limpar ao tiro todos os inimigos que por lá andarem.