No meu dia a dia detesto tomar decisões importantes, no entanto nos jogos é o contrário. Gosto de abordar jogos baseados em decisões múltiplas e surpreender-me com os resultados. É pena que Yes, Your Grace intervale momentos muito bons com muitos outros que parecem somente um jogo de cara ou coroa, fazendo com que a maioria das decisões pareçam somente um momento de aleatoriedade.

Em Yes, Your Grace jogamos como Eryk, o Rei de Davern, e o nosso trabalho é gerir os recursos disponíveis consoante as necessidades de toda a gente que, a cada turno, nos aparece no castelo a pedir isto ou aquilo. O jogo tem uma história principal e muitas outras mini-histórias que podemos acompanhar no nosso arquivo. Cada decisão que tomamos fica aí registada e isso é uma boa adição ao jogo, já que dificilmente eu me conseguiria lembrar de tudo o que já tinha feito.

Súbditos ou não, todos querem o nosso dinheiro.

Temos que gerir um orçamento de ouro, mantimentos e recursos humanos que podemos ou não disponibilizar. Como em quase tudo na vida, não conseguimos tapar todos os buracos e é esse o ponto central do jogo. Em teoria temos de tomar decisões difíceis pois não podemos agradar a todos, porém o resultado das nossas decisões muitas vezes é completamente aleatório ou desproporcional e, além disso, muitos dos pedidos que nos são feitos aparentam ser mundanos retirando muito do peso de preterir uma decisão em favor de outra. É em pontos como este que a premissa do jogo cai como um castelo de cartas. Pessoalmente não encontrei uma forma inteligente de jogar. Por vezes uma decisão simples compensava largamente o meu investimento, outras vezes uma decisão importante em que salvava todo o mundo e arredores não compensava minimamente. Estes pedidos são também como side quests não mexendo nada na história principal, complementando também esse desligar entre o aquilo que eu fazia com aquilo que acontecia.

Já que falei na história principal, aproveito também para dizer que nem esta é o que promete, embora esteja muito melhor elaborada que o restante jogo. O pilar central desta é assente numa decisão que parece que não tenho hipótese de evitar e isso aborrece-me. Claro que não podemos ter infinitas linhas de decisão, e obviamente que a história tem de ter um fio condutor, mas novamente remeto para aquilo que o jogo promete em comparação com aquilo que o jogo realmente é. Na verdade, há um conjunto de eventos predeterminados que acontecem independentemente da nossa intervenção. A sério que entendo isso, mas mesmo existindo muitas decisões por explorar, e mesmo sabendo que o jogo tem múltiplos finais, fiquei imediatamente sem grande vontade de o repetir já que sabia mais ou menos o que ia acontecer.

A família é foco constante da nossa atenção.

Há também outro ponto que me pareceu muito evidente. O jogo faz o possível para nos levar para a pior opção possível, atirando-nos essa constatação logo de seguida só para nos picar. Ao longo do jogo aprendi a não atender as pessoas por ordem, porque percebi que era frequente darem-nos uma resposta a uma dúvida imediatamente a seguir a la terem criado. Era melhor já saber a resposta quando aparecesse a questão. Curiosamente isto funcionou algumas vezes.

Passamos também boa parte do jogo a tentar criar relacionamentos com outros lordes para que nos ajudem em batalha. Gostei destes momentos porque, estes sim muitas vezes envolviam decisões reais e importantes, algumas a curto, outras a médio, outras a longo prazo.

Há momentos incontornáveis dentro da história.

Algo que o jogo também faz bastante bem é mostrar a dinâmica familiar dentro da família real. Certo que muita coisa parece perfeitamente predeterminada, mas há imensos momentos ternos que realmente nos dão a ilusão que somos importantes naquela família, ou momentos engraçados que me fazem lembrar do meu dia a dia em casa a lidar com os meus filhotes.

Yes, Your Grace é um jogo muito divertido, mas não é tudo aquilo que promete. Esporadicamente vejo-o recomendado como sendo um jogo de mão cheia, mas nunca me pareceu ter todos os ingredientes para o incluir nesse saco. Certo que tem muitas coisas boas, e dificilmente daremos o nosso tempo por mal empregue ao jogá-lo, mas parece-me que é um daqueles jogos que tem de fazer clique connosco e comigo nunca chegou a fazer. Um ponto muito positivo é que está no Game Pass e, tendo o serviço, não há qualquer desvantagem em instalar e experimentar.